Um novo capítulo da briga entre militantes de direita e o Facebook se desenrolou nesta semana após a página Corrupção Brasileira Memes, que tinha cerca de 1 milhão de seguidores e também era conhecida como CBM, ter sido retirada do ar pela plataforma.
Grupos como MBL (Movimento Brasil Livre), Nas Ruas e Revoltados On-Line entraram em rota de colisão com o Facebook desde que a rede social anunciou uma iniciativa para combater notícias falsas. Os movimentos afirmam que as agências de checagem parceiras do Facebook atuam de forma ideológica para censurar ideias de direita.
Além da página principal, o Facebook também tirou do ar dois grupos — um com 100 mil usuários e o outro com 30 mil — e uma segunda página que pertencia à Corrupção Brasileira Memes, com 35 mil curtidas, mas que já voltou à rede social.
Militantes de esquerda, por sua vez, afirmam que a CBM é um apêndice do MBL feito para produzir conteúdo viral que propaga mentiras e discurso de ódio — e, por isso, já organizaram denúncias em massa contra as páginas e os grupos.
O MBL nega ter ligação formal com os administradores da página: "O MBL é fã dos caras. Na verdade, se você for ver, a CBM é xodó da galera da direita brasileira, tirando o pessoal do Bolsonaro", diz Renan Santos, um dos líderes do MBL, ao BuzzFeed News.
Chega
Na segunda-feira (9), quando a página da CBM saiu do ar, um usuário do Facebook que se identifica como Sávio Albuquerque escreveu: "Tenho um grupo pra denúncias em massa organizadas, derrubamos a CBM essa madrugada junto com um grupo do MBL, porém seguimos limpando esse site de todo chorume virtual que essas pages propagam".
Junto com o texto, um printscreen de uma mensagem enviada pelo Facebook a Albuquerque mostra que a denúncia foi por "discurso de ódio" e informa que "a conta de Corrupção Brasileira Memes foi excluída".
O BuzzFeed News entrou em contato com o usuário na quarta (11), mas não houve resposta. Não é possível saber qual conteúdo denunciado levou à exclusão da página.
O MBL e a CBM atuam próximos desde que a página foi criada, em 2016. Naquele ano, o movimento fez uma parceria com a página para lançar a Copa Severino Cavalcanti de Pior Parlamentar — o "prêmio" foi dado ao deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ), um dos alvos preferenciais de grupos de direita nas redes sociais.
O BuzzFeed News questionou o Facebook sobre a exclusão da CBM na quarta-feira (11). Horas após o contato, a empresa disse que não iria comentar.
Na sexta-feira (13), após a publicação deste texto, a empresa entrou em contato com a reportagem para esclarecer que as iniciativas de combate a notícias falsas não têm relação com a exclusão de páginas.
"Quando conteúdos são classificados como falsos por agências independentes de verificação de fatos parceiras do Facebook, os posts têm seu alcance orgânico na plataforma reduzido", diz o texto. "Nenhum conteúdo ou página é removida do Facebook após a verificação por nossos parceiros."
"O Facebook nunca se pronuncia publicamente e isso é um método", diz Renan, do MBL. "Não quer dar satisfação porque quer ter um poder discricionário de fazer o que bem entende, da forma como bem preferir, e os outros que se danem. Não é uma relação correta", ele continua. "Como a coisa está tomando um rumo muito perigoso, eles têm que se pronunciar de alguma maneira."
Renan admite que páginas de memes políticos, mas alinhadas à esquerda, como a Anarcomiguxos, também já foram excluídas do Facebook. "Existe uma falha no sistema do Facebook que permite que denúncias em massa derrubem páginas, e isso falha para qualquer lado", diz. Mesmo assim, o líder do MBL reafirma que a direita está sendo perseguida pela rede social.
"Há um viés ideológico no tratamento que eles [do Facebook] estão dando no conteúdo político que é publicado. Isso vem sendo feito de forma discricionária beneficiando determinado conteúdo", afirma Renan.