• newsbr badge
  • Coronavi­rus Brasil badge

Qual é o problema, afinal, de ir à praia ou ao parque? Perguntamos a seis especialistas.

Fotos de grupos de pessoas na praia ou em parques viralizaram, alimentando a raiva daqueles que estão se mantendo o máximo possível em casa.

Em um fim de semana em que, segundo o governador do estado, mais de 500 nova-iorquinos morreram de coronavírus, milhares de pessoas foram a parques públicos para aproveitar os primeiros dias quentes da cidade depois de algum tempo.

Com a maioria dos nova-iorquinos em isolamento há mais de dois meses, famílias e amigos já eram vistos aproveitando o ar livre e fazendo piqueniques, enquanto outros tomavam sol na grama.

Mas várias fotos viralizaram no fim de semana, mostrando multidões de pessoas sem máscara que se aglomeravam nos parques do Christopher Street Pier em Manhattan, num aparente desafio ao distanciamento social.

it has been nothing short of an honor to have stayed inside for 8 weeks for these amazing people in the west village today <3

Christopher Street Pier - 4:48pm. Not sure if the message is getting through.

Naturalmente, é importante lembrar que algumas fotos de multidões podem ser enganosas. Na verdade, as fotos tiradas pelo Gothamist pareciam mostrar, pelo menos, alguma distância entre algumas das pessoas no Christopher Street Pier.

Mas as fotos que viralizaram — bem como imagens de grandes grupos de pessoas em praias na Flórida e na Califórnia nas últimas semanas — alimentaram a raiva de pessoas que estão fazendo seu melhor para ficar o máximo possível em casa.

Alguns especialistas disseram ao BuzzFeed News que também ficaram preocupados com a aparente multidão de pessoas sem máscaras.

"As imagens de nova-iorquinos próximos uns dos outros em parques, sem máscara, são muito preocupantes", disse Vincent Racaniello, professor de microbiologia e imunologia na Universidade de Colúmbia. "Eles deveriam manter a distância social ou, pelo menos, usar máscara."

"Estou muito preocupado com eles", disse Aaron Glatt, um médico no hospital Mount Sinai South Nassau e um porta-voz da Sociedade de Doenças Infecciosas da América (IDSA). "Se as pessoas não mantiverem distanciamento social nem usar máscara de forma adequada, infelizmente veremos um ressurgimento dessa doença."

O BuzzFeed News perguntou a seis médicos, cientistas e especialistas em saúde pública se eles iriam a um parque aberto ou uma praia com suas famílias — e que precauções eles tomariam se fizessem isso.

POSSO IR A UM PARQUE OU UMA PRAIA, DESDE QUE EU FIQUE A DOIS METROS DE OUTRAS PESSOAS?

Rosie Redfield, microbiologista do Departamento de Zoologia da Universidade da Colúmbia Britânica: Eu tenho pensado muito nisso. ... A 2 metros de distância, ao ar livre, a única preocupação real é com o risco de inalar partículas respiratórias secas (núcleos de gotículas) que transportam vírus infecciosos. Elas flutuam no ar (não caem) e são produzidas quando uma pessoa infectada tosse ou espirra, mas também quando grita ou até fala mais alto. A distância de 2 metros dá tempo e espaço para as gotículas maiores que ainda não secaram caírem no chão, bem como bastante volume de ar para as partículas secas se dispersarem.

Amesh Adalja, médico de doenças infecciosas e pesquisador sênior do Johns Hopkins Center for Health Security: Para quem está nos grupos de alto risco ou em contato com grupos de alto risco, a tomada de decisões pode ser diferente de quem não está. Acho que não existe uma decisão que se aplique a todas as pessoas.

Susan Kline, professora de medicina da Divisão de Doenças Infecciosas e Medicina Internacional da Universidade de Minnesota e outra porta-voz da IDSA: Bem, para mim, se as pessoas ficam muito perto umas das outras, há potencial para a disseminação do coronavírus. Acredito que, ao sair em público, pode haver formas seguras de fazer isso e formas inseguras de fazer isso.

