Após a rebelião no complexo penitenciário de Manaus (AM), que levou à morte de 56 detentos, o governo passou a monitorar chefes de facções criminosas detidos em prisões federais.
A ação, que visa evitar novas rebeliões, envolve os setores de inteligência do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI) e da Polícia Federal.
De acordo com interlocutores do Planalto, o risco de novas rebeliões foi potencializado pelo próprio governador do Amazonas, José Melo (Pros).
A avaliação é que ainda não é possível se ter o peso exato de dois fatores que motivaram a rebelião: por um lado a briga entre facções criminosas e, por outro, a criação de tumulto para propiciar a fuga de duas centenas de detentos.
Por isso, auxiliares do presidente Michel Temer dizem que José Melo, ao imputar a rebelião com o maior número de mortos desde o Carandiru simplesmente a um acerto de contas entre facções, está, na prática, tentando dizer que o problema não é de seu estado.
Seria, no caso, do Rio de Janeiro e São Paulo, que abrigam o Comando Vermelho e o PCC, respectivamente.
Em Manaus, a facção chamada Família do Norte (FDN), que domina os presídios do Estado, é ligada ao Comando Vermelho, inimigo do PCC.
O problema é que, ao jogar a responsabilidade para facções do Rio e São Paulo, o governo teme que grupos rivais que coabitam presídios não só destes, mas de outros estados, entrem em clima de guerra.
A insatisfação já havia sido vocalizada publicamente pelo ministro Alexandre de Moraes (Justiça) na terça:
"É um erro que não podemos cometer, achar que, de uma forma simplista, que esse massacre e essas rebeliões são simplesmente guerra entre facções. Aqui, os 56 mortos, mais da metade não tinha ligação com nenhuma facção".
Nesta quarta, o ministro evitou rebater diretamente as declarações do ministro com uma declaração criticando os presos mortos."Não posso fazer comentário sobre o que o ministro falou. Só sei dizer que não tinha nenhum santo. Eram estupradores, eram matadores que estavam lá dentro do sistema penitenciário e pessoas ligadas a outra facção, que é minoria no estado do Amazonas", disse José Melo, em entrevista à rádio CBN.
Para tentar previnir outras rebeliões, o governo passou a monitorar de perto líderes de facções que estão em presídios federais.
Em alguns casos há o incremento da vigilância, em outros, o envio de lideranças para o chamado Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), onde é mais fácil bloquear o contato com outros presos.
O governo espera que, acompanhando a movimentação dos líderes das facções seja possível prever a organização de novas rebeliões e, assim, evitá-las.