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Uma mensagem de WhatsApp provocou um pandemônio na campanha de Bolsonaro

A ascensão de Gustavo Bebianno e Gulliem Lemos ao comando da campanha dividiu a militância do líder nas pesquisas num turbilhão de acusações e ameaças.

Quando se trata de política e da estratégia da campanha para a Presidência da República, as duas pessoas que hoje mais fazem a cabeça de Jair Bolsonaro (PSL), além de seus filhos, são Gustavo Bebianno e Gulliem Lemos.

A ascensão política dos dois após se aproximarem de Bolsonaro – Bebianno se tornou presidente interino do PSL, e Gulliem, vice-presidente – provocou reação de militantes bolsonaristas que há mais tempo seguem o deputado e até mesmo nos filhos do parlamentar, que em conversas reservadas dizem não gostar do poder que a dupla exerce sobre o pai.

Um texto apócrifo com acusações contra Bebianno e Gulliem circulou recentemente em grupos de WhatsApp de pessoas próximas a Bolsonaro e da cúpula do PSL. (Leia trechos desse texto abaixo.)

Lei Maria da Penha

Enquanto Bolsonaro, que lidera as pesquisas no cenário eleitoral mais provável da disputa à Presidência (sem a presença de Lula), vem tentando amenizar seu jeito truculento e repleto de, como o próprio diz, “caneladas”, a dupla que comanda o PSL não suavizou seu estilo – o que vem dando munição aos críticos.

Gulliem, hoje é candidato a deputado federal pelo PSL na Paraíba, é alvo de processos com base na Lei Maria da Penha. Sua ex-mulher diz que, além de agressões e ameaças, ele sempre anda armado. Também já foi condenado a um ano de reclusão por falsidade ideológica, mas o caso prescreveu e ele acabou não cumprindo pena. Também responde a processos trabalhistas.

Bebianno, por sua vez, não mede palavras quando se sente contrariado. Xinga, ameça e diz que vai processar – como fica claro em áudio obtido pelo BuzzFeed News após a divulgação da mensagem de Whatsapp crítica a ele.

A reportagem ouviu uma série de apoiadores de Bolsonaro. Dizendo temer retaliações físicas e jurídicas, todos pediram para não ter seus nomes citados.

Veja o relato da ex-mulher de Gulliem à polícia num dos casos em que ele responde pela Lei Maria da Penha:

Bebianno

Advogado que atuou no escritório de Sérgio Bermudes, Bebianno começou a se relacionar com Bolsonaro em 2017, frequentando o Clube de Golfe no Rio, onde costumavam se encontrar integrantes do Patriotas, partido pelo qual o deputado planejava, à época, disputar a eleição.

Dizendo-se decepcionado com o Brasil e querendo se mudar para os Estados Unidos – onde chegou a passar uma temporada aprendendo inglês e o direito americano –, passou a afirmar que, por acreditar no projeto de Bolsonaro, estava disposto a ficar no país e a se colocar como um colaborador da campanha.

No grupo do “capitão”, fez alguns trabalhos jurídicos e aproximou Bolsonaro de figuras importantes da sociedade carioca.

Segundo os apoiadores de Bolsonaro ouvidos pela reportagem, Bebianno teria se vendido como uma pessoa com alguma influência sobre o ministro do STF Luiz Fux.

Como Bolsonaro responde a processos no Supremo (por ofensas à deputada petista Maria do Rosário e pela acusação de racismo contra quilombolas), uma ajuda na corte não seria de se jogar fora.

(Se realmente existe esse relacionamento de Bebianno com Fux, no entanto, ele não se mostrou produtivo: o ministro, na acusação de racismo, tem atuado para acelerar o processo.)

Nesse processo, Bebianno foi ganhando a confiança de Bolsonaro, mas não para assumir qualquer cargo.

Quando Carlos Bolsonaro, filho do deputado, resolveu ficar na Câmara de Vereadores do Rio e não se lançar a deputado federal, Bebianno tentou abocanhar a vaga.

Bolsonaro, no entanto, nunca gostou da ideia. Numa ocasião, enquanto o deputado fazia uma gravação, Bebianno chegou a tentar gravar, na hora, um vídeo de apoio do “capitão” a sua candidatura. De pronto, foi rechaçado por Bolsonaro.

Sem o aval para ser candidato a deputado federal, tentou emplacar seu nome como segundo suplente na chapa de outro filho de Bolsonaro, Flávio, ao Senado. Dessa vez, foi Flávio quem não quis.

Depois disso, segundo apoiadores que acompanham Bolsonaro há mais tempo, Bebianno passou a operar numa tentativa de ser o próprio candidato a vice-presidente na chapa presidencial.

A estratégia de Bebianno, segundo os relatos dos bolsonaristas, era articular contra os vices cogitados e deixar o tempo correr – para que, sem outra opção, Bolsonaro tivesse que aceitá-lo na chapa. O plano, também não deu certo, pois Bolsonaro contava com o general Hamilton Mourão, que acatou o pedido do deputado na fase final de montagem das chapas.

A história das sabotagens aos vices é, inclusive, citada na postagem de WhatsApp – e que acabou chegando ao Facebook (veja íntegra aqui) – que levou Bebianno a ameaçar e xingar quem ele achou que era responsável pelo texto.

Leia trechos do zap que causou uma enorme confusão no núcleo da campanha de Bolsonaro:

"Bandidos tomaram de assalto o partido do Capitão e hoje colocam em risco a candidatura do próximo presidente do Brasil.

