7 coisas importantes sobre o tempo que você passa no celular

Em resumo: não precisa se preocupar tanto assim.

As pessoas estão passando mais tempo do que nunca olhando para telas.

MGM

Esse aumento não surpreende, pois estamos sempre levando nossas telinhas para tudo que é lugar. De acordo com um relatório da agência Ofcom de 2015, em 2014 as pessoas passaram o dobro do tempo on-line que em 2004, passando para mais de 20 horas semanais, um aumento impulsionado pela onipresença de smartphones e tablets.

O aumento é mais forte entre os mais jovens. O uso da internet quase triplicou entre pessoas de 16 a 24 anos, passando de aproximadamente 10 horas semanais em 2005 para 27 horas e meia em 2014.

Obviamente, isso não determina se o tempo gasto na frente de uma tela é bom ou ruim. Mas muitas pessoas estão preocupadas. Um artigo da revista "The Atlantic" escrito por Jean Twenge levantou a seguinte pergunta: terão os smartphones acabado com toda uma geração? O artigo diz que o aumento no tempo de tela teve um efeito "dramático" – e negativo – na saúde mental, na interação social e até nas vidas sexuais dos adolescentes. Twenge, cujas afirmações são muito controversas, é uma das várias vozes que levantaram essas preocupações nos últimos anos.

Então falamos com quatro cientistas para saber fatos mais concretos sobre como o tempo que passamos na frente das telas pode afetar nossa saúde.

1. O "tempo de tela" não é uma coisa simples de se definir.

Nickleodeon

"Essa ideia de que o 'tempo de tela' é um conceito unitário surgiu de pesquisas sobre o tempo gasto na frente da TV nas décadas de 1970 e 1980", explicou Andrew Przybylski, psicólogo experimental do Internet Institute da Universidade de Oxford, para o BuzzFeed News. "Essa ideia foi levada para a era digital."

Mas, ele ressalta, não contabilizamos da mesma forma o tempo passado com outras coisas: "Não falamos sobre o tempo gasto com jornais, com comida ou com livros". O tempo de tela pode significar qualquer coisa desde uma pesquisa no Wikipedia até X-Videos. Os efeitos dessas duas coisas provavelmente serão muito diferentes. Isso não quer dizer que a questão não deva ser discutida, só que não se resume a "é bom" ou "é ruim".

2. É muito difícil fazer uma boa pesquisa sobre o assunto.

CBS

Não existem muitas evidências sobre o impacto do tempo de tela em nossas vidas – nem positivas, nem negativas, diz Suzi Gage, psicóloga na Universidade de Liverpool. Existem várias pesquisas, mas seus resultados são imprecisos e difíceis de interpretar. "Não é que as pesquisas sejam ruins", diz. "São apenas difíceis de fazer."

Basicamente, digamos que você analisou 10.000 pessoas que gastam muito tempo na frente das telas e outras 10.000 pessoas que dificilmente olham para uma, e você descobre, digamos, que quem passa mais tempo na frente das telas é mais feliz do que o outro grupo. Isso vai provar que as telas deixam você mais feliz?

Bom, não. Talvez as pessoas que olham mais para as telas sejam realmente mais felizes mas pode ser porque em média têm menos problemas de dinheiro e talvez isso as deixe mais tranquilas. Você pode tentar contornar isso, comparando pessoas com rendas similares, mas ainda não é uma solução 100% segura. "As pessoas que gastam mais tempo na frente das telas podem ser diferentes de maneiras que nem sempre entendemos", diz Gage. "É difícil saber o que causa uma correlação."

Esse é um problema comum nesse tipo de pesquisa. Mas é ainda mais difícil nesse caso específico das telas, pois a direção da causalidade pode ficar muito confusa. Se pessoas que são socialmente ansiosas gastam mais tempo na frente de uma tela, é porque as próprias telas estão gerando ansiedade? "Talvez elas gastem mais tempo na frente das telas porque acham difícil interagir com as pessoas cara a cara", diz Gage. Se esse for o caso, então as telas podem melhorar ativamente a vida social dessas pessoas em vez de prejudicá-las.

E, ainda, pode ser que as telas não sejam o problema, mas sim a quantidade de tempo gasto com elas. "O difícil de saber é: o que elas estão deixando de fazer em vez de olhar pro celular?", pergunta Gage. "Estão dormindo menos? Estão saindo menos de casa? Estão socializando menos? Podem existir várias coisas que estão perdendo ao gastar tanto tempo na frente das telas. Separar isso do tempo de tela é difícil."

3. Pode haver uma relação entre o tempo de tela e a saúde mental, mas ela é complexa.

Tarik Kizilkaya / Getty Images

Uma pesquisa do próprio Przybylski já defendeu que uma quantidade "moderada" de tempo de tela – máximo duas horas por dia durante a semana e um pouco mais nos fins de semana – estaria, na verdade, correlacionada com uma melhora na saúde mental dos adolescentes.

Novamente, isso pode não ser tão surpreendente assim. "Se você tem filhos que nunca ficam na frente das telas, quer dizer que eles não usam mídias sociais", diz Pete Etchells, psicólogo da Universidade Bath Spa, ao BuzzFeed News. "Se os amigos deles estiverem nessas mídias, significa que seus filhos estarão automaticamente excluídos desses grupos sociais."

Se você gastar mais tempo na frente de uma tela do que isso, sua saúde pode sentir algum efeito negativo, mas ainda assim leve. "Mesmo em níveis excepcionais, estamos falando de um impacto muito pequeno", disse Przybylski. "Em termos de bem-estar, é aproximadamente um terço do efeito negativo de não tomar o café da manhã ou de não dormir oito horas."

