Uma nova pesquisa, baseada em análises de DNA, mostrou que existem quatro espécies diferentes de girafa, e não apenas uma, como os cientistas acreditavam anteriormente.
As espécies são tão diferentes quanto "ursos-pardos e ursos-polares", segundo Axel Janke, professor do Centro de Pesquisa Climática e de Biodiversidade de Frankfurt, na Alemanha, e o principal autor de um artigo publicado na revista "Current Biology" sobre o assunto.
"Foi incrível, mal pudemos acreditar no que descobrimos," disse Janke ao BuzzFeed News. "Quando fizemos a primeira análise, as diferenças já foram tão gritantes que na hora vi que tinha alguma coisa ali."
A descoberta, no entanto, significa que as girafas correm mais risco de extinção do que se imaginava.
Até agora, os cientistas acreditavam que havia somente uma espécie de girafa, com nove subespécies.
Os pesquisadores analisaram os marcadores de DNA nos genomas de 105 animais, descobrindo que as sequências de DNA nesses marcadores eram diferentes para cada uma das quatro espécies. Isso significa que há ao menos quatro grupos geneticamente distintos de girafas e que a reprodução só é possível dentro do próprio grupo – a definição de espécie.
"No começo eu relutei em chamá-las de espécies, porque isso não se faz sem ter certeza," disse Janke. No entanto, segundo ele, quando todas as análises foram concluídas, não havia outra conclusão possível.
As quatro espécies são girafa do sul (Giraffa giraffa), girafa Masai (Giraffa tippelskirchi), girafa reticulada (Giraffa reticulata) e girafa do norte (Giraffa camelopardalis).
As diferentes espécies não têm diferenças óbvias na aparência, e esse é o motivo de somente agora elas terem sido descobertas. No entanto, existem algumas pistas, disse Janke ao BuzzFeed.
"Por exemplo, as girafas reticuladas têm linhas bem retas e grandes manchas escuras em sua pelagem. Já as Masai têm suas linhas bem mais chanfradas e as manchas marrons são bem mais escuras no centro."
Por sua vez, as girafas do norte têm cinco ossicones (estruturas parecidas com chifres) em sua cabeça, e as do sul apenas três.
"Os cientistas que estudam as girafas já previam a existência de espécies diferentes e que isso seria descoberto pelo sequenciamento do DNA", disse Douglas Canever, geneticista da Penn State University que não esteve envolvido com a pesquisa.
"O que mais me surpreendeu foi que o número de espécies distintas foi de apenas quatro. Eu tinha previsto seis. No entanto, estou convencido pelo dados apresentados de que quatro espécies é a interpretação correta."
Janke disse que não ficaria surpreso se fosse descoberta uma quinta espécie. "Há chances se coletarmos mais dados."
A descoberta significa que cada nova espécie de girafa reconhecida está mais em risco do que imaginávamos. Atualmente, com uma estimativa de 90 mil indivíduos na natureza, as girafas são classificadas como "pouco preocupante" na Lista Vermelha da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza), que acompanha o status de conservação das espécies. Apenas duas subespécies estão atualmente listadas como "em perigo".
Agora que sabemos que existem quatro espécies, os números são bem mais preocupantes.
Para a Fundação de Conservação das Girafas, cujo cofundador Julian Fennessy é um dos autores da nova pesquisa, as girafas foram negligenciadas pelos cientistas "por anos". Fennessy e outros especialistas defendem que as girafas entrem na categoria de "em perigo" da IUCN para "mostrar ao mundo o rápido declínio das girafas ao longo das três últimas décadas".
A fundação disse em uma declaração: "Existem menos de 4.750 girafas do norte na natureza e menos de 8.700 girafas articuladas – como espécies distintas, isso as torna uns dos mamíferos mais em risco do mundo."