No diálogo gravado que pode levar à anulação de seu acordo de delação, o dono da JBS, Joesley Batista, deu a entender que não contaria tudo que sabe à Procuradoria-Geral da República.
"Esse menino que tava aqui, eu sou fã desse menino. Eu vou tentar proteger ele o máximo", diz Joesley a outro delator, o ex-lobista da JBS Ricardo Saud.
Pelo contexto, não é possível saber a quem Joesley está se referindo. Momentos antes, ele havia dito a Saud que não guarda mágoa do delator e ex-vice-presidente da Caixa Fábio Cleto, que delatou o dono da JBS.
Cleto contou aos procuradores, inclusive, que fez uma viagem de turismo ao Caribe acompanhado de Joesley e outro delator, o operador Lúcio Funaro.
"Fiquei com raiva do Cleto? Sabia que eu não tenho raiva do Cleto? Juro procê. Eu não tenho. O que ele falou é tudo verdade", diz o dono da JBS na gravação.
A conversa entre Joesley e Saud ocorreu no dia 17 de março, na casa dele nos Jardins, em São Paulo — vários elementos na gravação indicam essas informações. Eles estão jantando, bebendo e fumando charutos.
"Eu já aprendi na vida o seguinte: a verdade dói, mas não ofende, sabia?", diz Joesley no trecho. "Sabia que a verdade não ofende? A verdade, Ricardinho, a verdade dói, dói, o cara fica puto, mas no fundo, no fundo, ele sabe que o que ele fez."
Em seguida, dá um exemplo prático do que defende: "Ricardo, pega o Sérgio Machado. O Renan esbraveja, todo mundo esbraveja. Mas, no final, cê acha que alguém tem genuinamente raiva dele? Não tem. Ninguém tem raiva do Sérgio Machado, porque o que o Sérgio Machado falou foi a verdade."
Num outro trecho, Joesley diz a Saud que o correto seria entregar apenas "20 traquinagens e não 30." Pelo raciocínio, faz parte da estratégia de negociação entregar uma parte, e não o todo.
"Não dá pra nós um dia chegar e contar 30 traquinagem nossa, 30. Nós vamos contar 20, sei lá, traquinagem nossa, sem nós termos tomado um bombardeio. Não dá... É subliminar, tá combinado, ninguém combinou comigo, mas tá combinado, cê tem que entender, tá tudo combinado", disse Joesley.
"É o seguinte, tá tudo combinado, não dá pra daqui 30, 60 dias, nós chegar e disser 'nós vamos falar de 200 políticos, dos partidos, do Temer, do caralho'. E do nada, é estranho, vai ficar estranho, eles vão moer nos, moer, moer, e de repente nós vamos falar assim BUM, aí faz sentido, se não não faz nem sentido, tá doido? Ninguém combinou comigo, ninguém falou comigo, mas eu to entendendo, to entendendo, to achando normal", declarou.
E continuou: "Ricardo, o que nos vamos falar, nos vamos falar é uma bomba atômica. Não dá pra falar. Você imagina aparecer um cara do nada e lança uma bomba atômica. Não, é por que o Ministério Público foi, bateu, bateu. É bom pro Ministério Público e é bom pra nós. É bom pros dois."