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Antes de ser morta pelo ex com 35 facadas, Maria Julia, de 17 anos, postou: "Você tem uma vida toda"

Maria Julia namorou Jean por três anos — a relação começou quando ela tinha 14 anos, e ele, 25. Feminicídio aconteceu em pleno dia, em Ilha Solteira.

Maria Julia Martins, 17, saiu da república de estudantes em que morava e seguiu a pé para a universidade, como fazia todos os dias desde que ingressara no curso de zootecnia da Unesp de Ilha Solteira (SP). Eram quase 14h de segunda-feira (9) quando ela foi atacada na calçada pelo ex-namorado Jean Gomes Santana, 28. Ele a aguardava escondido atrás de um muro.

Foram 35 facadas diante de testemunhas que passavam pela rua. Ninguém conseguiu fazer nada. Maria Julia, que estava agonizante quando o socorro chegou, acabou morrendo momentos depois. "Ele entrou no carro e fugiu. Foi embora tranquilamente", disse o delegado Miguel Gomes da Rocha Neto.

Com a ajuda de um primo, Jean escapou do flagrante, mas acabou preso. Foi encontrado pela polícia em uma estrada vicinal que levava a uma fazenda em uma cidade próxima a Ilha Solteira, dois dias depois.

O caso gerou revolta, e o preso foi recebido com um forte protesto dos moradores na porta da delegacia. Acabou transferido para outra cidade, por segurança.

Em depoimento, Jean, lavrador, confessou o crime. "Ele foi indiciado por homicídio com quatro qualificadoras [quadruplamente qualificado]: feminicídio, meio cruel, motivo fútil e emboscada. A pena varia de 12 a 30 anos", afirmou o delegado, que ainda não concluiu o inquérito.

Ilha Solteira é uma cidade pacata de 27 mil habitantes. O campus da Unesp atrai os jovens da região. Foi o que aconteceu com Maria Julia, uma menina que gostava de sítios e cavalos em General Salgado (SP), a 115 quilômetros de Ilha Solteira.

"Quem não quer passar numa Unesp? Ela estudou em escola pública, sempre foi boa aluna. Estava muito feliz de ter entrado na faculdade. Sonhava em sair de lá já empregada, em ajudar os pais", contou Bruna Martins, 27, prima de Maria Julia.

Maria Julia namorou Jean por três anos — a relação começou quando ela tinha 14 anos, e ele, 25. Moravam em cidades vizinhas, e frequentavam a casa da família um do outro. "Eu sempre soube que ele era muito ciumento. Ela não podia dançar com os primos. Mas a gente nunca ficou sabendo nada de agressão", disse Bruna.

O rompimento aconteceu no final do ano.

"Você tem uma vida toda", dizia post de Maria Julia de um mês atrás.

Facebook: mariajulia.martins.399

Maria Julia morreu quando se dirigia para a universidade para cumprir parte da jornada integral do curso de zootecnia. Caloura, estava começando a fazer amigos na Unesp. Era tímida, não usava a piscina e, como boa parte dos alunos, adorava música sertaneja e festas do peão.

O crime chocou alunos, funcionários e professores. As aulas foram suspensas no dia e foi decretado luto. Os alunos fizeram vigília antes de Jean ser preso e, em um ônibus da Unesp, participaram do enterro da colega em General Salgado.

"Eu disse ao pai dela que gostaria de entregar sua filha numa formatura, mas que a Unesp sempre será dela. Foi a mensagem que procurei passar para ele", contou o diretor do campus, Enes Furlanes Junior.

O assassinato acendeu um alarme na universidade, que já realizou reuniões com alunos e professores para falar sobre violência de gênero e assédio. "Nós estamos em choque. Maria Julia foi morta por alguém em quem confiava. O assédio, mínimo que seja, não é bem-vindo", disse o direitor.

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