Num STF dividido e com os ânimos exaltados devido ao julgamento do habeas corpus de Lula, marcado para amanhã, os ministros Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso parecem atuar como porta-vozes dos dois grupos da corte, apelidados nada carinhosamente de lenientes e justiceiros.
Os dois ministros, que já bateram boca em outras ocasiões no plenário, repetiram a dose hoje (21), com um tom ainda mais elevado.
Em curso no tribunal estava o julgamento sobre doações ocultas para campanhas. Ao longo de seu voto, Mendes criticou alterações eleitorais feitas pelo STF, como o fim do financiamento privado e da cláusula de barreira.
Dando a entender que a corte não poderia ficar alterando regras para depois testá-las, e ainda por cima com maiorias eventuais, mandou uma frase atravessada para Barroso, que no fim do ano passado proferiu voto permitindo o aborto até o terceiro mês de gestação.
"Ah, agora eu vou dar uma de esperto e vou conseguir a decisão do aborto. De preferência, na turma com dois, com três ministros, aí a gente faz um 2 a 1."
Ao ouvir o comentário, Barroso começou um discurso em que, a cada duas palavras, três eram agressões a Gilmar.
"Me deixa de fora desse seu mau sentimento, você é uma pessoa horrível, uma mistura do mal com o atraso e com pitadas de psicopatia. Isso não tem nada a ver com o que está sendo julgado. É um absurdo.
Vossa excelência aqui faz comício cheio de ofensas, grosserias. Vossa excelência não consegue articular um argumento. Ofendeu a presidente, ofendeu o ministro Fux, agora chegou a mim. A vida para vossa excelência é ofender as pessoas, não tem nenhuma ideia, nenhuma, nenhuma.
Qual é a sua ideia, qual a sua proposta? Nenhuma. É bílis, ódio, mau sentimento, é uma coisa horrível... Vossa excelência nos envergonha. Vossa excelência é uma desonra para o tribunal, uma desonra para todos nós, um temperamento agressivo, grosseiro, rude. Vossa excelência sozinho desmoraliza o tribunal.
É muito penoso para todos nós termos que conviver com vossa excelência aqui, não tem ideia, não tem patriotismo, vossa excelência está sempre atrás de algum interesse que não é o da Justiça. Uma coisa horrorosa, uma vergonha, é um constrangimento isso."
Gilmar ainda tentou retrucar e mandou essa:
"Eu vou recomendar ao ministro Barroso que feche seu escritório de advocacia".
Quando tentou falar mais, a ministra Cármen Lúcia interrompeu a sessão.
Os arranca-rabos entre os dois ministros já estão se tornando rotineiros na corte.
No fim do ano passado, Gilmar e Barroso também bateram boca em plenário, quando Mendes lembrou que o colega soltou o ex-ministro José Dirceu — e ouviu que ele era leniente com crimes do colarinho branco.