O Brasil patina na 103ª posição no ranking mundial de liberdade de imprensa divulgado nesta quarta-feira (26) pela ONG Repórteres Sem Fronteiras. O país ocupava a 104ª colocação no ano anterior.
Só no ano passado, foram três mortes de jornalistas em retaliação a seu trabalho, além de 72 agressões (40 delas cometidas por policiais) a repórteres durante a cobertura de protestos.
Foram mortos no ano passado:
1)
o radialista João Valdecir da Borba, 51, de São Jorge do Oeste (PR), foi assassinado em 10 de março, ao entrar na rádio. Ele tinha pedido para deixar a cobertura policial. Os outros dois jornalistas faziam reportagens sobre denúncias de corrupção de autoridades locais.
2)
João Miranda do Carmo, 54, de Santo Antonio do Descoberto (GO), foi morto em 24 de julho.
3)
Maurício Campos Rosa, 64, dono do jornal O Grito, de Santa Luzia (MG), assassinado em 17 de agosto.
Isso coloca o país, que deixou a ditadura há 32 anos, atrás de outras nações que recentemente deixaram ditaduras comunistas nos anos 1990 e depois foram devastados por guerras, como os integrantes da antiga Iugoslávia.
O Kosovo, por exemplo, saltou da 90ª para a 82ª posição em um ano, enquanto o Brasil patinou entre a 104ª, em 2016, e a 103ª este ano. Em 2015, estava em 99º lugar.
A Croácia está na 74ª posição e a Sérvia, na 66ª.
O Brasil está uma posição atrás da Ucrânia (102ª), uma ex-república soviética que viveu um conflito entre partidários da União Europeia e da aproximação com a Rússia.
O ranking de liberdade de imprensa é divulgado anualmente pela Repórteres Sem Fronteiras (RSF), cuja sede fica na França, com base em critérios como a segurança e a independência para o exercício da profissão. O país que lidera a lista é a Noruega, seguida por Suécia e Finlândia.
Em entrevista ao Buzzfeed Brasil, o diretor da RSF na América Latina, Emmanuel Colombié, listou os motivos que deixam o país estagnado na faixa do ranking considerada com "problemas sensíveis".
Para ele, há um contexto de crise política, recessão econômica e polarização política que impede o avanço da liberdade de imprensa.
"Há a violência física e verbal contra os jornalistas. No ano passado, foram três mortes e muitas agressões. Isso faz do Brasil um dos países mais violentos da América Latina, superado apenas pelo México", disse ele.
Colombié afirmou ainda que há forte pressão de autoridades locais sobre os jornalistas, além de "processos (judiciais) abusivos, com tentativas de quebra de sigilo de fontes." "É um clima de hostilidade para os jornalistas", concluiu.
E outro ponto, segundo ele, é a concentração da propriedade dos meios de comunicação.