Acho que devemos ter em mente essa distância um tanto arbitrária de 2 metros. Mas acho que, quanto maior a distância além dos 2 metros, é definitivamente mais seguro para as pessoas. Então, penso que o distanciamento é uma das medidas que pode ajudar.

Acho que outra medida que pode ajudar é limitar o tempo que você fica a menos de dois metros de outras pessoas.

Gerardo Chowell, professor de epidemiologia da Escola de Saúde Pública da Universidade Estadual da Geórgia: Não vejo problema em ir ao parque, mas você precisa se planejar e tomar cuidado.

Precisamos desse momento para ir ao parque e fazer uma caminhada; caso contrário, começarão a surgir problemas de saúde mental. Mas podemos fazer isso de formas que não são difíceis. Trata-se de estar consciente de que esse vírus gera condições assintomáticas e nunca baixar a guarda.

Com tempo muito quente, o ambiente oferece baixíssimo risco. É claro que, se quiser reduzir ainda mais o risco, você terá de usar uma máscara.

VOCÊ LEVARIA SUA FAMÍLIA A UMA PRAIA OU UM PARQUE?

Glatt: Eu só iria com minha família a um lugar onde pudesse manter o devido distanciamento social. Uma caminhada no parque, uma caminhada na rua, é uma ótima forma de passar tempo com a família, tomar ar fresco, fazer exercícios, mas um grande "porém" é que isso deve ser feito de forma socialmente responsável.

Não vou fazer isso se vou ficar perto de muita gente e, com certeza, não vou fazer isso se for ficar perto de pessoas sem máscara.

Eu até tento ficar mais longe que isso, mas certamente um mínimo de 2 metros. Eu tento ficar o quanto for apropriado.

Quando faço uma caminhada com minha esposa e vejo pessoas que conheço do outro lado da rua, continuamos do outro lado da rua e acenamos. Não tentamos nos aproximar.

Adalja: Sim, desde que nenhum deles tenha algum tipo de problema de saúde que os deixe vulneráveis nem fiquem perto de pessoas com problemas de saúde. As pessoas precisam ser cuidadosas e usar de bom senso.

Redfield: Sim.

Chowell: Eu levaria, sim — com as devidas precauções. Se esperasse ver outras pessoas lá, eu me certificaria de levar uma máscara. Não seria a melhor das diversões. Eu faria uma caminhada no parque, mas não ficaria muito tempo lá — eu faria uma caminhada de 30 minutos e depois voltaria. Provavelmente, esse é o tipo de ida ao parque que eu daria.

EM QUE SITUAÇÃO O AMBIENTE FICARIA LOTADO DEMAIS PARA VOCÊ SE SENTIR DESCONFORTÁVEL?

Adalja: Como eu sou um médico de atendimento clínico especializado em doenças infecciosas, eu cuido desses pacientes e me exponho em um grau maior que a maioria das pessoas. Assim, tenho alta tolerância a riscos. Acho que devo ter os anticorpos porque já atendi muitos pacientes. Então, acho que varia de pessoa para pessoa, e a tolerância a riscos de cada pessoa é diferente.

Redfield: Pensando de forma racional (não "emotiva"), o risco de infecção em um parque seria maior se: a) o parque estivesse lotado de pessoas, todas exatamente a dois metros de distância; b) o ar estivesse parado (sem vento para dispersar as partículas); e c) a incidência de infecções ativas por COVID-19 em minha comunidade fosse alta. Se tudo isso fosse verdade, eu ficaria em casa.

Kline: Neste fim de semana, eu saí sozinha e fui para a ciclovia em Minneapolis–Saint Paul, e havia muitas pessoas caminhando ou andando de bicicleta. Eu vi algumas pessoas nas praias do rio Mississippi, mas acho que, quando você está em uma ciclovia, precisa passar perto das pessoas.

Duas coisas que você pode fazer é reduzir esse tempo de contato ao mínimo possível e usar uma máscara quando precisar passar por alguém.

