Um áudio anexado pela defesa da JBS na última leva de provas de seu acordo de delação premiada, na última quinta, sugere que o ex-procurador Marcelo Miller, que atuou como braço-direito de Rodrigo Janot na Lava Jato, teria oferecido facilidades ao grupo J&F, dono da JBS, de Joesley Batista.
A informação está em um ofício enviado pelo procurador-geral da República ao Supremo nesta segunda-feira (4).
De acordo com ofício enviado por Janot ao ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF, a conversa entre Joesley Batista e outro delator da JBS, Ricardo Saud, teria acontecido no dia 17 de março.
Nela, há indícios de que Miller estaria operando junto a Janot e preparando terreno para que um futuro acordo de delação da JBS fosse aceito pela PGR — o que acabou acontecendo e sendo concedido, inclusive, perdão judicial para Joesley.
A data é relevante porque, segundo Janot, as negociações para o acordo da JBS só começaram dez dias depois, em 27 de março.
O ex-procurador Miller, por sua vez, pediu o desligamento do Ministério Público Federal no dia 5 de abril. Após deixar a procuradoria, ele foi trabalhar como advogado no escritório Trench, Rossi & Watanabe, que representou a JBS em alguns processos na Justiça.
Devido a isso, Janot abriu uma investigação e ameaça cancelar os benefícios previstos no acordo de delação dos executivos da JBS, conforme afirmou em uma entrevista coletiva na tarde desta segunda (4).
Ainda de acordo com Janot, uma eventual revisão da delação da JBS não invalida as provas apresentadas pelos delatores até agora, que seguem podendo ser usadas nos processos contra políticos delatados.
Devido à investigação proposta por Janot, Miller, Saud e Joesley devem ser ouvidos nos próximos dias. Isso pode fazer com que a denúncia contra o presidente Michel Temer, que tem como base delações da JBS, seja atrasada.
Em nota, a J&F, holding que é dona da JBS, disse que o Ministério Público Federal fez uma "interpretação precipitada" que será "rapidamente esclarecida". Leia a íntegra da nota.
"A defesa dos executivos da J&F junto ao Ministério Público Federal informa que a interpretação precipitada dada ao material entregue pelos próprios executivos à Procuradoria-Geral da República será rapidamente esclarecida, assim que a gravação for melhor examinada.
Conforme declarou a própria PGR, em nota oficial, o diálogo em questão é composto de “meras elucubrações, sem qualquer respaldo fático”. Ou seja, apenas cogitações de hipóteses — não houve uma palavra sequer a comprometer autoridades.
É verdade que ao longo do processo de decisão que levou ao acordo de colaboração, diversos profissionais foram ouvidos — mas em momento algum houve qualquer tipo de contaminação que possa comprometer o ato de boa-fé dos colaboradores."