Nos primeiros dias após sua prisão — relacionada aos R$ 51 milhões encontrados num apartamento na Bahia — o ex-ministro Geddel Viera Lima disse a investigadores que estava disposto a colaborar para tentar reduzir o tempo de cárcere que deverá enfrentar numa eventual condenação.
Apesar da disposição inicial, a avaliação foi de que o político ainda precisava passar mais um tempo preso. No jargão dos investigadores, era preciso “amaciar a carne" para evitar que o preso só contasse parte de seus crimes por confiar num acordo.
Na prática, querem evitar açodamentos e qualquer coisa próxima a um nova caso JBS.
A notícia sobre a disposição de Geddel, no entanto, chegou até Brasília e começou a assombrar aliados de Michel Temer na Câmara.
Lá, a expectativa é que o STF libere a denúncia nesta quarta e a encaminhe ao Congresso ainda nesta semana.
Ao BuzzFeed News, líderes da Câmara evitaram declarações oficiais sobre os reflexos de uma delação de Geddel na segunda denúncia contra Temer.
Em conversas informais, no entanto, dizem que a única forma de o governo ser derrotado é justamente no caso de o ex-ministro delatar crimes envolvendo o presidente.
Além da disposição inicial de Geddel, o governo tem recebido informações dúbias sobre uma possível delação.
O irmão do ex-ministro, deputado Lúcio Viera Lima, que também será investigado no episódio dos R$ 51 milhões, não aparecia em Brasília até esta terça-feira.
No Congresso, tem evitado falar de seu irmão e, quando questionado sobre uma possível delação, nem confirma e nem descarta, diz somente que Geddel e seus advogados estão cuidando da defesa.
Como uma eventual aceitação da denúncia pela Câmara não significa o afastamento imediato do presidente, que só deixa o cargo temporariamente caso o Supremo abra processo contra Temer, aliados fazem novos apelos em nome da economia para tentar evitar — ou ao menos atrasar — uma delação.
Dizem que, caso Geddel delate e Temer seja afastado, não será possível aprovar a reforma da previdência.
Além disso, apostam que os novos critérios, e possivelmente mais duros, de Raquel Dodge no Ministério Público Federal, podem evitar que uma delação seja fechada nos próximos meses, garantindo a sobrevida do governo.