O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) invadiu nesta quarta (7) a fazenda Esmeralda, em Duartina (SP), que pertence ao coronel aposentado João Baptista Lima Filho, amigo do presidente da República, Michel Temer (MDB). É a terceira vez que o movimento invade a fazenda — as outras foram em maio de 2016, quando o emedebista assumiu a Presidência, e em julho do ano passado.
O ato ocorre após uma reportagem do jornal O Globo ter revelado que Ricardo Saud, ex-executivo da JBS, prestou depoimento à Polícia Federal e disse que a propriedade rural pertenceria, na verdade, ao próprio presidente Temer.
Segundo Saud narrou aos investigadores, o deputado federal Paulinho da Força (SD-SP), aliado de Temer, disse a ele que o coronel Lima é laranja do presidente. O ex-diretor da JBS afirmou que Paulinho teria sido procurado por Temer para ajudar a resolver a situação em uma das vezes em que o MST invadiu o local.
"Inclusive Paulinho da Força disse ao depoente [Saud] que Michel Temer havia lhe telefonado solicitando auxílio quando da invasão da fazenda em questão pelo Movimento dos Sem Terra, ocasião em que Michel Temer teria dito que a fazenda de um 'amigo' havia sido invadida e que necessitava de ajuda de Paulinho da Força para sua desocupação", registra o depoimento.
Ainda de acordo com Saud, Paulinho disse ter entrado em contato com José Rainha, um dos líderes do MST, e intercedido. "[Saud] Tem conhecimento que o problema foi resolvido e a fazenda desocupada, inclusive conforme divulgado pela imprensa", afirma o documento da PF.
A Polícia Federal tenta ouvir o coronel Lima há nove meses, sem sucesso. O depoimento seria prestado no âmbito do inquérito que investiga possíveis irregularidades no setor portuário, especificamente no porto de Santos, em que Temer tem forte influência desde os anos 1990.
Desde a primeira tentativa da PF, em maio, Lima apresentou diversos atestados médicos alegando que não tem condições de prestar depoimento.
Em um dos documentos, do hospital Albert Einstein, o médico responsável afirma que o coronel aposentado, que tem 74 anos de idade, foi vítima de um AVC (acidente vascular cerebral) que deixou sequelas físicas. Na semana passada, a defesa do coronel pediu que o depoimento seja prestado por escrito.