No final de semana, quando o presidente Michel Temer decidiu substituir Osmar Serraglio (PMDB-PR) pelo advogado Torquato Jardim no Ministério da Justiça, duas leituras foram feitas.
A primeira é que Temer precisava de alguém para melhorar sua interlocução com o TSE e com o STF, onde responde a processos. A segunda diz respeito à imposição de limites – ou promover um cerco, segundo os críticos – sobre a Lava Jato, em especial na Polícia Federal.
Nesta segunda-feira o clima entre parte dos aliados de Temer, sobretudo aqueles que transitam no mundo jurídico, é de que a indicação de Torquato pode não resolver nenhum dos dois problemas de Temer e, ainda pior, pode ampliar a crise a depender das intervenções que venham a ser feitas na Polícia Federal.
Na questão dos tribunais superiores, as avaliações de que Torquato possui algum tipo de influência na corte foram superestimadas, segundo o BuzzFeed Brasil apurou.
A expectativa do Planalto é que o novo ministro, diferentemente de Serraglio, tenha um maior acesso para conversar com ministros do TSE e pelo menos dois do STF.
Apesar disso, a avaliação é de que Torquato não terá a capacidade de influenciar os ministros.
Ainda é dito que, fosse o caso de ampliar a relação com as cortes superiores, ele não precisaria ser alçado ao Ministério da Justiça, poderia fazer isso da pasta da Transparência, despertando menor atenção da imprensa.
Na PF, o estilo de Torquato gera temor entre alguns dos aliados de Temer.
Duro na hora de implementar mudanças e enfrentar resistências internas, o temor é que alterações na cúpula da PF ou alterações mesmo nos setores inferiores, possam criar ruídos e ampliar a crise sob o argumento de que o governo partiu, como nunca antes, para o desmantelamento da Lava Jato.
Ouvidos pelo BuzzFeed Brasil, congressistas com interlocução no mundo jurídico entendem que o governo perdeu o timing para fazer mudanças na PF e, caso o estilo “trator” de Torquato promova as alterações, haveria uma ampliação da crise e até mesmo um encurtamento do governo Temer.
Por outro lado, caso consiga encontrar um equilíbrio e fixar balizas para a Lava Jato sem despertar fortes reações na população (algo difícil de ser feito na prática), Torquato poderá usar o Ministério da Justiça para fazer a defesa pública de Temer, algo que Serraglio nunca fez em sua curta passagem pela pasta.
Além disso, acreditam que o novo ministro, caso o governo chegue a setembro, seria capaz de assumir parte do ônus pela rejeição da lista tríplice para a vaga do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Em entrevistas, ele mesmo já disse que seria salutar que o Ministério Público Militar e do Trabalho também apresentassem suas listas. A fala deixas às claras um movimento que o governo vem fazendo para encontrar saídas e não ficar atrelado a uma única lista na hora de substituição do PGR.