Presidente e vice-presidente atuais, que deveriam seguir as orientações do Bolsonaro, mudaram o estatuto do partido e hoje são os que decidem sobre candidaturas majoritárias e não mais os Estados. Com isso, fizeram do PSL um grande balcão de negócios. Vendem candidaturas a governo de Estados por milhões de reais, pedem apartamentos em troca. Aceitam coligações nos Estados com partidos de Esquerda e apoiam candidaturas de conhecidos picaretas, como é o caso, em Pernambuco, Tocantins, Bahia, Paraná e outros Estados.

[…] Se atentarem contra a candidatura do próximo presidente desse país, não existirá mais lugar no mundo para eles, restará a eles, apenas o inferno. A militância fará justiça com as próprias mãos!

#ForaJulianLemos #ForaGustavoBebianno #LimpezaNoPSL”

Bebianno foi gravado numa ligação a um militante chamado Edson Alex, que ele acreditava ser o autor do texto. Ouça:

Reprodução

Bebianno faz ameaças e xinga militante do PSL suspeito de ter divulgado zap crítico a ele

Bebianno: Tenho aqui algum caminho. Duas pessoas eu já peguei, que reproduziram. Estas duas pessoas estão se cagando de medo, pois são dois frouxos. E eu vou processá-las na esfera criminal. E ambas estão dizendo que foi você.

Eu estou perguntando realmente se foi você, porque eu vou te dar a oportunidade de falar na minha cara, se você for homem.

Alex: É, meu querido…

Bebianno: Então amanhã, eu vou até Fortaleza. Escuta. Vou tomar um avião, vou até Fortaleza…

Alex: Hum…

Bebianno: E quero ver se você é homem para falar na minha cara metade do que está escrito ali naquela porra daquela mensagem de viadinho que foi escrita, entendeu?

Se você está dizendo que não foi, eu vou pela esfera cível e criminal e vou foder a vida de quem escreveu aquele bando de impropérios, entendeu? No lugar de a gente estar unido fica um bando de babaca criando esse tipo de viadagem, de babaquice.

Então eu vou perguntar mais uma vez. Diz que foi você que eu vou amanhã aí te ver.

Alex: Meu filho, você pode vir, o que eu sei, a minha opinião… Olhe, você falou, agora deixa eu falar. Você falou eu vou falar. A minha opinião em relação a vocês o Bolsonaro sabe, eu converso com Bolsonaro, ele sabe. Eu não tenho medo de você. Olhe. Eu não tenho medo de você, a minha opinião, que eu tenho de vocês o Bolsonaro sabe. Se você quiser pesquisar essa merda que você está dizendo aí… É, tudo o que você está falando ai…

Bebianno: Você é um merda, rapaz. Você vai me encontrar nos tribunais, eu vou processar você.

Alex: Processe, pois prove que aquele texto é meu. Pois prove que aquele texto é meu, viu? Prove.

Bebianno: Um bosta, você é um merda.

Alex: Você que é um merda, você. Você que é um bosta, viu?

Procurado pela reportagem, Edson Alex não quis dar entrevistas. Após ouvir o áudio em posse da reportagem da conversa que manteve com Bebianno, limitou-se a dizer que não iria discutir questões internas do partido pela imprensa para não atrapalhar o projeto de Bolsonaro e desligou o telefone.

Bebianno criou um constrangimento para Bolsonaro nesta semana, quando declarou que o candidato não iria mais participar de debates na campanha. Depois da repercussão negativa, Bolsonaro disse que participaria, sim, dos três debates que já estão programados.

Gulliem

Usando o nome eleitoral de Julian Lemos, Gulliem é candidato a deputado federal na Paraíba. Seu ingresso no grupo de Bolsonaro foi anterior ao de Bebianno.

Por ter empresa do ramo de segurança (que acabou não dando certo e gerou vários processos trabalhistas), Gulliem buscou interlocução com Bolsonaro se apresentando como expert justamente num setor tão caro ao “capitão”.

Conseguiu integrar o grupo mais próximo do deputado, e a partir daí ele e Bebianno iniciaram um projeto para afastar os antigos militantes bolsonaristas dos grupos de comando, até mesmo reduzindo o acesso de quem acompanhou o parlamentar nos últimos 10 ou 15 anos ao hoje candidato a presidente.

Patriotas

Durante o período do Patriotas, Bebianno sugeria a Bolsonaro que a legenda acabaria sendo "vendida" para Geraldo Alckmin (PSDB) e que, portanto, o deputado não conseguiria viabilizar seu projeto eleitoral.

O argumento que serviu de gota d’água foi quando o Patriotas patrocinou uma ação no STF que poderia acabar com as prisões em 2ª instância e salvar Lula.

Ao apresentar tais problemas para Bolsonaro, a dupla já vinha negociando com o PSL o ingresso do grupo no partido, mediante promessa de controle da legenda pelo menos até o fim do processo eleitoral.

Ou seja, ao minar a confiança de Bolsonaro no Patriotas com uma mão, com a outra apresentaram a solução PSL – partido do qual Bebianno se tornou o presidente em exercício da sigla, e Gulliem, o vice.

Em posse da chave do cofre partidário, e com o poder de colocar quem quisessem nos diretórios regionais, eles promoveram seus aliados. Hoje a dupla controla o partido com mão de ferro e goza da confiança de Bolsonaro.

Eles ficam à frente da sigla até o final do pleito, quando Luciano Bivar deve retomar o comando. Isso, claro, se Bebianno e Gulliem não conseguirem também minar o poder do antigo mandatário do PSL.

Outro lado

A assessoria do PSL disse que Gulliem Lemos e Gustavo Bebianno estavam em campanha e não poderiam falar com o BuzzFeed News. Mas a assessoria disse que "as medidas legais já estão sendo tomadas contra as pessoas que divulgaram as acusações falsas pelo Facebook e pelo WhatsApp".

Caso algum deles queira se manifestar, este post será atualizado.

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