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YouTube vai começar a reagir contra desinformação na plataforma

Empresa passa a acrescentar, em vídeos que questionam a mudança climática e nos de teorias de conspiração, trechos da Wikipédia mostrando qual é o consenso científico sobre o tema.

O YouTube passou a adicionar nos Estados Unidos um aviso com informações científicas em vídeos que questionam a mudança climática, confirmou o BuzzFeed News. A medida faz parte dos esforços da empresa para combater a desinformação e materiais que instiguem teorias da conspiração na plataforma.

No dia 9 de julho, a empresa passou a colocar uma descrição em texto (com explicações reconhecidas pela comunidade científica) sob alguns vídeos sobre mudança climática. O texto em questão é um trecho do artigo sobre aquecimento global da Wikipédia e expressa que "inúmeras linhas de evidência científica mostram que o sistema climático está se aquecendo".

Esse novo recurso segue o anúncio que o YouTube fez em março de que incluiria trechos da Wikipédia e da Enciclopédia Britânica ao lado de vídeos sobre tópicos ligados a teorias de conspiração, como a aterrissagem na Lua e o atentado de Oklahoma City. Ao fazer o mesmo com vídeos sobre o clima, a empresa parece estar entrando em um território mais disputado e complexo.

"Eu acredito que este alerta terá alguma influência, pelo menos sobre as pessoas que não sabem muito sobre o assunto", acredita Anthony Leiserowitz, diretor do Programa sobre Comunicação da Mudança Climática da Universidade Yale (EUA). "Pode ser confuso para algumas pessoas, mas isso é provavelmente melhor do que simplesmente aceitar vídeos de conspiradores sem provas."

O YouTube não divulgou a lista completa de assuntos que passarão a contar com este alerta. No entanto, um post (de julho) da Wikipédia direcionada aos seus administradores fornece algumas pistas, listando sete assuntos que a empresa gostaria de ajudar a esclarecer: aquecimento global, Base Dulce, Lilla Saltsjöbadsavtalet, o Caso Camarate de 1980, a Agência Federal de Gestão de Emergências (FEMA, em inglês), o incidente de OVNI de Kecksburg e a vacina tríplice. YouTube e Wikipédia parecem estar trabalhando mais juntas desde o anúncio da nova política do YouTube.

O Google, dono do YouTube, tem enfrentando dificuldades para eliminar a desinformação de suas plataformas. Em novembro de 2017, a empresa testou um recurso que verificava os fatos das descrições que apareciam nos resultados de seu motor de busca, mas suspendeu o mesmo em janeiro, depois que alguns erros geraram reclamações.

O YouTube não notificou os usuários cujos vídeos foram afetados de que alteraria sua política, no entanto.

O Instituto Heartland, por exemplo, organização conservadora que publica vídeos de seus funcionários e outros questionando a mudança climática, disse ao BuzzFeed News que percebeu a mudança algumas semanas atrás, mas que não havia sido notificado pelo YouTube. A PragerU, "universidade" online sem fins lucrativos que fez alguns dos outros vídeos afetados, diz que a política do YouTube demonstra seu viés político.

"Apesar de afirmar ser um fórum público e uma plataforma aberta a todos, o YouTube é claramente uma organização de esquerda", disse por e-mail Craig Strazzeri, diretor de marketing da PragerU. "Esse é só mais um erro em uma longa lista de tropeços gigantes que minam a confiança dos Estados Unidos nas grandes empresas de tecnologia, muito semelhante ao que já havia acontecido com as empresas de jornalismo convencionais."

No entanto, o trecho da Wikipédia passou a constar não só em vídeos com teorias da conspiração sobre o clima. O mesmo alerta também aparece em dezenas de vídeos que explicam as evidências e impactos da mudança climática.

"Foi uma surpresa quando vimos que o texto aparecia em vídeos que não eram conspiratórios, mas, sim, vídeos científicos sobre o clima."

"Foi uma surpresa quando vimos que o texto aparecia em vídeos que não eram conspiratórios, mas, sim, vídeos científicos sobre o clima", disse Joe Hanson, que produz inúmeras séries de vídeo, incluindo Hot Mess e It’s Okay to Be Smart. No entanto, ele considera a mudança positiva.

"Eu dou boas-vindas a essa mudança", disse Katharine Hayhoe, cientista da Universidade de Tecnologia do Texas. A ciência climática não é opinião, pois os cientistas concordam que ela está acontecendo com base em fatos documentados, explicou. "Fico feliz de o YouTube estar assumindo sua responsabilidade de maneira séria para ajudar as pessoas a entender a diferença." Hayhoe percebeu que as descrições surgiram subitamente na sua série de vídeos Global Weirding, no YouTube.

O cientista climático Michael Mann comparou as novas mensagens do YouTube às imagens de advertência em maços de cigarro: "Atenção, este vídeo pode ou não estar promovendo fatos reais sobre mudança climática".

O YouTube diz que o objetivo de sua política é dar aos usuários acesso fácil a mais contexto e informação sobre assuntos propensos a desinformação, como mudança climática. E, nos próximos meses, cada vez mais vídeos receberão esses avisos.

A empresa está usando um algoritmo para decidir quais vídeos devem receber os avisos, disse um porta-voz. No momento, eles só estão visíveis a usuários dos EUA e estão sendo implementados gradativamente. Portanto, duas pessoas podem ver o mesmo vídeo e só uma ver a descrição.

O YouTube planeja medir a eficácia de sua estratégia monitorando a frequência com que os usuários clicam na descrição climática fornecida, que direciona à página original da Wikipédia. Se a página for atualizada, o texto que aparece abaixo dos vídeos também será.

E se a página da Wikipédia for editada para incluir informações falsas? O porta-voz do YouTube diz que o texto sob os vídeos não é atualizado imediatamente, criando um período de atraso entre o momento em que a página na Wikipédia é editada e o momento em que a mudança é refletida no YouTube. Isso poderia permitir aos editores da Wikipédia identificar informações incorretas antes que elas apareçam no YouTube – ou fazer com que youtubers furiosos deem mais dor de cabeça à Wikipédia.

De acordo com uma revisão de dezenas de vídeos feita pelo BuzzFeeds News, os avisos aparecem com mais consistência em vídeos cujos títulos contêm "aquecimento global" e "mudança climática".

Em uma série de vídeos enganosos sobre clima publicados pelo site de notícias RT, não há nenhuma nota sobre mudança climática, mas há uma descrição da Wikipédia sobre o publicador dizendo: "O RT é financiado em totalidade ou em parte pelo governo russo".

Jason Reifler, professor de ciência política da Universidade de Exeter, elogiou o YouTube, mas se disse cético sobre o quanto a descrição sobre mudança climática será eficaz e acredita que a plataforma poderia ser mais incisiva para sinalizar que o conteúdo em questão não tem embasamento científico. "Eu tenho dúvidas de que este primeiro passo vá fazer muita coisa. Mas espero que faça!"


A tradução deste post (original em inglês) foi editada por Luísa Pessoa.

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