Amigo de Temer muda de versão, admite ter recebido "pacote" e joga governo na fogueira

    Em delação premiada, ex-executivo da Odebrecht havia revelado que escritório do ex-assessor especial do Planalto José Yunes foi usado para o recebimento de dinheiro vivo

    Um depoimento prestado por José Yunes – ex-assessor especial e amigo pessoal de Michel Temer – ao Ministério Público Federal começa a fechar uma história de corrupção e pagamento de propinas ao PMDB contada por um dos delatores da Odebrecht.

    Como o BuzzFeed Brasil revelou no fim do ano passado, Cládio Melo Filho -- um ex-executivo da empreiteira -- disse em seu acordo de colaboração premiada que a empresa havia acertado um pagamento de R$ 10 milhões para o PMDB em 2014.

    O acerto foi feito num jantar no Palácio do Jaburu com a presença do então presidente do grupo empresarial, Marcelo Odebrecht, e do próprio Temer.

    Do montante, segundo o delator, R$ 6 milhões seriam destinados para Paulo Skaf -- que nega tal versão -- e os R$ 4 milhões restantes seriam destinados a Eliseu Padilha, hoje ministro da Casa Civil -- que também nega a versão.

    Ainda de acordo com o delator Cláudio Melo Filho, parte do dinheiro da cota de Padilha foi entregue, em cash, no escritório de advocacia de Yunes, em São Paulo.

    Quando o BuzzFeed revelou o caso, Yunes, então secretário especial da presidência, disse através da assessoria do Palácio do Planalto que ficou "indignado" com as acusações de Melo Filho.

    A Veja desta semana trouxe, no entanto, algumas das súbitas lembranças de Yunes que corroboram o depoimento do delator.

    Em entrevista, Yunes disse que realmente teve seu escritório usado para a entrega de uma "encomenda" de Padilha.

    Segundo ele, o ministro lhe telefonou e disse que um mensageiro levaria uns documentos até seu escritório. Yunes concordou.

    Na data combinada, quem apareceu no local para a entrega foi o Lúcio Bolonha Funaro, operador de Eduardo Cunha, que foi preso em julho do ano passado pela Lava Jato.

    Funaro é comumente descrito como "doleiro" pela imprensa, mas é um personagem muito mais complexo do que isso. Muito ligado a Cunha e dono de um temperamento explosivo, Funaro opera no mercado de capitais e no submundo da política.

    Ele foi preso sob suspeita de operar um esquema de cobrança de propina para liberação de empréstimos com dinheiro do FGTS a grandes empresas por apadrinhados de Cunha na Caixa Econômica Federal.

    Na conversa com Yunes, Funaro disse que estava trabalhando no financiamento de 140 deputados e que este grupo iria fazer de Eduardo Cunha o presidente da Câmara dos Deputados.

    Funaro, então, entregou a encomenda para Yunes. O advogado diz que recebeu um envelope, que não era muito grande.

    Após Funaro sair, segundo a versão de Yunes, ele deu um Google e descobriu quem exatamente era o doleiro, que desde o mensalão já figurava entre investigados por crimes.

    Yunes, então, saiu para o almoço e, nesse meio tempo, um outro mensageiro foi até seu escritório e retirou o envelope.

    Segundo o amigo de Temer, se havia ou não dinheiro dentro do pacote é algo que ele não sabe. Em sua entrevista disse que acabou sendo uma "mula involuntária" de Padilha.

    O versão de Yunes será usada agora pelo Ministério Público Federal contra Padilha.

    A ideia de procuradores que atuam na Lava Jato é pedir a abertura de um inquérito contra o ministro até o fim de março.

    Além da Veja, Yunes contou aos jornais Folha de S.Paulo, Estado de S.Paulo e O Globo ter sido usado como “mula” pelo operador de Cunha, Lucio Funaro, para enviar dinheiro sujo a Eliseu Padilha.

    Crise no núcleo-duro do Planalto e recado de Eduardo Cunha


    A mudança de versão de Yunes joga o governo na sua principal crise até agora, atinge diretamente o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o núcleo-duro da Presidência da República.

    Antes de vir à tona o conteúdo da delação de Cláudio Melo Filho sobre a entrega de dinheiro vivo no escritório do amigo de Temer, Eduardo Cunha citou Yunes em uma das perguntas endereçadas ao presidente, que arrolou como testemunha de defesa.

    “Qual a relação de Vossa Excelência com o senhor José Yunes? O senhor José Yunes recebeu alguma contribuição de campanha para alguma eleição de Vossa Excelência ou do PMDB?”.

    A pergunta foi vetada pelo juiz Sergio Moro.

    Até agora, o presidente tem negado reiteradamente ter recebido dinheiro de caixa dois da Odebrecht na campanha de 2014.

    O depoimento de Yunes ao Ministério Público Federal complica a versão do presidente e jogou Temer num impasse: ou chama Yunes de mentiroso ou demite Eliseu Padilha.

    Ontem, antes do depoimento de Yunes vir a conhecimento público, Padilha apresentou licença médica para ser submetido a uma cirurgia na próstata. Ninguém sabe se volta.

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