Peça-chave da Lava Jato, o operador financeiro Lúcio Funaro recebeu R$ 12,5 milhões no segundo semestre de 2014 de empresas do agora delator Joesley Batista, dono das marcas JBS e Friboi.
Os valores revelam um caixa paralelo de dinheiro durante a eleição de 2014, que elegeu Michel Temer vice-presidente na chapa com Dilma Rousseff, enquanto a JBS também despejava doações oficiais para diversos partidos e candidatos.
Funaro usou duas empresas para receber: a Viscaya e a Araguaia. Segundo a Procuradoria-Geral da República, essas empresas eram firmas de fachada para que Lúcio Funaro, sob a justificativa de contratos de consultoria, pudesse receber e lavar dinheiro.
Atualmente, Funaro está preso e negocia um acordo de delação premiada. Ele é acusado de intermediar propinas em troca de repasses do FI-FGTS a grandes empresas, incluindo as de Joesley Batista.
Nas notas fiscais, duas chamam a atenção. No dia 2 de outubro, a J&F fracionou pagamentos de R$ 1,8 milhão a Funaro. Em vez de dar uma única nota, dividiu o valor entre as firmas da Viscaya e Araguaia. O primeiro turno da eleição aconteceu três dias depois.
No total, as empresas de Lúcio Funaro receberam R$ 83 milhões de Joesley Batista, entre 2012 e 2014. No segundo semestre de 2012, quando aconteceu ocorreram eleições municipais, foram pagos R$ 23,4 milhões.
Assim como em 2014, foi usado o expediente de fracionar pagamentos. Em 24 de outubro _ quatro dias antes do segundo turno _ as duas empresas de Funaro receberam R$ 5,5 milhões, em sete notas fiscais.
Essas notas corroboram uma das principais acusações de Lúcio Funaro contra Michel Temer, conforme depoimento prestado à Polícia Federal no último dia 14. Ele afirma que arrecadava dinheiro para o PMDB, inclusive por “orientação/pedido” de Temer. O presidente nega.
Os valores constam de notas fiscais anexadas a um processo judicial em que Funaro cobra cerca de R$ 20 milhões de Joesley Batista. Eles fizeram uma espécie de contrato guarda-chuva de incríveis R$ 100 milhões, como forma de justificar pagamentos da JBS a Funaro, em razão de uma comissão por ter auxiliado na fusão com o frigorífico Bertin.
Mas veio a Lava Jato e Joesley Batista tornou-se delator. À PF, ele disse que forjou o contrato, que na verdade mascarava propinas.
Funaro, por sua vez, afirma que recebia dinheiro, quando estava preso, em razão destes contratos _ a irmã dele foi filmada recolhendo valores e chegou a ser presa.