Em depoimento prestado nesta quarta-feira à Justiça Eleitoral, o empreiteiro Marcelo Odebrecht confirmou que esteve com o presidente Michel Temer num jantar no Palácio do Jaburu em agosto de 2014, durante a última campanha presidencial.
A informação constava na delação de um dos ex-executivos da companhia Cláudio Melo Filho que, em sua narrativa, disse que R$ 10 milhões para o PMDB foram acertados no evento.
A versão de Marcelo, no entanto, traz diferenças. De acordo com ele, o encontro com Temer serviu, em suas palavras, para um “handshake” (aperto de mãos). Ainda segundo o ex-presidente da Odebrecht, no jantar Temer não fez pedidos de doação.
A negociação de recursos teria acontecido entre Cláudio Melo Filho e o hoje ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, que queria R$ 10 milhões para financiar candidatos de seu grupo político.
Quando a delação de Melo Filho veio à tona, Padilha já refutou qualquer pedido ou recebimento de recursos irregulares.
Padilha está no centro da crise desde que o advogado José Yunes, um amigo de Temer, prestou depoimento à Lava Jato dizendo ter sido usado como "mula" por Padilha para receber recursos não-contabilizados na campanha de 2014 – corroborando a versão de Cláudio Melo Filho.
No depoimento, Odebrecht ainda falou sobre sua relação com a cúpula do governo Dilma Rousseff, em especial o ex-ministros Antonio Palocci e Guido Mantega.
Ele disse que, em sua visão, a ex-presidente sabia do esquema de financiamentos irregulares, que num primeiro momento estavam a cargo de Palocci, com contabilidade numa planilha chamada de “italiano”.
Marcelo disse que, a partir de 2011, Dilma definiu que quem cuidaria do esquema seria Guido Mantega, quando a planilha “pós-itália” foi criada.
O ex-presidente do grupo que leva seu nome ainda disse acreditar que Dilma também tinha conhecimento de pagamentos feitos pela empresa ao marqueteiro João Santana em contas no exterior. Pedidos dessa natureza foram feitos a ele por Mantega.
Ao final do depoimento, a defesa de Dilma Rousseff questionou se ele teria, no entanto, alguma prova de que Dilma sabia dos esquemas irregulares.
Marcelo destacou que esse era seu entendimento, mas que ele não poderia dar uma prova cabal.
Sobre valores relativos à campanha de 2014, Odebrecht disse que em março daquele ano o PT tinha um “crédito” de cerca de R$ 150 milhões com a companhia. O dinheiro poderia ser usado tanto para campanhas quanto para outras despesas.
Parte desse crédito teria sido originado ainda 2009, quando cerca de 50 milhões foram destinados ao PT após a aprovação de uma Medida Provisória que concedia benefícios fiscais para uma das subsidiárias da empreiteira no setor químico, a Braskem.
Como o dinheiro não havia sido usado na campanha de 2010, ele ficou como um “crédito” na empresa.
O BuzzFeed Brasil entrou em contato com os advogados da campanha de Dilma Rousseff e aguarda um posicionamento sobre o depoimento de Marcelo Odebrecht.