• newsbr badge

Regina Duarte deixou salário de R$ 120 mil na Globo para assumir cargo, ser humilhada e, agora, rebaixada

"Foi sem nunca ter sido".

Chegou ao fim nesta quarta-feira (20) a breve gestão da atriz Regina Duarte como secretária de Cultura do governo de Jair Bolsonaro. Durou apenas 77 dias no cargo, durou menos que os seus três antecessores na secretaria, que deixou de ser ministério no atual governo.

Regina foi rebaixada: ela deixa o cargo que define nacionalmente as políticas para o setor cultural para assumir a direção da Cinemateca de São Paulo. O anúncio foi feito pelo presidente e pela atriz em um vídeo no Twitter.

​"Vim aqui perguntar para o presidente se ele está realmente me fritando. Porque eu estou lendo isso na imprensa, que eu não acredito mais, mas, de qualquer forma, eu queria que ele me disse pessoalmente: está me fritando presidente?", pergunta Regina.

Bolsonaro responde: "Regina, toda semana tem um ou dois ministros que, segundo a mídia, estão sendo fritados. O objetivo é sempre desestabilizar a gente e tentar jogar o governo no chão. Não vão conseguir. Jamais eu iria fritar você".

Aos 17 segundos do vídeo, enquanto Bolsonaro se refere aos ministros "fritados pela mídia", a atriz olha para a câmera e dá uma piscadinha.

Sorrindo, Regina Duarte fala sobre o "presente" que ganhou do presidente, isto é, o novo cargo: "Deixa eu contar: acabo de ganhar um presente, que é o sonho de qualquer pessoa de comunicação, de áudio-visual, de cinema, de teatro. Um convite para fazer Cinemateca".

Regina Duarte relatou que sente falta de sua família, mas para que ela possa continuar contribuindo com o Governo e a Cultura Brasileira assumirá, em alguns dias, a Cinemateca em SP. Nos próximos dias, durante a transição, será mostrado o trabalho já realizado nos últimos 60 dias

Contrato com a Globo e menosprezo à tortura


Para embarcar no governo, Regina Duarte pôs fim a um contrato que tinha com a Globo desde os anos 1970. Estrela de algumas das novelas mais bem-sucedidas da emissora, como Malu Mulher (1979) e Roque Santeiro (1985), Regina tinha um contrato permanente para ficar à disposição da Globo.

No meio artístico, estima-se que tinha um salário fixo da ordem de R$ 120 mil por mês. Na secretaria de Cultura, o salário era de R$ 17 mil, segundo o portal da Transparência.

Sua gestão na Cultura não se notabilizou por resultados aparentes, mas por uma sucessão de críticas de colegas artistas, insensibilidade com as perdas de ícones da cultura nacional em meio à pandemia e enfrentamento com a ala ligada ao escritor Olavo de Carvalho.

Recentemente, Regina Duarte concedeu uma entrevista considerada desastrosa à CNN Brasil em que relativizou crimes de Estado cometidos durante a ditadura militar (1964-1985), citou Hitler e Stálin fora de contexto para assinalar que "tortura sempre teve" e menosprezou as mortes por Covid-19.

Num trecho, Regina Duarte chegou a cantarolar "Pra Frente Brasil", música tema da campanha vitoriosa da seleção na Copa de 1970, mas identificada com o período em que a ditadura embicou para o período mais feroz de perseguição, tortura e assassinato de opositores políticos.

"Não era bom quando a gente cantava isso?", perguntou ela na entrevista.

Foi interrompida pelo repórter Daniel Adjuto, que lembrou das mortes naquele período da ditadura.

"Cara, desculpa. Na humanidade, não para de morrer. Se voce falar vida, do lado tem morte. Por que as pessoas "oooh" (fazendo cara de espanto)?"

Novamente o repórter interrompe: "Porque houve tortura".

Na ocasião, a então secretária nacional de Cultura disse que não se manifestou sobre as mortes recentes de artistas como Aldir Blanc, Moraes Moreira e Flávio Migliaccio porque não queria que sua secretaria virasse "obituário".

E estrilou quando a emissora pôs no ar um vídeo em que a atriz Maitê Proença a criticava. "Vocês estão desenterrando mortos, vocês estão carregando um cemitério nas costas", reclamou Regina.

As humilhações públicas

Nas últimas semanas, Regina Duarte foi exposta a um processo de fritura pública com vazamentos de dentro do Palácio do Planalto que indicavam que ela poderia deixar o cargo.

No dia 6, quando Regina já balançava, a CNN entrevistou o ator Mário Frias, que disse que seria uma "honra" assumir o cargo, se fosse convidado por Bolsonaro. No dia seguinte, Regina esteve reunida com Bolsonaro e anunciou que ficaria na secretaria.

Ontem, dia 19, o presidente convidou Mário Frias para almoçar no Palácio do Planalto. No dia seguinte, foi anunciada a saída da atriz.

Na novela Roque Santeiro, interpretou a célebre Viúva Porcina, descrita pela obra de Dias Gomes como "a que foi sem nunca ter sido". Frias é cotado agora para o cargo.

Utilizamos cookies, próprios e de terceiros, que o reconhecem e identificam como um usuário único, para garantir a melhor experiência de navegação, personalizar conteúdo e anúncios, e melhorar o desempenho do nosso site e serviços. Esses Cookies nos permitem coletar alguns dados pessoais sobre você, como sua ID exclusiva atribuída ao seu dispositivo, endereço de IP, tipo de dispositivo e navegador, conteúdos visualizados ou outras ações realizadas usando nossos serviços, país e idioma selecionados, entre outros. Para saber mais sobre nossa política de cookies, acesse link.

Caso não concorde com o uso cookies dessa forma, você deverá ajustar as configurações de seu navegador ou deixar de acessar o nosso site e serviços. Ao continuar com a navegação em nosso site, você aceita o uso de cookies.