A cada oito segundos uma postagem em português é publicada no Twitter com palavras de ódio contra negros, judeus, nordestinos, pessoas com deficiência e LGBTI+. O levantamento foi feito pela antropóloga e programadora Adriana Dias, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Adriana estuda movimentos neonazistas desde o início dos anos 2000 e disse se assustar com o crescimento do discurso de ódio contra minorias no Brasil, tanto por grupos organizados como por pessoas comuns. Os tuítes contra negros chegaram a 1 a cada 4 segundos, enquanto os contra judeus foram de 1 a cada 16 segundos. Contra nordestinos, é um tuíte de ódio a cada 20 segundos.
A pesquisadora usou uma plataforma de pesquisa, a Gephi, para monitorar no Twitter, por mais de 15 períodos de 24 horas, um conjunto de palavras-chave racistas, homofóbicas e preconceituosas. São 430 palavras-chave em português, inglês e espanhol porque mesmo postagens em português podem usar termos estrangeiros.
Dividindo por regiões brasileiras, Adriana conseguiu identificar os grupos mais agredidos na rede. No Sul, por exemplo, é forte o ódio aos judeus e aos negros, segundo a pesquisadora; no Sudeste, os principais alvos são negros, nordestinos e homossexuais; no Nordeste, gays e judeus.
Adriana disse ao BuzzFeed News que a pessoa que destila ódio não se dirige a apenas um grupo. "Quando a pessoa odeia um grupo, começa a odiar os outros. É o que eu chamo em minha tese de doutorado de 'nazificação'. Se você abre caminho para o ódio, ele não tem mais fim."
A tese de Adriana recebeu o título "Observando o ódio" e usou como base quatro bancos de dados construídos pela programadora, desde a filtragem de postagens simples até a genealogia dos grupos neonazistas organizados. A análise do Twitter é apenas uma parte dessa tese.
A grande maioria das postagens contra minorias no Twitter no Brasil é de pessoas comuns e reais, apontou o pesquisa de Adriana. Nada de robôs.
"As pessoas têm de entender que o ódio não é uma opinião. É uma emoção construída social e historicamente", disse a pesquisadora. "Assim como a empatia, que não é um sentimento, mas uma construção".
Adriana Dias disse que filtrou dessa pesquisa os tuítes de pessoas que usam as palavras-chave para denunciar ou ironizar o preconceito testemunhado. A filtragem depurou, segundo ela, 60% desses tuítes de ironia. O que não passou pela peneira da pesquisadora entrou na margem de erro da pesquisa.
O que diz o Twitter
O BuzzFeed News questionou o Twitter sobre a proliferação de mensagens de ódio na plataforma. Em nota oficial, a empresa afirmou que busca ser proativa contra abusos na rede e que metade dos tuítes considerados abusivos e que são deletados do Twitter foram localizados pela própria empresa.
"No Twitter, temos como prioridade melhorar a saúde da conversa pública e, para proteger a experiência das pessoas na plataforma, possuímos regras sobre conteúdos e comportamentos permitidos, incluindo as políticas contra propagação de ódio e de comportamento abusivo", diz a nota, que afirma que "todo usuário pode denunciar possíveis violações às regras do Twitter que, caso confirmadas, estão sujeitas à aplicação das medidas cabíveis".
"Além disso, o Twitter provê aos usuários ferramentas para que eles possam ter mais controle sobre experiência na plataforma. Hoje, com o uso de tecnologia, 50% dos Tweets abusivos que são removidos são levados proativamente para análise de nossos times, em vez de serem baseados em denúncias das pessoas no Twitter."