Eu notei que, em alguns dos parques aonde fui, havia pequenos grupos de pessoas juntas, provavelmente grupos de parentes ou amigos íntimos, mas na maioria das vezes eram algumas pessoas ou pequenos grupos, então acho que esse tipo de encontro é aceitável, desde que você fique de 2 a 3 metros de distância de outros pequenos grupos.

Chowell: Você pode colocar um pedaço de tecido ou corda no chão para marcar seu espaço. ... Marcar seu espaço é mais importante do que nunca, e respeitar outros espaços é igualmente importante. Usar uma máscara também é um sinal de respeito pelos outros.

VOCÊ USARIA MÁSCARA?

Racaniello: Eu certamente iria a um parque ou uma praia se não ficasse preso ao meu computador sete dias por semana!

Eu garantiria que todos usássemos máscara. De máscara, você pode se aproximar das pessoas (o que pode acontecer acidentalmente) sem correr o risco de infecção. Caso contrário, mantenha 2 metros de distância!

Chowell: Se eu sou de um grupo de alto risco, devo estar usando uma máscara. Eu posso encontrar alguém. O que eu vou fazer? Começa a correr?

É óbvio que, se houver muitas pessoas no parque, você deve levar uma máscara, porque não pode controlar seu espaço o tempo todo. As pessoas podem entrar no seu raio de 2 metros. Se estiver lotado e você quiser ir ao parque mesmo assim, leve sua máscara. Não existe outro jeito.

Se não estiver lotado e você for caminhar em volta do parque, provavelmente não haja problema [em ficar sem máscara]. Mas, se você quiser ir ao parque e se encontrar com pessoas que não moram em sua casa, então deve usar uma máscara, especialmente se for gastar um bom tempo conversando.

Adalja: Muitos desses lugares têm os próprios regulamentos, e acho que isso depende do regulamento. Obviamente, se é propriedade privada e você está em um parque ou praia particular e esse é o requisito para entrar, acho que você deve usar máscara.

Mas, num mundo ideal, se você não ficar a menos de 2 metros de outra pessoa, não necessariamente terá de usar uma máscara. Eu diria também que não há dados consistentes que mostrem que o uso de máscaras realmente diminui a transmissão, em especial as máscaras caseiras que as pessoas estão usando. Não sou tão a favor da política de máscaras. No entanto, acho que é algo que foi universalmente aceito por muitas pessoas.

Redfield: Eu odeio máscaras (talvez irracionalmente); a maioria não oferece muita proteção contra infecções e, se oferecer (bem projetada, bem ajustada), será quente e abafada de usar. Se o risco de infecção fosse alto o suficiente para justificar o uso de máscaras, eu provavelmente ficaria em casa. Também não estou convencido de que elas forneçam muita proteção contra a disseminação do vírus se você estiver infectado (um espirro ou uma tosse passa diretamente através delas).

Kline: Se você estiver no meio de uma multidão em um espaço em que não pode se distanciar, use uma máscara e, em um mundo ideal, todos devem usar máscara para minimizar a disseminação.

VOCÊ IRIA OU NÃO A UM PARQUE OU UMA PRAIA EM DETERMINADOS DIAS OU HORÁRIOS?

Adalja: Se você está tentando manter o distanciamento social e quer ir à praia, se você vai em horários em que ela está menos lotada, isso sempre facilita o distanciamento social.

Redfield: Eu iria em qualquer horário.

Kline: Eu acho que minimizar os horários de pico provavelmente é mais seguro — ir quando há menos chance de haver multidões que obriguem você a manter um contato mais próximo com outras pessoas.

Glatt: Certamente é apropriado, sempre que você sai, evitar contato com outras pessoas ao máximo possível. Então, eu não ficaria em uma área onde se sabe que está muito lotada. Isso não faz sentido. As pessoas estão se esforçando tanto para se isolar que seria uma pena estragar isso.

Chowell: Tente ir em horários em que não espera ver o pico de atividade, definitivamente. Talvez mais cedo ou no final do dia.

VOCÊ ENCONTRARIA AMIGOS NO PARQUE SE PUDESSE MANTER UMA DISTÂNCIA DE 2 METROS?

