Serra cobrou 15% de propina e levou R$ 23 milhões para o PSDB, afirma delator

    Segundo Pedro Novis, ex-presidente da Odebrecht, Serra cobrou para liberar o pagamento de uma dívida que a Dersa, estatal do governo paulista, tinha com a empreiteira. Tucano nega.

    O senador José Serra (PSDB-SP) cobrou 15% de propina sobre valores que a Odebrecht tinha a receber do governo paulista, segundo Pedro Novis, delator e ex-presidente da empreiteira.

    À época, Serra era governador do Estado.

    Além de Serra, o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes (PSDB-SP) — que foi chefe da Casa Civil do governo paulista sob o aliado —, também é investigado no inquérito, que apura desvios nas obras do Rodoanel paulista.

    Segundo Novis, Serra o procurou em 2009 e pediu R$ 30 milhões para a campanha presidencial do ano seguinte, quando o tucano concorreu pela segunda vez ao cargo e acabou derrotado por Dilma Rousseff (PT).

    A Odebrecht possuía um crédito "da ordem de R$ 160 milhões ou R$ 170 milhões" com a Dersa, estatal paulista que constrói e administra rodovias e terminais rodoviários, segundo o executivo.

    Foi dele que partiu a ideia de atrelar o pagamento da dívida por parte do governo ao repasse de dinheiro à campanha. "Eu vi um instrumento, uma possibilidade de regularizar isso", afirmou em depoimento aos procuradores.

    Após a sugestão, Novis foi procurado pelo então presidente do PSDB, o ex-senador Sérgio Guerra, morto em 2013. "Veio então o retorno de que os créditos seriam pagos desde que nós nos comprometêssemos a repassar para as campanhas do PSDB o montante de 15%", disse o executivo.

    Ao todo, a Odebrecht repassou R$ 23,3 milhões, em parcelas pagas em contas no exterior indicadas por intermediários do partido.

    Novis e Serra mantinham relação próxima, o que fez com que o executivo ficasse responsável por boa parte da relação entre a empresa e o político. Em sua delação, Novis diz ter conhecido o tucano após ele voltar do exílio, entre o final dos anos 1970 e o início dos 80.

    Rodoanel

    O mesmo inquérito também investiga a fraude na licitação do trecho sul do Rodoanel, que tem 61,4 km de extensão e cuja obra custou R$ 5 bilhões.

    Segundo outro delator, Roberto Cumplido — ex-executivo que representava os interesses da empresa em São Paulo —, a fraude envolveu a Odebrecht, a Dersa e outras oito empreiteiras: Andrade Gutierrez, Galvão Engenharia, Camargo Corrêa, OAS, Mendes Júnior, Queiroz Galvão, CR Almeida e Constran.

    O acordo custou, de acordo com Cumplido, R$ 1,2 milhão à Odebrecht.

    Em 2007, porém, o recém-eleito governador Serra publicou um decreto obrigando todas as empresas a renegociar contratos vigentes com o governo do Estado.

    Foi nessa época que o diretor da estatal Paulo Vieira Sousa, conhecido como Paulo Preto, procurou Cumplido para renegociar o contrato do Rodoanel.

    O novo contrato combinado com o governo traria benefícios às empreiteiras, mas Paulo Preto pediu 0,75% do contrato ao PSDB, o que converteu-se em pagamentos que somam R$ 2,2 milhões, também feitos em contas no exterior.

    O sucessor de Cumplido na Odebrecht, o também delator Carlos Alberto Paschoal, disse em seu acordo que o atual ministro das Relações Exteriores, senador Aloysio Nunes (PSDB), o procurou em 2010 e pediu dinheiro para sua campanha vitoriosa ao Senado Federal.

    À época, Aloysio era chefe da Casa Civil de Serra, e prometeu interceder pelos interesses da empresa na discussão do Rodoanel. Segundo Paschoal, em troca o ministro recebeu R$ 500 mil em espécie.

    Por meio de suas assessorias, o ministro Aloysio Nunes disse que as acusações são "mentirosas", e o senador José Serra afirmou não ter cometido irregularidades.

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