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Apoiadores de Bolsonaro xingaram até pessoas com o mesmo nome de jornalistas

Todos os jornalistas que participaram do Roda Viva foram atacados nas redes sociais por apoiadores do candidato.

Desde que o Roda Viva com o candidato Jair Bolsonaro (PSL) foi ao ar, na segunda-feira (30), os jornalistas que entrevistaram o deputado passaram a receber insultos e ameaças por meio das redes sociais.

A torrente de xingamentos foi tão intensa que sobrou até para quem não tem nada a ver com a história — pessoas homônimas de jornalistas da bancada, como Daniela Lima e Thais Oyama.

"Hoje acordei com várias mensagens com xingamentos fortes (vagabunda, filha da puta, você merece morrer), textos sobre políticas. Enfim, quem me conhece sabe do que eu gosto e com que trabalho. Não era eu no Roda Viva", escreveu no Facebook uma usuária chamada Daniela Lima, que tem o mesmo nome da editora da coluna Painel, na Folha de S.Paulo, que entrevistou Bolsonaro no programa.

Não que a outra Daniela Lima tenha escapado dos ataques. Principalmente no Twitter, onde é mais ativa, a jornalista recebeu todo tipo de xingamento. Um dos trechos da entrevista usado para atacá-la foi quando o deputado falou sobre voto impresso.

Lima questiona Bolsonaro sobre a postura que ele adotaria, caso eleito, se a Procuradoria-Geral da República insistir no pedido de revisão da Lei de Anistia — em fevereiro, a procuradora-geral Raquel Dodge requisitou que o Supremo Tribunal Federal revisasse a interpretação que faz da legislação.

"Eu lamento a senhora Raquel Dodge, que prestou um desserviço à democracia há poucas semanas. Por intermédio de uma ação dela, o Supremo derrubou a possibilidade de termos o voto impresso por ocasião dessas eleições. Ou seja, vamos continuar sob a suspeição da fraude", respondeu o deputado, mudando o assunto para o voto impresso.

A discussão seguiu e Bolsonaro criticou o argumento de Dodge contra o voto impresso, de que o sigilo da eleição ficaria comprometido com a impressão dos votos. "Então todas as eleições de papel, no passado, também foram suspeitas?", ele questionou.

"Não, porque você não sai com o papel, você deixa o papel na urna. Nesse caso você sairia com o papel", afirmou a jornalista, no que foi rebatida pelo candidato: "Não, não sairia com o papel, não".

"A pergunta era sobre os questionamentos que Bolsonaro tem feito à legitimidade da eleição e não sobre o voto impresso, mas o assunto foi citado pelo candidato. Aí fiz, de fato, um comentário equivocado, que foi corrigido de pronto pelo deputado, no ar, como é corriqueiro nesse tipo de programa, e seguimos em frente", disse a editora da Folha de S.Paulo, em entrevista ao BuzzFeed News.

"A informação mais importante na resposta dele tinha a ver com o objeto da pergunta. Ele reafirmou a opinião de que a disputa deste ano está sob suspeição."

Com apenas 8 segundos de tempo no horário eleitoral de rádio e TV, a campanha de Bolsonaro tem seu foco nas redes sociais. O candidato tem 5,5 milhões de seguidores no Facebook e aposta nos grupos de WhatsApp como meio de difusão de sua propaganda e de mobilização de sua base. O BuzzFeed News entrou em contato com a campanha do candidato Jair Bolsonaro (PSL), na tarde desta quarta, para que ele se posicionasse sobre os ataques aos jornalistas que o entrevistaram. Não houve resposta.

A estudante Thais Oyama relatou no Twitter que também recebeu ataques e xingamentos. Ela tem o mesmo nome da redatora-chefe da revista Veja que estava na entrevista com Bolsonaro — a jornalista não tem perfis em nenhuma rede social.

Na terça-feira (31), a jornalista Maria Cristina Fernandes, do jornal Valor Econômico, relatou na rádio CBN que também recebeu xingamentos."Não fui só eu que recebi, sei que os outros colegas de bancada também receberam", ela disse.

"Eu fiquei mais preocupada com isso, mais do que tudo. Porque candidatos autoritários pode haver tantos quanto quiserem, tantos quanto conseguirem se registrar, mas eles só chegarão a algum lugar se houver eleitores dispostos a chancelar o seu nome", continuou.

Fernandes leu nove mensagens recebidas pelo Twitter, entre elas: "Pobre mãe que espera 9 meses para trazer ao mundo pessoas como você" e "não se comportaram como jornalistas, mas como imbecis comunistas provocando tumulto".

"É só uma pitada, e eu fiz questão de trazer isso aqui para a gente pensar aonde vai nos levar essa intolerância", ela continuou. "E pela frequência com a qual essas pessoas usam o verbo 'lacrar', eu imagino que sejam jovens. E é isso que me traz alguma preocupação sobre o futuro."

Grupos de direita como o MBL (Movimento Brasil Livre) e ativistas como Alexandre Frota também atiçaram seus seguidores contra os jornalistas que estavam na bancada.

No Twitter, Frota (54.000 seguidores) se referiu ao repórter Leonencio Nossa, do jornal O Estado de S. Paulo, como "vilão" e "sujeito totalmente tendencioso". Em uma imagem distribuída pelo WhatsApp e pelo Telegram, o MBL criticou perguntas sobre a ditadura e a afirmação de que Jesus Cristo foi refugiado, dita pelo colunista Bernardo Mello Franco, do jornal O Globo.

No mesmo dia da entrevista, o Ministério Público Federal havia reaberto a investigação sobre a morte do jornalista Vladimir Herzog, diretor da TV Cultura assassinado em 1975, durante a ditadura militar. A movimentação ocorreu após a Corte Interamericana de Direitos Humanos ter responsabilizado o Brasil pela morte de Herzog.

E a ligação entre Jesus Cristo e os refugiados havia sido feita pelo papa Francisco, no mês passado. Em 20 de junho, o pontífice afirmou: "Encontramos Jesus no pobre, no rejeitado, no refugiado". Dias depois, o papa Francisco voltou ao tema: "Nós acreditamos que Jesus foi um refugiado, teve que fugir para salvar sua vida, com São José e Maria. Ele era um refugiado. Rezemos para Nossa Senhora, que conhece a dor dos refugiados".

Nada disso impediu, é claro, que o colunista fosse xingado em sua página no Facebook.

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