Durou cerca de três horas o depoimento do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ) diante do juiz Sergio Moro, em Curitiba.
No final, Cunha leu uma carta manuscrita em que elencou as razões pelas quais, segundo ele, sua prisão preventiva não tem mais justificativa e ele, portanto, deveria ser solto.
Num dos trechos da carta, Eduardo Cunha afirmou que sofre de um aneurisma cerebral, idêntico, segundo ele, ao da ex-primeira-dama Marisa Letícia Lula da Silva, que morreu na semana passada, em São Paulo.
"Eu sofro do mesmo mal que acometeu a ex-primeira-dama Marisa Letícia, aneurisma cerebral. Aproveito até para prestar a minha solidariedade pelo passamento", disse Cunha, lendo.
Ele disse que o Complexo Médico-Penal, onde está preso desde outubro na região metropolitana de Curitiba, não tem a "menor condição de atendimento" e que é comum ouvir presos doentes gritando durante as madrugadas pedindo atenção de um médico.
A alegação da doença foi apenas um dos motivos apresentados por Cunha para pedir a libertação. Os outros foram: 1. fim da fase de instrução do processo penal a que responde; 2. inadequação de permanecer num estabelecimento penal junto com outros presos condenados por crimes violentos e; 3. a prisão preventiva não pode antecipar o cumprimento de uma eventual condenação.
O teor da carta lida por Eduardo Cunha foi fortemente político. Ele criticou o fato de empresas internacionais mencionadas por envolvimento no pagamento de propinas em troca de contratos com a Petrobras, como a Keppel Fels (de Cingapura) e a sul-coreana Samsung, não terem, segundo ele, sido penalizadas pelas práticas citadas pelos delatores.
Neste momento, Cunha adotou o tom de voz professoral do tempo em que era um dos políticos mais importantes do país para criticar o que, segundo ele, seriam "punições seletivas".
"Faço com a autoridade de quem foi responsável pelo impeachment da ex-presidente da República para defender a legalidade do nosso país", disse.
E emendou, alternando olhares para a carta que lia e na direção do juiz que o ouvia: "Não é a minha prisão que vai me impedir de expressar as minhas opiniões".
No final, Moro lembrou-o de que o então relator da Lava Jato, Teori Zavascki, manteve a prisão.
Cunha cortou o juiz, dizendo que Teori não o libertou por uma questão processual e não analisou o mérito de sua reclamação pela soltura.
Sem alterar o tom de voz, Moro atalhou o réu que o enfrentava: "Se ele [Teori] entendesse que deveria ter libertado o sr, ele teria lhe concedido a liberdade".
A defesa de Cunha afirma que não foi previamente informada da alegação do aneurisma que o ex-deputado diz sofrer.