Apesar da publicação de três medidas provisórias do governo para atender os caminhoneiros, a paralisação nas estradas continua em vários Estados brasileiros e não há até agora garantia de que a maioria dos caminhoneiros volte ao trabalho.
No final da tarde, o diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal, Renato Dias, apresentou um power-point mostrando que não existiam mais bloqueios nas estradas, somente pontos de aglomeração, que somavam 594.
Ele ainda disse que a polícia está fazendo a escolta de caminhoneiros que querem deixar os protestos e anunciou que, até a tarde de hoje, 973 carretas haviam sido escoltadas, o que permitiu o transporte de 14,7 milhões de litros de combustível pelo país.
O problema é que o fato de não haver bloqueios não significa que mercadorias voltaram a circular normalmente.
No norte de Mato Grosso, o principal cinturão de produção de grãos do país, num espaço de 150 km entre Lucas do Rio Verde e Sinop, não havia bloqueios e o trânsito de carros, caminhonetes e ônibus estava normal, mas não havia caminhões na pista da BR-163.
Neste trecho, havia cinco aglomerações de caminhões parados em postos de combustível e acostamento. E detalhe: os caminhoneiros parados recebem apoio dos agricultores e dos moradores das cidades.
A circulação de caminhões entre os armazéns e esmagadoras de soja era zero. "O que é não é possível é o caminhoneiro carregar aqui e pegar dois aumentos de preço antes de chegar em Paranaguá (PR)", disse o presidente do Sindicato Rural de Sorriso (MT), Luimar Gemi.
Com 600 mil hectares de soja plantados no verão, o município é o maior produtor do grão no país. Segundo Gemi, os caminhoneiros não dão sinais de que o recuo do presidente Michel Temer – redução de R$ 0,46 no litro do diesel e tabela de fretes – seja suficiente.
A principal insatisfação: o barateamento por 60 dias é considerado pouco por quem ainda está nos acostamentos.
Um novo aumento de impostos
Na manhã desta segunda-feira, o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, disse que o governo pode aumentar tributos para compensar os cerca de R$ 10 bilhões que vão impactar nas contas públicas devido ao barateamento do óleo diesel.
No início da tarde foi a vez dos ministros Eliseu Padilha (Casa Civil), Carlos Marun (Secretaria de Governo) e Sérgio Etchegoyen (Gabinete de Segurança Institucional) falarem sobre a paralisação dos caminhoneiros.
Os ministros disseram que a negociação com os caminhoneiros estava encerrada e que todos os pleitos da categoria foram atendidos. Eles também denunciaram supostas "falsas lideranças" agindo politicamente entre os motoristas que estão parados e, através de ameaças, impedindo que eles deixassem os bloqueios.
O presidente da Abcam, José da Fonseca Lopes, afirmou em entrevista coletiva nesta segunda-feira que há um grupo de "intervencionistas" infiltrados na paralisação dos caminhoneiros.
Faltou ele explicar, contudo, de quem se tratava e, principalmente, se são meia dúzia de gatos pingados ou se há um número significativo de adeptos da tese da volta da ditadura militar. A informação dos "infiltrados" aparece no momento em que houve o fracasso do desfecho da greve, mesmo com os recuos do governo.
Como o movimento é horizontal e não tem uma liderança única, nenhuma associação ou entidade fala pela maioria dos grevistas.