Macron e Marine Le Pen avançam para o segundo turno na França

    Emmanuel Macron (centro) e Marine Le Pen (extrema-direita) vão se enfrentar no turno final daqui a duas semanas. É a primeira vez que os socialistas e a centro-direita tradicional ficam fora da decisão.

    O centrista Emmanuel Macron e a candidata da extrema-direita Marine Le Pen chegaram na dianteira no primeiro turno da eleição presidencial francesa, segundo as pesquisas de boca de urna divulgadas logo após o fechamento das zonas eleitorais no país.

    É um resultado histórico. Pela primeira vez desde que Charles De Gaulle fundou a 5a República em 1958, o Partido Socialista e a centro-direita tradicional ficaram fora da decisão. O socialista Benoît Hamon e o republicano François Fillon já admitiram as derrotas das duas forças mais tradicionais da política francesa.

    O segundo turno será disputado daqui a duas semanas. De acordo com uma das projeções, Macron recebeu 23.8% dos votos e Marine Le Pen, 21.6%

    Tanto Macron quanto Le Pen clamam consertar a política francesa e tirá-la do atraso, mas as suas respectivas visões de futuro são diametralmente opostas.

    Ele é pró-União Europeia, favorável ao livre comércio e à globalização. Ela é protecionista, nacionalista e defende limites à integração do projeto europeu.

    A batalha para suceder o socialista François Hollande foi moldada pela ansiedade econômica, pelo debate da identidade nacional e pelo terrorismo.

    Sob a sombra de um estado de emergência, e por um ataque em plena Champs Élysées apenas três dias antes da votação, grande parte da campanha foi dominada por questões como segurança interna e identidade.

    Outro tema-chave foi a economia e como recuperá-la. Apesar dos recentes sinais de recuperação após um longo período de estagnação, a França continua a ser castigada por um alto desemprego, especialmente nas áreas metropolitanas das grandes cidades, que afeta cronicamente os mais jovens.

    É uma eleição de implicações globais. A França é segunda maior economia da zona do euro, membro da Otan e o alicerce da União Europeia, além de membro permanente do Conselho de Segurança da ONU.

    Macron concorreu com uma forte plataforma pró-União Europeia. Ele prometeu transformações tanto na França quanto no projeto europeu. Ele lançou o seu movimento político "En Marche!" (Em Marcha) um ano atrás e se tornou um candidato sem laços com os partidos tradicionais. E sob um discurso de não ser nem de esquerda nem de direita.

    Ex-ministro da Economia, jamais eleito antes para um cargo público, Macro defende um modelo econômico inspirado nos países escandinavos. Economicamente liberal e progressista para temas sociais, ele apresentou uma plataforma com poucos cortes de gastos e reformas no sistema tributário e trabalhista, além de investimentos em energia renovável e investimentos em infraestrutura.

    Uma das jogadas de sua campanha foi convidar cientistas americanos para se mudarem para a França. Ele é pró-imigração e é visto como um apoiador da abertura econômica.

    A visão de mundo de Marine Le Pen é muito diferente. Ela prometeu referendo para decidir se o país fica ou não na zona do euro e, caso não haja reformas, para deixar também a União Europeia.

    Ela dedicou os últimos anos a suavizar a imagem de seu partido e virar a página do antissemitismo e do racismo do passado. O fundador da Frente Nacional e pai de Marine, Jean-Marie Le Pen, já minimizou os campos de concentração na Segunda Guerra Mundial como um "detalhe na História". Em parte, graças à ajuda não intencional de parte da mídia francesa, ela vem conseguindo se desvincular das incômodas posições do pai, no passado.

    Mas muito da base da Frente Nacional continuam, tanto no tom como na substância, a expressar posições que podem ser consideradas como xenófobas e populistas. A própria Marine Le Pen, durante a campanha, negou a responsabilidade do Estado francês pela deportação dos judeus durante a Segunda Guerra – um recuo frente à posição assumida pelo presidente Jacques Chirac em 1995.

    Sua retórica anti-austeridade e as promessas de aumentar o estado de bem-estar social ressoaram fortemente em cidades industriais, subúrbios e zonas rurais atingidas mais fortemente pela crise econômica. Nestas áreas, o voto em Le Pen expressa a desilusão e a sensação de abandono dos eleitores com os partidos políticos tradicionais.

    O ex-primeiro-ministro François Fillon (Os Republicanos) venceu a prévia da centro-direita tradicional, herdeira política do fundador da 5a República, Charles De Gaulle, mas foi abatido por um escândalo de corrupção. Sua campanha entrou em crise permanente após a revelação de que ele usou verbas parlamentares para pagar a mulher e familiares.

    Enquanto isso, à esquerda, o apoio ao candidato socialista Benoît Hamon implodiu. Suas propostas de introdução de um programa de renda básica universal e taxar a riqueza criada por robôs que substituem empregados em linhas industriais foram nubladas pela impopularidade do atual presidente, o também socialista François Hollande.

    Muitos eleitores de esquerda migraram para o candidato da extrema-esquerda Jean-Luc Mélenchon. Ele teve um forte crescimento nas últimas semanas.

    Economicamente, assim como Le Pen, Mélenchon busca inspiração no passado. Sua agenda incluía reduzir a carga horária dos trabalhadores e o tempo para a aposentadoria. O candidato prometia arranjar o dinheiro para estas políticas aumentando os impostos sobre os mais ricos.

    Embora Le Pen e Mélenchon têm visões ferozmente contrastantes em temas como imigração e identidade nacional (os dois se bateram nos debates), os eleitores de ambos enxergam neles similaridades em temas econômicos. A nostalgia das três décadas de crescimento econômico ininterrupto na França no Pós-Guerra foi um tema comum nas campanhas dos dois extremos.

    Mélenchon foi ambíguo sobre a posição da França no projeto europeu. Assim como Le Pen, ele defendeu a retirada da França da Otan e estreitar laços como "aliados naturais", como a Rússia.

    Mélenchon, Le Pen e Fillon sugeriram, em algum momento da campanha, a suavização das sanções contra o país de Putin.

    O impacto do atentado terrorista de quinta ainda é incerto. Mas muitos outros fatores deixaram o voto ainda mais volátil. A confiança nos políticos atingiu o ponto mais baixo em décadas, segundo institutos de pesquisa. Sem a tradicional linha que divide a direita e a esquerda tradicionais, a questão do segundo turno parece ser entre uma economia e uma sociedade mais abertas ou mais fechadas.

    O comparecimento às urnas (na França o voto não é obrigatório) às 17h (hora local) era de 69.42%, um pouco abaixo do registrado em 2012.

    France: turnout at 5pm: 1981: 66.15% 1988: 69.05% 1995: 63.24% 2002: 58.45% 2007: 73.87% 2012: 70.59% 2017: 69.42%… https://t.co/3kQQU7jbwO

    Este post foi traduzido do inglês.

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