Em 494 páginas, a Polícia Federal usou delações, planilhas, registros de voos e mensagens de celular para elencar as dezenas de indícios de que o grupo do PMDB da Câmara formava uma "organização criminosa" para arrecadar e distribuir propina.
Mas o relatório pode ser resumido em duas imagens. A principal estrela é Michel Temer, atual presidente da República e, de longe, a figura mais influente do grupo do PMDB da Câmara.
Nessa imagem, a PF mostra 11 cargos estratégicos ocupados pelo grupo, com o aval de Temer.
Entre eles, há auxiliares, ministros e Fábio Cleto, que ocupava cargo estratégico na Caixa Econômica, que liberava o dinheiro de interesse das empresas.
Há, ainda, Geddel Vieira Lima, aquele da montanha de dinheiro vivo.
Nessa outra imagem, a PF mostra como esse mesmo grupo ocupava os órgãos públicos e se relacionava com as empreiteiras.
Em nota, o presidente Temer negou as acusações e fez duras críticas ao relatório. Ele disse que bandidos fazem acusações de "ouvir dizer".
O Estado Democrático de Direito existe para preservar a integridade do cidadão, para coibir a barbárie da punição sem provas e para evitar toda forma de injustiça. Nas últimas semanas, o Brasil vem assistindo exatamente o contrário.
Garantias individuais estão sendo violentadas, diuturnamente, sem que haja a mínima reação. Chega-se ao ponto de se tentar condenar pessoas sem sequer ouvi-las. Portanto, sem se concluir investigação, sem se apurar a verdade, sem verificar a existência de provas reais. E, quando há testemunhos, ignora-se toda a coerência de fatos e das histórias narradas por criminosos renitentes e persistentes. Facínoras roubam do país a verdade. Bandidos constroem versões “por ouvir dizer” a lhes assegurar a impunidade ou alcançar um perdão, mesmo que parcial, por seus inúmeros crimes. Reputações são destroçadas em conversas embebidas em ações clandestinas.
Muda-se o passado sob a força de falsos testemunhos. Vazamentos apresentam conclusões que transformam em crimes ações que foram respaldas em lei: o sistema de contribuição empresarial a campanhas políticas era perfeitamente legal, fiscalizado e sob instrumentos de controle da Justiça Eleitoral. Desvios devem ser condenados, mas não se podem criminalizar aquelas ações corretas protegidas pelas garantias constitucionais.