Parte da base aliada do presidente Michel Temer na Câmara não gostou nada da escolha do deputado Sergio Zveiter (PMDB-RJ) para a relatoria da denúncia contra o presidente da República na CCJ da Câmara.
Isso porque o escritório de advocacia de sua família tem ligação histórica com a a Rede Globo e integrantes da família da Marinho, para quem já atuou em diversos processos, incluindo o divórcio litigioso de Roberto com Ruth Albuquerque.
Desde a delação do empresário Joesley Batista, da JBS, aliados de Temer têm sido críticos à Rede Globo e à cobertura considerada dura sobre as denúncias contra o presidente.
Por isso, as primeiras avaliações são de que, diferente dos interesses do Planalto, Zveiter não deve atender os apelos do governo para a produção de um relatório que pegue leve com o presidente.
Em maio, o jornal O Globo revelou a delação de Joesley Batista envolvendo o presidente. Em editorial, a publicação pregou a renúncia do presidente.
Em sucessivas ocasiões, o presidente negou ter sido destinatário de propina da JBS assim como refutou que tenha conspirado para calar potenciais delatores da Lava Jato.
REBELADO
Desde a semana passada emissários do Planalto tentavam convencer o presidente da CCJ da Câmara, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), a indicar para a relatoria da denúncia na Comissão um nome mais afável ao Planalto.
Pacheco foi reticente aos pedidos e fez acender a luz amarela entre governistas. Apesar de cotado para a vaga, a escolha do nome de Zveiter foi guardada pelo presidente da CCJ praticamente até o momento de sua oficialização no posto.
Deputados do PMDB da Câmara chegaram a dizer que Pacheco havia “se rebelado” e não aceitaria nomes impostos pelo Palácio do Planalto.
Com a escolha do relator, integrantes da base já começam a duvidar se o calendário de votação do governo será viabilizado.
O governo queria que o relatório da CCJ fosse votado já na semana que vem, o mesmo acontecendo com a apreciação final do material no plenário.
Mas, a atuação de Pacheco e a nomeação de Zveiter podem impedir o cronograma. Em tese, os dois podem usar até 15 sessões para a conclusão do processo na CCJ.
Somente após a tramitação no colegiado, é que o parecer será encaminhado ao plenário.
Para que a denúncia contra o presidente, que responde por corrupção passiva, possa prosseguir, são necessários os votos de 342 deputados.
Devido ao número expressivo (ao todo são 513), o Planalto espera conseguir barrar a denúncia no Plenário.
Caso não tenha êxito, o material será encaminhado ao STF. No caso de a corte receber a denúncia, Temer será afastado da presidência por até 180 dias enquanto o processo é julgado.