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Este físico brasileiro explica por que, afinal, Stephen Hawking foi tão importante

Marcelo Gleiser conheceu Hawking em 1988 e conta como o britânico aproximou teorias de Einstein ao mundo dos átomos e influenciou uma geração de cientistas.

Ao atender um telefonema do BuzzFeed News em sua sala no Dartmouth College, em New Hampshire, nos Estados Unidos, o atarefado professor Marcelo Gleiser, um dos mais importantes físicos do Brasil, logo lembrou de uma coincidência sobre a morte de Stephen Hawking.

"Hoje é o aniversário de Albert Einstein", disse.

Num rápido bate papo, o professor tentou explicar a importância daquele que, junto de Einsten, conseguiu levar a física — ou pelo menos despertar a curiosidade sobre a ela — a milhões de pessoas ao redor do mundo.

"Como físico, Stephen Hawking foi uma pessoa extremamente importante e, talvez, um dos mais influentes na cosmologia e astrofísica dos últimos 40 anos", disse Gleiser.

Segundo ele, o britânico, que morreu aos 76 anos em seu país natal, foi o primeiro a conseguir unir dois mundos que, embora interligados por natureza, ainda estavam distantes nas teorias de ciências naturais.

"Hawking foi o primeiro a conseguir aproximar duas partes da física que em geral vivem longe: a relatividade geral de Albert Einstein, que trata do universo e de como a presença da matéria encurva o espaço-tempo, e a teoria quântica, que é oposto — lida com coisas pequenas, como átomos e partículas subatômicas. E essas duas têm relação difícil", explicou.

O professor destacou que, ao analisar buracos negros, Hawking começou a aventura que o levaria a unir dois mundos de tamanhos e funcionamentos diferentes, influenciando toda uma geração de cientistas.

"Nos anos 60 ele tentou juntar (o mundo dos átomos ao de grandes corpos celestes) através da teoria que diz que buracos negros não são entidades que apenas sugam tudo ao seu redor, mas que eles também emitem partículas, eles evaporam. Não sabemos se a teoria está correta — nunca vimos buraco negro evaporando —, mas tudo indica que seja uma ótima hipótese científica. Em termos pessoais, eu e toda uma geração fomos muito influenciados pelas ideias dele, tentando aplicar na teoria de buracos negros e na teoria do Big Bang", disse.

Para além do trabalho do físico, Gleiser também destacou o aspecto humano do professor britânico — que, embora sofresse esclerose lateral amiotrófica, nunca se deixou abater pelas dificuldades ou limitações que sua enfermidade poderia lhe causar.

"Em 1988 eu era PhD no Fermilab (em Illinois, nos Estados Unidos) e fui incumbido de pegar Hawking no aeroporto para uma conferência de cosmologia quântica, que é aplicar efeitos quânticos no universo. Para pegar ele tinha que ir com van especial para cadeira de rodas. Na época ele ainda conseguia, um pouco, se comunicar com voz. Ele veio com a enfermeira, que depois virou esposa, e dois alunos de doutorado. E uma coisa que me afetou profundamente foi que, mesmo com todo esse sofrimento, com a doença, ele nunca perdeu o espírito feliz de batalhador. E isso é o grande exemplo da vida dele."

Apesar da admiração e noção do papel histórico de Hawking, Gleiser também não deixou de lembrar uma desavença científica que anos possui com o britânico.

Isso porque Hawking, ao contrário de Gleiser, acreditava que seria possível encontrar uma equação final para a explicação do universo, uma espécie de "teoria de tudo".

Gleiser, por sua vez, como fez no livro "A Ilha do Conhecimento", pensa de forma oposta. Para ele, à medida que o conhecimento científico avança, mais perguntas surgem. Além disso, há espaços e situações simplesmente impossíveis de serem observados ou testadas.

"Hawking, nos escritos públicos, acha que a física pode resolver certos problemas que ela não pode resolver, como a origem do universo", concluiu o professor.

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