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Amigo de Lula teve privilégios em negócio de R$ 100 milhões com BNDES, diz auditoria

Empresa de Walfrido Mares Guia, aquele que emprestou jatinho para Lula depor ao juiz Sergio Moro em Curitiba, recebeu investimento milionário mesmo com veto de regras internas do BNDES.

Este é Walfrido Mares Guia. Empresário multimilionário, foi um dos mais influentes ministros do governo Lula. Primeiro, como ministro do Turismo, entre 2003 e 2006. Depois, em 2007, foi indicado para a Secretaria de Relações Institucionais da presidência. Em outras palavras, era ele que falava com o Congresso em nome de Lula.

Agora, uma auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU) coloca sob suspeita um negócio de R$ 100 milhões de Mares Guia no BNDES.

Mares Guia deixou o governo ainda em 2007, após ser citado no chamado "mensalão" do PSDB. A denúncia contra ele prescreveu. Ministro pelo PTB, ele deixou a vida política e se dedicou à vida de homem de negócios.

Empresário discreto, ele ganhou notoriedade recentemente, quando o ex-presidente Lula foi a Curitiba para o tão esperado primeiro depoimento para o juiz Sergio Moro.

Lula surgiu então com um jatinho. Era de Mares Guia, um dos poucos empresários que se manteve próximo ao petista depois da eclosão da Lava Jato.

Uma auditoria do governo federal mostra que um negócio que tem Mares Guia como sócio teve privilégios dentro do BNDES, em 2013. Trata-se de um investimento envolvendo a empresa Biomm, uma fábrica de insulina em Minas Gerais.

A auditoria foi produzida em dezembro do ano passado pela Controladoria-Geral da União e concluiu que não foram seguidas as regras estabelecidas pelo BNDES, que vetariam os cálculos utilizados para o negócio. A diretoria preferiu adotar uma exceção como forma de viabilizar o financiamento milionário.

Houve um financiamento de quase R$ 100 milhões por parte do BNDES, em 2013. E foi aí que começaram os problemas.

Os auditores da CGU descobriram que as regras do banco vetavam um negócio desse volume.

A explicação era simples. O banco adota critérios para evitar que os financiamentos exponham a operação em riscos demasiados. Há controles que colocam um limite de quanto o BNDES pode colocar no negócio, como forma de evitar prejuízos.

De acordo com o próprio BNDES, com essas regras, o limite para financiamento seria de R$ 54 milhões _ quase metade do que foi liberado.

Há um agravante. O projeto estava em fase "pré-operacional". Ou seja, estava apenas no papel, sem gerar negócios. Nessa situação, a regra era clara: "vedava a utilização desta metodologia para empresas pré-operacionais".

As afirmações são do próprio BNDES, ao responder às demandas da CGU.

Mesmo com os vetos, o negócio prosseguiu. A CGU descobriu que a solução encontrada pelo BNDES foi simplesmente não seguir a resolução.

A auditoria descobriu ainda que o BNDES manteve os pagamentos, mesmo com atrasos nas obras.

"Em função da demora na contratação dos financiamentos e realização do aumento de capital, está previsto um atraso de 5 meses no cronograma original. Quanto à execução financeira, o 'G.Ac'. verificou que os recursos foram empregados corretamente, em consonância com os objetivos propostos para a Operação", diz o documento.

Atualmente, a obra está prevista para 2018. O prazo inicial era abril de 2016. Enquanto isso, o projeto da Biomm já deu prejuízos. Isso se agrava porque, além dos financiamentos, o BNDES injetou R$ 24 milhões e é sócio do negócio.

Só em 2016, ano que a fábrica já deveria estar operando, o prejuízo acumulado foi de R$ 115 milhões. Apesar disso, cada membro da diretoria da Biomm poderá ganhar, em 2017, até R$ 1,8 milhão de remuneração.

É um aumento de cerca de 40% em relação ao ano de 2016, quando a empresa deu prejuízo.

Procurado, o BNDES disse que a decisão foi transparente.

"Não existe vedação no BNDES para a realização de operações de crédito com empresas pré-operacionais. Na época da análise da operação de financiamento direto para a Biomm, no valor de R$ 74 milhões, a Resolução interna vigente para cálculo de limite de exposição não previa metodologia aplicável para empresas pré-operacionais com o perfil da Biomm e, portanto, foi proposta excepcionalidade para a definição do valor da operação, o que ficou registrado de forma transparente no relatório de análise do projeto aprovado pela Diretoria".

Em nota, a Biomm disse que desconhece o conteúdo da auditoria.

Segundo a empresa, o prejuízo é esperado. "A fábrica de formulação já está pronta. Iniciam-se agora as validações internas de processos com previsão de término em 2018. Adicionalmente, as insulinas que serão comercializadas estão em fase de aprovação na Anvisa desde meados de 2015. A Biomm cumpre todas as políticas de transparência exigidas de uma empresa listada em bolsa. Por ser pré-operacional, o prejuízo é algo esperado até a implantação dos produtos para comercialização".

Em nota, Walfrido Mares Guia defendeu o negócio e disse que não há relação com a amizade com Lula.

"A respeito da reportagem “Amigo de Lula teve privilégios em negócio de R$ 100 milhões com BNDES, diz auditoria”, o empresário Walfrido Mares Guia esclarece que é apenas acionista e um dos integrantes do Conselho de Administração da Biomm. Trata-se de uma companhia de capital aberto, regida pelo regulamento da CVM.

Walfrido Mares Guia mantém relação de amizade com o ex-presidente Lula há mais de dez anos. O empréstimo da aeronave prefixo PT-BIR para deslocamento do ex-presidente se restringe a este relacionamento. Estabelecer ligação com outros fatos ultrapassa os limites da objetividade.

A Biomm será a primeira empresa da América Latina e uma das poucas do mundo a produzir insulina, medicamento usado no tratamento da diabetes. Sua entrada em operação representará um avanço considerável do Brasil no mercado global da biotecnologia, um dos segmentos da nova economia".

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