Apesar do clima de animosidade entre o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, a força-tarefa do Ministério Público Federal não descarta uma delação premiada do deputado cassado.
O problema, dizem estes procuradores, é que Cunha tem se comportado na cadeia tal como fez nos seus anos de política, usando chantagens e ameaças para alcançar seus objetivos.
Um dos exemplos é o da carta que fez de próprio punho desmentindo Michel Temer e dizendo foi o presidente, e não ele, que convocou a reunião onde teria sido selada uma ‘ajuda’ de US$ 40 milhões para o PMDB em troca da liberação de contratos na Petrobras para a Odebrecht.
Na carta, escreve ainda que submeteu o parecer do impeachment previamente para Temer, que concordou com os termos.
Outro caso foi o das perguntas que fez através de um processo judicial para Temer, citando de maneira indireta a entrega de recursos no escritório do amigo e ex-assessor especial do presidente José Yunes.
À época, o juiz Sérgio Moro indeferiu parte dos questionamentos justamente por entender que Cunha estava usando um processo judicial para intimidar e chantagear autoridades.
Este tipo de comportamento tem incomodado o Ministério Público Federal. Na visão de alguns procuradores, para que um acordo fosse possível, Cunha teria de encarar a realidade de frente.
Ou seja, o primeiro passo para a negociação, segundo os investigadores ouvidos pelo BuzzFeed Brasil, Cunha precisa passar a se comportar como um preso condenado e não pode ficar mandando recados para chantagear seus antigos aliados.
Apesar de boa parte dos supostos esquemas de corrupção já terem sido esclarecidos com as delações da Lava Jato, Cunha poderia entregar as entranhas do PMDB, o processo de impeachment e até mesmo fatos ocorridos com Temer já na cadeira de presidente da República, o que abriria espaço para que ele fosse formalmente investigado.
Na situação atual, as suspeitas contra Temer não avançaram no STF pois Rodrigo Janot só encontrou fatos anteriores a ele assumir a presidência da República, o que lhe dá uma imunidade temporária.
Os advogados de Cunha, Ticiano Figueiredo e Pedro Ivo Velloso, no entanto, dizem que a estratégia de defesa do ex-presidente da Câmara segue inalterada e não prevê a possibilidade de uma delação premiada.