Amanda sofreu bullying a vida toda e morreu após cirurgia de redução de estômago

    Irmã da maquiadora de 19 anos contou a história de preconceito vivido por Amanda e denunciou erro médico. Cirurgião que a atendeu disse ao BuzzFeed Brasil que seguiu todos os protocolos.

    A maquiadora Amanda Rodrigues, 19, de Campos dos Goytacazes (RJ), morreu na semana passada, dias depois de passar por uma cirurgia bariátrica no Hospital Dr. Beda, nas mãos do cirurgião Gustavo Cunha Rodrigues.

    Sua família acusa o médico de ter cometido um erro. Em entrevista ao BuzzFeed, o cirurgião disse ter seguido todos os protocolos e falou que a embolia pulmonar, caso da morte de Amanda, pode ocorrer em todo tipo de cirurgia.

    A história de Amanda, contada por sua irmã Mayara Rodrigues, viralizou no Facebook. Em um relato emocionado, Mayara contou que a jovem sofreu toda espécie de bullying desde a infância e que realizou o sonho da bariátrica (gastroplastia, também conhecida como redução de estômago) no dia 17 de janeiro.

    No dia 28, com fortes dores na barrriga e de volta ao Hospital Dr. Beda, Amanda faleceu de embolia pulmonar (quando um coágulo se solta em uma veia, principalmente das pernas ou da pelve, e se aloja numa artéria do pulmão).

    Mayara acusa o médico Gustavo Cunha de ter cometido um erro, de não ter dado importância ao histórico familiar de trombose da família e de ter afirmado que a dor que Amanda sentia era psicológica. "Minha irmã estava com dor e segurava as mãos da minha mãe dizendo que a dor não era psicológica", escreveu Mayara.

    No Facebook, o relato de Mayara teve mais de 34,5 mil compartilhamentos e 121 mil curtidas. Mayara descreve como, desde os 7 anos, Amanda sofreu preconceito e chegou a apanhar dos colegas na escola.

    "As crianças da sala dela não aceitavam a minha irmã porque ela era gordinha. Amanda não podia sentar na mesma mesa das meninas na hora do lanche, não podia ser do mesmo grupo nas brincadeiras na hora do parquinho e da educação física, e muito menos conviver junto na sala de aula", escreveu Mayara.

    "E os meninos? Ah, os meninos batiam nela, por diversas vezes Amanda chegou em casa machucada, espancada, com as perninhas roxas", completou Mayara.

    Amanda participava de reuniões com pessoas que tinham interesse em fazer a cirurgia bariátrica no atendimento de psicologia da clínica Plenus, também em Campos dos Goytacazes. Foi lá que conheceu o cirurgião. Estava animada com a operação, na esperança de vestir roupas tamanho 38, teria contado ela a Mayara.

    O cirurgião Gustavo Cunha Rodrigues, 42, em entrevista por telefone ao BuzzFeed Brasil, negou que tenha errado no atendimento de Amanda. Ele disse que "a embolia pulmonar ocorre em razão de trombose e é relacionada com qualquer tipo de cirurgia, não só a bariátrica".

    "Todo o protocolo pré-operatório foi realizado. Ela passou por cardiologista, psicólogo, endocrinologista e nutricionista", disse o médico, que afirmou fazer cirurgias bariátricas há cinco anos e ter 18 de profissão.

    Segundo ele, é seu procedimento regular deixar o paciente internado por dois dias para a recuperação da cirurgia, quando lhe são aplicadas duas doses de anticoagulante. "Mesmo assim, pode ocorrer uma trombose. Amanda fez a recuperação e voltou para casa. No dia 27, foi para a emergência do hospital, com dores abdominais. Eu fui chamado por ela ser minha paciente. Nesse dia, não tinha nenhum sintoma de embolia, como falta de ar, dor torácica e cianose (pele arroxeada)".

    O cirurgião afirmou que foi chamado de novo na madrugada do dia 28, quando Amanda teve todos esses sintomas, demonstrando um quadro de embolia. Ele disse não se lembrar de, em algum momento, ter dito à família de Amanda que sua dor era psicológica.

    "Eu entendo a dor da família e me solidarizo com ela. Também sinto pela morte de Amanda e entendo que a família, quando perde alguém, busca algo para culpar", disse o médico.

    Quantro anos atrás, no mesmo hospital, outra paciente de cirurgia bariátrica de Cunha Rodrigues também morreu. Izabel Cristina Paulo Rocha, 39, morreu em novembro de 2012. Sua família fez um protesto diante do Dr. Breda, acusando erro médico. O caso não foi levado aos tribunais. Na ocasião, familiares de Izabel disseram que o médico afirmara que as dores eram mais sintomas de ansiedade do que complicações do pós-operatório.

    "Essas foram as duas únicas pacientes minhas de cirurgia bariátrica que morreram. Eu sou experiente, sou capacitado para o meu trabalho. Faço parte da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e sigo todos os protocolos", disse o médico. Ele realiza uma média de cinco cirurgias desse tipo por mês. No caso de Amanda, a operação foi feita por convênio médico.

    Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, no ano passado foram realizadas 100 mil cirurgias bariátricas no país, um aumento de 7,5% em relação ao ano anterior. De acordo com a entidade, o índice de mortes decorrentes desse tipo de cirurgia é de 0,3%, numa média de três mortes a cada mil cirurgias.




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