Em 11 de julho, a vida profissional do designer Leo Neves, 35, acordou mudada. No dia anterior, sem que ele soubesse e a 11 mil quilômetros do Rio de Janeiro, onde Neves mora, Beyoncé passeou por uma praia de Cannes, na França, com uma bolsa que ele havia feito.
Em questão de horas, perfis do Instagram como o Beyoncé Fashion (67 mil seguidores) e o Style Beyoncé (33 mil seguidores), que destrincham os looks da cantora, haviam descoberto que a bolsa era da marca Wai Wai, de Neves, e compartilhado seu site, que recebia uma enxurrada de visitantes.
“A gente não sabe em qual loja que ela ou a stylist comprou. Mas compraram, porque a gente não deu”, diz ele. A marca, segundo Neves, tem como política não presentear famosas. “A gente já presenteou pessoas, mas paramos com isso. Se a pessoa gostou, tem que reconhecer também que tem gente trabalhando para fazer esse produto. Tem um artesão no Rio, outro na Bahia, o couro é feito no Sul, os pingentes e seda são feitos em São Paulo.”
Por mais que não tenha certeza, o estilista tem uma ideia de como sua criação foi parar no colo de Beyoncé. “A desconfiança é que ela comprou na Just One Eye.”
A Just One Eye é uma boutique de Los Angeles que só atende com hora marcada, um cliente por vez. Além de vender roupas, a loja também é uma galeria de arte. Uma escultura de tartaruga feita em outro com diamantes incrustados, do artista Victor Douieb, custa US$ 80 mil (mais de R$ 300 mil). “Até porque depois que saiu a foto, a Just One Eye renovou o pedido”, diz Neves.
Não foi a única loja que comprou bolsas iguais à de Beyoncé. Corre na boca miúda do mercado da moda nacional que a foto fez a marca vender, em uma semana, 300 bolsas iguais. Leo diz que há uma inflação no número dessa lenda urbana. “Aumentou bastante a venda, consideravelmente. Não sei dizer se foram 300, mas poucos dias depois tinha aumentado muito.”
Para se ter uma noção do efeito Beyoncé: cada bolsa Balaio custa de R$ 1.650 a R$ 1.750, dependendo do tamanho e da cor. Se eles venderam 200 bolsas por causa de Queen B, são R$ 340 mil. No dia da entrevista, todas as bolsas do site estavam esgotadas. “Eu não tenho acompanhado isso”, diz Neves. Desde então, a loja virtual já foi reabastecida.
“Agora que ela usou mais gente vai vir atrás”, diz Neves, que antes de ter sua própria marca de acessórios era o stylist responsável por vestir celebridades como Caetano Veloso, Preta Gil e Regina Casé. “Inclusive hoje teve uma atriz brasileira que entrou em contato para comprar a bolsa igual, só que de cor diferente.”
Sucesso = cópias
Mas a conquista teve um lado negativo: começaram a pipocar na internet cópias da bolsa, anunciadas como “a bolsa da Beyoncé”. Os preços, de R$ 200 a R$ 350, são bem menores do que os da original. Leo Neves, entretanto, afirma não ter planos de correr atrás de falsificadores. “O melhor é focar a energia em nossos novos desenvolvimentos.”
Além de focar nos produtos, o estilista acredita que o momento seja oportuno para aumentar sua presença internacional. “A gente já fazia showroom em Paris e em Nova York para mostrar nossos produtos para compradores estrangeiros. E já vende em pontos muito importantes em todos os continentes, menos a África. Mas vejo possibilidade de crescer.”
E há a possibilidade de outro artista desse calibre aparecer com um produto dele? “Antes da Beyoncé, a Dua Lipa usou. Ela estava usando uma das bolsas. E eu já tinha ficado super feliz”, diz o designer.
“É capaz que um raio caia duas vezes no mesmo lugar.”