Operador pede anulação de delação que acusa Cunha e Joesley de propina

    Apontado por delator como intermediário de propina entre Eduardo Cunha e empresários, Lúcio Funaro diz que delação de ex-executivo da Caixa Fábio Cleto é um “poço de mentiras”.

    Preso pela Lava Jato há mais de oito meses, o operador financeiro Lúcio Funaro pediu à Justiça nesta quinta-feira (6) a anulação da principal delação premiada que acusa ele, o ex-deputado Eduardo Cunha e grandes empresários de desviarem dinheiro do fundo de investimento do FGTS, o FI-FGTS. Ele afirma que Fábio Cleto, ex-executivo da Caixa, mentiu para conseguir a delação premiada.

    Na peça enviada à 10a Vara Federal, em Brasília, Funaro ataca a delação de Fábio Cleto, ex-vice-presidente da Caixa Econômica, que gerencia o fundo do FGTS. Ele disse aos procuradores que recebia orientações de Eduardo Cunha sobre como votar nos pedidos de investimentos das empresas.

    Em troca, Cleto diz que recebia uma parte da propina paga por empresários. Outra parte ficaria com Cunha e Funaro, que seria o responsável por fazer a parte financeira do esquema. Um dos relatos de Cleto é de uma viagem entre ele, Funaro, e Joesley Batista, megaempresário da JBS, ao Caribe.

    Próximo de Eduardo Cunha, Funaro é profundo conhecedor das entranhas do PMDB. Ele chegou a cogitar uma delação premiada, mas as conversas esfriaram.

    Ele é citado, por exemplo, no rumoroso episódio que envolve um amigo do presidente Michel Temer, José Yunes, como revelou o BuzzFeed. Segundo um delator da Odebrecht, entregas de dinheiro foram feitas no escritório de Yunes. Ele afirma que Funaro deixou pacotes no local.

    Agora, Funaro, Cunha e Joesley respondem a processos na 10a Vara Federal, em Brasília. Na peça enviada ao juiz Vallisney Oliveira, Funaro vai para o ataque e classifica a delação de Cleto, usada pelo Ministério Público, como “poço de mentiras” e “achismos”.

    “O que se nota é um 'achismo' sem amparo jurídico, no qual se afirma sem provar, com base em suposições, sem apontar na maioria das vezes quem teria cobrado propina, em quais dos casos que menciona, quem teria recebido e de que modo? A única certeza é que o delator assume que recebeu propina, o restante são ilações”, diz a peça, assinada pelo advogado Bruno Espiñeira.

    No documento, a defesa ainda levanta a hipótese de que Cleto mentiu à Justiça. “Como elemento caracterizador de manifesta má-fé e falsidade de suas afirmações, documentos juntados como prova do que teria afirmado em sua delação acerca das contas pagas pelo Defendente em favor de sua família, quando na realidade, fez juntas contas pagas pelo delator e réu Alexandre Margotto”, diz.

    Funaro cita outra delação para atacar Fábio Cleto. Trata-se do depoimento de Ricardo Pernambuco, da Carioca Engenharia. Ele foi citado por Cleto como um dos pagadores de propina. Pernambuco, de fato, confessou a propina, mas disse que não conhecia Funaro.

    Na peça, Funaro admite que, antes de Cleto assumir o cargo na Caixa, ele pagou despesas pessoais do executivo. Segundo Funaro, esses pagamentos eram fruto de uma relação comercial que tinham. “Com relação ao Defendente houve um ato na esfera privada, anterior à assunção do cargo pelo delator e fruto de relação privada! Qual o tipo penal, no caso, passível de imputação ao Defendente? Absolutamente nenhum!”.

    Em sua delação, Cleto apresenta como provas diversos pagamentos que, segundo ele, foram feitos por Lúcio Funaro. Ele nega. “Todas as demais contas, que totalizam algumas centenas e representando a maioria delas, encontram-se ou não autenticadas, ou sem comprovantes, ou autenticadas, mas não debitadas em contas do Defendente ou mesmo outras tantas pagas em dinheiro, além de outras mais que não identificam o próprio beneficiário, o que implica na impossibilidade de atribuir-se a titularidade de tais pagamentos ao Defendente”.

    Por isso, a defesa de Funaro pede ao juiz Vallisney que a delação de Cleto seja anulada ou, então, considerada "imprestável" para a investigação.

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