José Carvalho Filho, um dos delatores da Odebrecht e responsável por operacionalizar o repasse de dinheiro da empresa para políticos, disse nesta sexta-feira à Justiça Eleitoral que o atual ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, foi quem gerenciou R$ 4 milhões de caixa 2 entregues pela empreiteira para o PMDB.
De acordo com ele, Padilha recebeu “senhas” e forneceu quatro endereços para a entrega de recursos, entre eles, o escritório de advocacia do amigo e ex-assessor especial de Michel Temer, José Yunes.
Os detalhes oferecidos pelo delator apertam o cerco ao presidente e a seu principal operador político.
José Yunes já disse ao Ministério Público que foi “mula involuntária” de Padilha, que teria lhe pedido para receber um “pacote” em seu escritório de advocacia. O conteúdo, diz Yunes, nunca foi por ele identificado.
Padilha está afastado há duas semanas por razões médicas. Ele se submeteu a uma cirurgia de próstata em Porto Alegre.
O delator disse ainda que, do montante, R$ 500 mil foram destinados ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha.
O depoimento desta sexta-feira aconteceu a pedido do relator do processo no TSE, Herman Benjamin, que queria desfazer contradições encontradas nos depoimentos de Marcelo Odebrecht e do ex-vice-presidente de relações institucionais da companhia, Cláudio Melo Filho.
Conforme o BuzzFeed Brasil apurou, Marcelo manteve sua versão de que, no jantar realizado em maio de 2014, com Michel Temer e Padilha no Palácio do Jaburu, não foram discutidos valores.
O ex-presidente do grupo Odebrecht chegou a dizer que seria uma descortesia e falta de educação de sua parte falar em cifras com o então presidente do PMDB.
Cláudio Melo Filho, por sua vez, também manteve sua versão, e disse que sim, que valores foram discutidos durante o jantar.
Segundo ele, a intenção de Marcelo era entregar R$ 10 milhões para a campanha de Paulo Skaf ao governo de São Paulo, mas, durante o encontro, ficou acertado que do valor, R$ 6 milhões iriam para o paulista e R$ 4 milhões para o PMDB sob o comando de Padilha.
Durante o depoimento, Benjamin não deixou que se avançasse em informações sobre a campanha de Skaf, pois ela não era alvo da ação no TSE, e sim a chapa Dilma/Temer.
Por isso, o ministro Herman Benjamin quis saber se os R$ 4 milhões eram de caixa 1 ou de 2 da Odebrecht.
Tanto Marcelo quanto Cláudio Melo Filho disseram não saber, uma vez que para a empresa, após acertados os valores, a entrega por caixa 1 ou 2 dependeria de cada situação e que só os operadores dos recursos poderiam identificar cada caso.
Devido a isso, foi convocado para depor José Carvalho Filho, o responsável pelos repasses.
Ele disse que os R$ 4 milhões eram de caixa 2 e que Padilha lhe entregou quatro endereços para os pagamentos.
Um dos questionamentos feitos por Benjamin a todos os envolvidos era se o dinheiro abasteceu ou não a campanha presidencial. Nenhum deles soube dizer. Isso por que, ainda segundo os delatores, somente Padilha, destinatário dos recursos, poderia fornecer tal informação.
Desde que os depoimentos de delatores da Odebrecht tiveram início no TSE, Temer tem assegurado, tal como fez Marcelo, que não discutiu valores no jantar.
Eliseu Padilha diz que nunca recebeu recursos ilícitos. O mesmo fez Paulo Skaf.