A estreia da série da Netflix sobre a Operação Lava Jato, intitulada O Mecanismo, provocou reações de políticos e militantes de esquerda durante o fim de semana.
O ponto central da polêmica diz respeito à expressão "estancar essa sangria". No quinto episódio da série, a frase é dita pelo personagem inspirado no ex-presidente Lula (PT).
Na vida real, porém, a frase entrou para o glossário da Lava Jato após o senador Romero Jucá (MDB-RR) tê-la dito a Sérgio Machado (MDB), ex-senador e ex-presidente da Transpetro, em um diálogo sobre estratégias para delimitar a operação:
Jucá: Tem que mudar o governo para poder estancar essa sangria.
(…)
Machado: Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel [Temer].
Jucá: Só o Renan [Calheiros] que está contra esta porra. "Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha". Gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra.
Machado: É um acordo, botar Michel, num grande acordo nacional.
Jucá: Com o Supremo, com tudo.
Machado: Com tudo, aí parava tudo.
Jucá: É. Delimitava onde está pronto.
As gravações foram feitas por Machado, que presidiu a Transpetro — subsidiária da Petrobras — por indicação do MDB e, depois, virou delator na Lava Jato. A existência dos áudios foi revelada pelo jornal Folha de S.Paulo em maio de 2016.
Em junho daquele ano, o ministro Teori Zavascki negou um pedido feito pelo então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, com base nos áudios, para prender Jucá e outros emedebistas que também foram gravados por Machado, como o ex-presidente José Sarney e o então presidente do Senado, Renan Calheiros.