Pesquisas anteriores também são duvidosas. Gage mencionou uma revisão de literatura que analisou quatro pesquisas de tempo de tela e ansiedade. "Em duas foram encontradas uma correlação positiva, em uma não foi encontrada uma correlação e em outra foi encontrada uma correlação negativa." Ela também disse que é possível apontar para uma correlação entre depressão e tempo de tela, mas, novamente, não é possível bater o martelo se essa relação é de causa ou efeito.

4. Se isso te preocupa, talvez seja melhor focar na QUALIDADE do seu tempo de tela, em vez da quantidade.

Adam Ellis / BuzzFeed

"Ok, só dez minutos de internet antes de dormir... Merda".

"Nos últimos anos, começou-se a se dizer até que o tempo de tela faz bem, desde que seja de alta qualidade", diz Przybylski. O problema, ele diz, é que não existem orientações concretas, então estamos nos afastando do domínio das hipóteses científicas testáveis. Mesmo assim podem ser feitas algumas suposições plausíveis sobre o que realmente conta como "tempo de qualidade". Digamos, deixar seus filhos ligarem para os avós no Skype.

Obviamente vai depender das decisões de cada um, mas já é melhor do que um conceito vago como "tempo de tela bom/tempo de tela ruim". "Como pai me parece a coisa mais sensata", diz Przybylski.

Etchells concorda: "Você pode comparar com comida. Existe comida não saudável e comida saudável. Ninguém sairia falando que comida em geral é ruim." Ele cita o exemplo dos games. "De um lado, existem jogos como Final Fantasy, que demora 50 horas para terminar, a história se parece com um filme épico e você só compra uma vez", diz.

"Por outro lado, existem jogos 'freemium', que você baixa de graça, mas que são projetados para ganhar dinheiro por meio de microtransações. Esses jogos têm um número infinito de fases muito semelhantes, você ganha ou perde rapidamente, e essas fases mexem com nossa impulsividade, como as máquinas caça-níqueis."

5. Tudo o que é demais é ruim, então vale pensar em moderação.

Fox

"É uma questão de bom senso", diz Etchells, "passar um tempo usando mídias sociais não tem problema. Se virarem 18 horas por dia, então é preocupante."

Tudo em excesso é ruim, então parece meio óbvio, mas tempo de tela também precisa ser usado com moderação, ele diz. Ler livros geralmente é visto como uma coisa "boa", e não ler nada é visto como ruim – mas se você passasse 12 horas por dia lendo romances, e por isso faltando à escola ou ao trabalho e gastando todo seu dinheiro comprando livros, então viraria algo ruim.

E, claro, o que você DEIXA de fazer é tão importante quanto o que você FAZ. Se para ficar no computador você deixa de fazer um exercício ou ter amigos, então é ruim – não porque as telas são ruins, mas porque ter uma vida é bom.

6. Você não precisa se preocupar tanto assim com o efeito das telas sobre seu sono, mas é preciso sim ter um pouco de cuidado, especialmente entre os adolescentes.

Universal Pictures

Russell Foster, professor de ciência do sono na Universidade de Oxford, disse ao BuzzFeed News que houve um grande "alvoroço da mídia" sobre os efeitos das telas sobre o sono. A ideia comum é que a luz azul do smartphone engana seu cérebro e faz com que ele fique mais alerta do que deveria, suprimindo a produção de melatonina, hormônio indutor do sono. Por isso a Apple até introduziu o recurso "noturno" que diminui a luz azul. Apesar disso, as evidências de que isso tenha algum efeito são "muito fracas", diz Foster.

"Uma pesquisa que analisou pessoas lendo livros digitais com o brilho no máximo, por quatro horas antes de dormir, durante cinco noites, relatou um atraso de 10 minutos no início do sono", disse. Isso não é nada comparado a, por exemplo, uma xícara de café. E é difícil dizer se a causa foi a luz ou apenas o conteúdo do livro. ("Todos nos lembramos quando lemos 'Tubarão' pela primeira vez", diz. Os livros nem sempre nos ajudam a dormir.)

Mas, como regra geral, é uma boa ideia evitar luzes fortes – incluindo, por exemplo, entrar em um banheiro bem iluminado – um pouco antes de dormir, diz. É especialmente verdade para os adolescentes, cujo relógio interno é naturalmente adaptado para dormir tarde e acordar tarde. "Tudo o que não contribui com seu cansaço naquele momento não é útil." Isto não está relacionado com a tela, mas ele diz: "eu não leio artigos científicos nem qualquer outra coisa antes de dormir. Costumo ler romances bem simples, fáceis e pouco exigentes."

7. Em geral, dizer que os celulares estão acabando com nossas vidas é um baita de um exagero.

Getty / The Atlantic / BuzzFeed News / Via theatlantic.com

"Terão os smartphones destruído uma geração?"

"As pessoas insistem em fazer das telas as grandes vilãs da sociedade", diz Etchells.

Essas previsões assustadoras são "prematuras na melhor das hipóteses", diz Gage. "Todos dizem que 'as telas afetam seu cérebro', mas qualquer coisa pode afetar seu cérebro", diz. "É claro que as telas alteram nossa maneira de interagir, mas o avanço da tecnologia faz o mesmo. Esses são os mesmos argumentos que foram usados quando inventaram a televisão."

"Eu definitivamente não acho que existam provas suficientes para sustentar algo tão forte. É um exagero."

Portanto, não se preocupe tanto com o tempo que você passa na frente das telas. Não tem porque achar que isso é necessariamente ruim – mas, claro, como com qualquer outra coisa, pense se você está exagerando e o quanto isso afeta sua vida social.

Este post foi traduzido do inglês.

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