Adalja: Sim, acho que não há nenhum problema nisso.

Redfield: Sim.

Glatt: Com certeza. Com certeza. Mas é preciso fazer do jeito certo. Eu visito meus filhos e netos. Nós ficamos a 3 ou 4 metros de distância uns dos outros e interagimos por um curto período dessa maneira.

Kline: Eu acho que é sempre mais arriscado encontrar alguém fora de um grupo familiar. No momento, se as pessoas estão se abrigando em casa, você está se abrigando com sua família ou colega de quarto, ou algo assim, então você provavelmente sabe se a outra pessoa está saudável ou não. Mas, ao combinar de encontrar amigos desse jeito, você meio que não sabe muita coisa sobre essa pessoa, então acho que é uma situação mais arriscada.

Eu vi pessoas fazendo isso e até entendo porque sei que as pessoas estão perdendo essas conexões humanas e precisam ver seus amigos por motivos de saúde mental, mas acho que, se você vai fazer isso e não tem certeza de que todo mundo está livre de COVID, então é melhor manter essa distância e usar máscara.

Caso contrário, acho que essas reuniões sociais, como ir a um piquenique com quatro amigos reunidos, poderia colocar esses grupos em risco.

DEVO ME PREOCUPAR COM ESSAS FOTOS DE PESSOAS LOTANDO PARQUES E PRAIAS?

Adalja: Acho que chegamos a um ponto em que as pessoas estão xingando aqueles que não seguem as normas de distanciamento social. Há uma tendência de as pessoas assumirem comportamentos constrangedores que podem não ser justificados.

Acho que vamos passar por esse ciclo em que as pessoas são humilhadas por não seguirem o distanciamento social e acho que isso será um efeito colateral lamentável. A única coisa que podemos fazer é explicar às pessoas que esse vírus não vai a lugar algum. Ainda precisamos ser inteligentes, mas, agora que estamos em uma situação um pouco melhor do que há dois meses, vamos ver a percepção de risco das pessoas mudar.

Chowell: Acho que esse definitivamente é um motivo para me preocupar por causa da quantidade de mortes causadas por um vírus em apenas algumas semanas e do fato de que a epidemia não está nem perto de terminar. O vírus ainda está na maior parte do país. Essa é a realidade. Com certeza, é irritante e desrespeitoso para todas as pessoas que ficaram em casa e fizeram a lição de casa e seguiram os protocolos. Essas fotos são um sinal de desrespeito à sociedade e definitivamente é decepcionante — em especial para os mais vulneráveis, para aqueles que correm alto risco de morte.

Devido a esse pequeno grupo de pessoas que, por algum motivo, ainda não foram conscientizadas sobre esse vírus, podemos desperdiçar todo o progresso feito até agora.

Kline: Não sei se vale a pena ficar com raiva. É válido expor suas preocupações e, se for algo que vai colocar outras pessoas em risco, deve ser uma preocupação válida expor isso publicamente.

Mas acho que ficar com raiva, repreender as pessoas ou envergonhá-las não ajuda em nada. Não acho que isso mude comportamentos.

Penso que reforçar o que devem ser as diretrizes de distanciamento social seguro é um exercício que vale a pena. Deve haver padrões e expectativas claros.

Este post foi traduzido do inglês.

Utilizamos cookies, próprios e de terceiros, que o reconhecem e identificam como um usuário único, para garantir a melhor experiência de navegação, personalizar conteúdo e anúncios, e melhorar o desempenho do nosso site e serviços. Esses Cookies nos permitem coletar alguns dados pessoais sobre você, como sua ID exclusiva atribuída ao seu dispositivo, endereço de IP, tipo de dispositivo e navegador, conteúdos visualizados ou outras ações realizadas usando nossos serviços, país e idioma selecionados, entre outros. Para saber mais sobre nossa política de cookies, acesse link.

Caso não concorde com o uso cookies dessa forma, você deverá ajustar as configurações de seu navegador ou deixar de acessar o nosso site e serviços. Ao continuar com a navegação em nosso site, você aceita o uso de cookies.