• newsbr badge

Sarampo volta a assombrar Europa após crescimento do movimento antivacina

Na Ucrânia, 25% da população acredita que as vacinas não são seguras. Na França, este índice chega a 40%.

Especialistas acreditam que a epidemia de sarampo em curso na Europa – foram registrados mais de 41.000 casos somente neste ano — está ligada ao fortalecimento do movimento antivacina na região, o que poderá levar a novos surtos dessa e de outras doenças evitáveis nos próximos anos.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, ao menos 37 pessoas morreram de sarampo na Europa no primeiro semestre de 2018. Foram mais de 1.000 casos em sete países: França, Geórgia, Grécia, Itália, Rússia, Sérvia e Ucrânia.

A desconfiança acerca das vacinas nesses sete países está "claramente" relacionada aos surtos de sarampo em toda a Europa, diz Heidi Larson, da London School of Hygiene and Tropical Medicine.

O movimento antivacina vem crescendo ano a ano na Europa. A França tem o nível mais alto de desconfiança. Cerca de 40% da população francesa considera as vacinas inseguras, e isso pode ter levado aos cerca de 2.600 casos de sarampo que aconteceram no país neste ano. Na Itália, onde mais de 20% da população não confia nas vacinas, houve mais de 2.000 casos de sarampo.

Na Ucrânia, cerca de 25% da população acredita que as vacinas não são seguras. Isso, bem como a guerra que assola o país e o caos político, explica os espantosos 12.000 casos de sarampo registrados no país neste ano, dizem os especialistas.

Os números da Europa são particularmente impressionantes comparados aos dos Estados Unidos. Embora cerca de 18% da população dos Estados Unidos não confie nas vacinas, apenas 1% das crianças norte-americanas não são imunizadas. Até agora, o Centers for Disease Control and Prevention (Centros de Controle e Prevenção de Doenças) registraram apenas 124 casos de sarampo no país em 2018.

Já no Brasil, até 25 de julho, havia 822 casos confirmados de sarampo em 2018 e 6% das pessoas diziam não confiar nas vacinas.

Grande parte da desconfiança europeia em relação às vacinas se deve a um estudo escrito em 1998 por Andrew Wakefield – e que foi repudiado pela comunidade científica – que associava o autismo às vacinas. A alegação desencadeou um movimento mundial contra as vacinas.

Apesar disso, Larson afirma que o movimento antivacina na Europa está ligado a um ceticismo cultural mais amplo e profundo sobre a autoridade médica, particularmente entre pessoas pobres e marginalizadas "que talvez estejam descarregando sua falta de confiança nas autoridades em geral sobre as vacinas".

O cenário europeu também é agravado por alguns políticos populistas. O italiano Bepe Grillo, por exemplo, já afirmou publicamente que vacinas são perigosas.

Desde o advento da vacina contra o sarampo, nos anos 1960, é raro ver pessoas com seus sinais inconfundíveis: erupção cutânea e tosse. No entanto, como o vírus é muito contagioso, mesmo pequenos grupos de pessoas não vacinadas podem desencadear um surto. "O caso do sarampo sinaliza que devemos nos preparar para mais surtos, e não apenas de sarampo", afirmou Larson.

A caxumba e a rubéola são duas outras doenças infecciosas que podem voltar a se difundir com a falta de vacinação. A vacina tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) é 97% eficaz.

O epicentro do surto europeu é a Ucrânia, onde muitos adultos e adolescentes deixaram de se vacinar em virtude do caos político da última década. Em maio deste ano, o Ministério da Saúde da Ucrânia ampliou a oferta de imunizações para crianças e, em sequência, para adultos com ocupações de alto risco, como professores e médicos.

Desde então, a cobertura de rotina da segunda dose da vacina tríplice viral melhorou “consideravelmente”, informou Siddhartha Sankar Datta, do escritório regional da Organização Mundial da Saúde para a Europa. Agora, 59% das crianças de seis anos receberam a segunda dose, acima dos 31% em 2016. “No entanto, permanece o desafio de vacinar os adultos fora dos grupos de alto risco.”

Alguns grupos europeus antivacina alegam equivocadamente que o aumento da taxa de vacinação de crianças em idade escolar na Ucrânia está causando o surto, ignorando que a maioria dos casos ocorre em adultos e adolescentes não vacinados.

Além disso, em maio, um artigo do American Journal of Public Health relatou que trolls e grupos antivacinas russos estão inundando a internet com campanhas contra a imunização. A própria Rússia teve cerca de 1.400 casos de sarampo neste ano e cerca de 16% das pessoas consideram as vacinas inseguras.


Você já tem o app do BuzzFeed Brasil no seu celular? Baixe gratuitamente no Android e no iOS para ver todos os nossos testes, vídeos, notícias e muito buzz.

A tradução deste post (original em inglês) foi editada por Luísa Pessoa.

Utilizamos cookies, próprios e de terceiros, que o reconhecem e identificam como um usuário único, para garantir a melhor experiência de navegação, personalizar conteúdo e anúncios, e melhorar o desempenho do nosso site e serviços. Esses Cookies nos permitem coletar alguns dados pessoais sobre você, como sua ID exclusiva atribuída ao seu dispositivo, endereço de IP, tipo de dispositivo e navegador, conteúdos visualizados ou outras ações realizadas usando nossos serviços, país e idioma selecionados, entre outros. Para saber mais sobre nossa política de cookies, acesse link.

Caso não concorde com o uso cookies dessa forma, você deverá ajustar as configurações de seu navegador ou deixar de acessar o nosso site e serviços. Ao continuar com a navegação em nosso site, você aceita o uso de cookies.