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Ronaldo destruiu um andar em prédio de luxo para construir uma piscina de vidro

A obra jamais foi concluída, mas a vida da vizinha de baixo virou um inferno. O caso foi parar no Superior Tribunal de Justiça.

Uma cobertura no 19º andar de um prédio de luxo nos Jardins, área nobre de São Paulo. Na entrada, uma piscina de vidro com 1,5 metro de profundidade atravessa o teto, proporcionando uma vista privilegiada de quem se refresca na água.

Sem saber que era impossível, Ronaldo foi lá e tentou fazer. Deu errado.

A obra está parada por causa de uma vizinha do ex-craque da Seleção Brasileira, a corretora de imóveis chilena Marisol Zuleta Silva, 57, que mora há mais de 20 anos no 18º andar desse mesmo prédio nos Jardins.

Um dia, em 2011, ela chegou em casa e a sala estava inundada. Como o condomínio oferece serviço de limpeza diária, Marisol foi atrás de explicações.

"Perguntei a um funcionário do prédio o que estava acontecendo e ele disse: 'Isso já aconteceu na sua casa antes, a senhora não está sabendo?'. Quer dizer, minha sala ficou inundada uma vez quando eu não estava em casa e ninguém me avisou nada", ela contou ao BuzzFeed News. "Aí eu percebi o que estava acontecendo."

Era o início de uma saga judicial contra o ex-jogador, dono de duas das seis coberturas no edifício.

Até hoje, o ex-camisa 9 tenta na Justiça se livrar de uma condenação de mais de R$ 100 mil por ter causado prejuízos e transtornos durante a reforma, incluindo danos morais e terapia em razão do "pouco caso" com a vizinha de baixo.

Ronaldo é dono dos apartamentos desde que jogava no Corinthians. Em 2011, ele decidiu fazer a obra e contratou uma empresa, por R$ 470 mil, para tocar o ambicioso projeto. Foi aí que começaram os problemas.

"Ele mexeu na estrutura do prédio, tirou pilares e vigas", afirma Marisol.

"Eu tive que contratar e pagar uma empresa para dar assessoramento técnico e verificar o que estava certo e o que estava errado na obra de um cara rico e famoso que inundou o prédio", continua.

No processo, a moradora anexou dezenas de fotos dos vazamentos em seu apartamento, sempre acompanhada de uma edição de um jornal diário — para mostrar a evolução do problema ao longo do tempo.

As imagens mostram que grandes partes das lajes do 20º e do 19º andares foram destruídas — inclusive partes da malha de vergalhões que dá sustentação —, e os canos hidráulicos da obra no apartamento de Ronaldo estavam sendo instalados entre a laje e o forro de gesso no apartamento de Marisol.

Ao saber que o projeto previa uma piscina com 1,5 metro de profundidade, a vizinha ficou ainda mais preocupada. "O prédio ia cair, não tem uma estrutura preparada para aquilo", afirma.

"Quando ele viu que não tinha a parte técnica para fundamentar o que queria fazer, mudou a obra de uma piscina com 1,5 metro de profundidade para um espelho d'água com 15 centímetros."

Após cinco anos anos de processo e 2.000 folhas, Ronaldo foi condenado em 2016 na segunda instância a pagar R$ 100 mil de danos morais e R$ 38 mil pela obra feita pela vizinha, além da terapia.

"Eu fiquei sempre na minha casa — limpando, limpando, limpando — porque, se eu saísse, aí caía tudo", diz a corretora. "Fiquei sem viajar: minha mãe faleceu em 2015, fiquei muito tempo sem vê-la no Chile porque no final do ano chovia mais e mais, meu apartamento ficava alagado."

Ronaldo tenta desde o fim do ano passado que o STJ (Superior Tribunal de Justiça) aceite seu recurso. Assim foi a decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo:

Se serve de consolo para o ex-jogador, a primeira instância da Justiça chegou a determinar que a indenização fosse de R$ 240 mil — depois reduzida, na segunda instância, a R$ 100 mil.

No STJ, os advogados de Ronaldo argumentam que o valor da indenização é excessivo e acusam a vizinha de tentar enriquecer às custas do ex-jogador.

Para isso, eles comparam a indenização pedida por ela com reparações a vítimas de erros do Estado (como alguém preso por engano) ou vítima de estupro em prédio público. Essa é a tabela anexada pela defesa de Ronaldo:

Na ação, Ronaldo diz que o fato de ele ter tido "notório sucesso profissional" na carreira como atleta não pode servir de pretexto para que o tribunal determine uma indenização que destoe de casos similares de danos morais.

Marisol discorda: "O que eu vivi, não desejo para ninguém".

"Essa situação só eu compreendo, porque ninguém no prédio me ajudou, todo mundo tem medo. Eu chorava porque cheguei à conclusão: como eu vou entrar com uma ação contra um cara desses, rico e famoso, num terceiro mundo como o Brasil? Esse cara não poderia ter feito o que ele fez", afirma.

O inferno astral do ex-jogador com o apartamento virou ainda um processo dele contra a empreiteira da obra.

No meio do ano passado, o ex-jogador entrou com processo pedindo a devolução de seu dinheiro, após descobrir que, com seis anos de obra, só foi concluído 35% do projeto. Ainda não houve decisão, mas a Justiça já autorizou Ronaldo a cancelar o contrato e contratar uma nova empreiteira.

Enquanto isso, Marisol mandou consertar ao menos o gesso do teto de seu apartamento. "Uma mulher estrangeira, sozinha, lutar contra um cara rico e famoso aqui no Brasil, com todo o esquema que ele tem, não é simples", ela diz, segurando o choro. "Sou uma formiguinha lutando contra um leão."

Procurado, o escritório que representa Ronaldo na Justiça, a banca Barbosa, Müssnich e Aragão, disse que não comentaria.

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