Ainda faltam mais de dois anos para a eleição de 2022, mas o apresentador de TV e empresário Luciano Huck tem ajustado o discurso de candidato com críticas à polarização política e de Jair Bolsonaro. Na live do BTG Pactual, maior banco de investimentos da América Latina, ele pregou uma espécie de pacto social – entre "a favela e a Faria Lima" – para "recolher os cacos" e reconstruir o país.
"A gente tem como obrigação tentar transformar, as coisas não vão se transformar por geração espontânea. Elas vão se transformar se a gente conseguir engajar todo mundo, da favela à Faria Lima, do Oiapoque ao Chuí, da floresta ao Leblon", disse o apresentador. Faria Lima é o centro do mercado financeiro no país.
"O Brasil precisa encontrar o caminho da esperança (...) Vamos fazer as pessoas terem esperança de volta, botando na mesa o que esse país tem de melhor. Tem que ouvir a Central Única das Favelas e a Faria Lima, tem que ouvir o agronegócio sério do Mato Grosso do Sul como tem que ouvir as comunidades indígenas. Tem que juntar em vez de separar. Essa é a nossa grande missão: recolher os cacos, juntar e fazer o país ser o mais legal do mundo. Dá", disse.
Sempre que pôde em uma hora de conversa, ele demarcou o lugar que aparenta querer ocupar no debate: longe dos "extremos", isto é, num lugar do espectro capaz de atrair votos dos arrependidos que apoiaram Jair Bolsonaro e que tampouco suportam o PT.
"A gente não pode combater o ódio com o ódio. Se a gente entrar no campo do ódio, a gente vai sempre perder porque nós não somos isso. O Brasil não é isso, o Brasil não é um país que quer agredir e desconstruir o outro. O Brasil sempre foi o país da construção, da soma, de dar a mão um do outro", disse Huck.
"Precisamos encontrar uma narrativa que não seja dos extremos. Fica todo mundo se atacando achando que isso vai dar em algum lugar." E completou escandindo as sílabas: "Não vai dar".
O foco maior está claro na crítica ao presidente, mesmo tomando a cautela de não citá-lo pelo nome para "não fulanizar". O centro do discurso está na educação.
"Tenho rodado o mundo para ver experiências. Quando você pega um país que nos anos 1970 e 80 era corrupto, favelizado, desigual, um monte de adjetivos que você poderia pensar que eu estou falando do Brasil. Mas a Coreia do Sul tinha todas estas características na década de 80. Em 40 anos é uma potência global. Por quê? Porque tratou educação como prioridade número um de Estado", disse.
"Eu prometi que não ia fulanizar essa conversa, mas neste tema não dá: o que aconteceu na educação do Brasil no último um ano e meio é vergonhoso. É inaceitável. Educação tem que rodar acima da camada de turbulência, acima da ideologia. Educação é educação, não tem o que discutir, é professor bom em sala de aula", estocou.
É difícil saber se a candidatura de Huck é para valer. Em 2017, ele chegou a cogitar a candidatura e até chegou a ter Paulo Guedes como colaborador para a sua plataforma econômica. Mas a candidatura não se materializou.
Rosto conhecido nacionalmente graças a uma carreira de 25 anos na televisão, Huck é articulado, se comunica de um jeito fácil e tem intimidade profissional com a câmera. Mas ainda não tem um partido nem uma estrutura de apoio político em todo o país, como Bolsonaro ou o PT.
"Eu sou um privilegiado, nasci branco, numa família de classe média paulista, estudei em boas escolas. A televisão me deu o privilégio de conhecer o país em todos os seus recortes. É ir na casa das pessoas, bater papo, abrir geladeira, é ver que que está consumindo", disse, falando sobre a origem e a própria carreira.
E depois voltou-se a André Esteves: "Eu não gostaria de ter essa conversa com você quando a gente tiver 70 anos, olhar para trás e ver que todo mundo a nossa volta ficou muito rico, a gente ganhou muito dinheiro e que a gente continua vivendo num país em que a desigualdade é abissal, que a gente vai visitar alguém e passa na frente de uma favela e aquilo ser parte da cena."