O deputado Luis Miranda (DEM-DF) foi convocado às pressas, no dia 12, para evitar a aprovação de um requerimento apresentado por engano por um membro do PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, e que era de interesse da oposição.
Bem-sucedido na operação de abafar o vexame, Miranda não contou com a gratidão do deputado Eduardo Bolsonaro, que comanda o diretório paulista do PSL: foi chamado de arrogante num tuíte do filho do presidente.
"Olha a inconsequência do cara", disse Luis Miranda ao BuzzFeed News. "Eu sou presidente da frente parlamentar da reforma tributária, que será o próximo tema de maior importância do Congresso. Eu tenho 300 parlamentares na frente, sou membro da comissão especial da reforma tributária e o governo vai tacar pau?"
A operação para salvar o PSL de mais uma de suas trapalhadas na articulação política na Câmara dos Deputados, no 12, começou com Miranda se explicando aos colegas: “Fui chamado, estava em outra comissão, e vim correndo pois achei que minha presença aqui poderia ajudar em algo...”
Três dias antes havia sido publicada a primeira leva de reportagens do site The Intercept Brasil sobre as trocas de mensagens entre o ministro Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol.
Tudo o que o governo queria era manter distância do tema, enquanto avaliava estratégias para enfrentar o episódio. Mas, para surpresa — e alegria — da oposição, um deputado do próprio PSL, partido de Bolsonaro, apresentou um requerimento na comissão de Segurança Pública pedindo a presença, na Câmara, do jornalista Grenn Greenwald, do Intercept. Com isso, pretendia obrigá-lo a revelar a fonte que lhe enviou as mensagens.
A oposição festejou o requerimento, pois a presença de Glenn ampliaria o barulho político já causado pelas reportagens. Com isso, Miranda, que é do DEM, foi chamado às pressas e, chegando de outra comissão, pediu a palavra. Manobrando o regimento da Câmara, Miranda conseguiu atrasar os trabalhos e impediu a votação da convocação de Greenwald.
Após salvar o PSL, o deputado chegou a receber convites de integrantes do partido do presidente para que ingressasse na sigla.
Mas, por ser um crítico do escritor Olavo de Carvalho, guru intelectual da família Bolsonaro, acabou sendo vítima do filho político mais novo do presidente, Eduardo. No Twitter, o parlamentar disse que Miranda não seria bem-vindo ao seu partido.
Não sei se de fato o dep. @luismirandabr foi convidado,mas já adianto: por mim não seria bem vindo. A arrogância com a qual fez questão de gravar vídeo destratando Paulo Guedes,as palavras dirigidas a @opropriolavo e o apoio a Ciro em 2018 denotam não ser um parlamentar alinhado.
“Eles atacam o Luis Miranda porque ele falou mal do Olavo de Carvalho. O que isso tem a ver com o governo, com mudar e melhorar o país? A promessa do Bolsonaro era de trabalhar para todos, mas, na verdade, eles trabalham com a ideologia do Olavo”, disse Miranda ao BuzzFeed News.
A seguir, as principais críticas do deputado à articulação política do governo e ao partido do presidente Bolsonaro:
Bando de autônomos
“Sendo bem sincero, o PSL não tem orientação, eles não fazem reunião de bancada, não sabem como proceder nas comissões ou no Parlamento. É uma questão visível, eles não formam um partido, são um bando de deputados autônomos. Falta um técnico, alguém que oriente como eles devem se comportar e agir, não tem estratégia, são solos. E nessa visão solo eu temo porque eles prejudicam a base.”
Incontroláveis
“Um exemplo: em diversas votações fazemos acordos e concordamos em votar com o governo, Mas, na hora que começa a discussão, um membro do PSL ataca o partido [o DEM, de Miranda], nos chama de centrão. E nisso o partido se reposiciona. O líder nos diz que não dá pra votar com governo desse jeito, e eles perdem aliados. Eles [do PSL] são incontroláveis. Não são todos, diria que há metade extremamente competente, mas a outra metade é extremamente incompetente.”
O "príncipe" Eduardo Bolsonaro é um "descontrolado"
“E [o problema] não são só membros do baixo clero, o próprio príncipe [Eduardo Bolsonaro] é um descontrolado. Meu trabalho de articulação é desfeito pois o príncipe ataca os parlamentares que são líderes e que atuam em prol do governo. E eu vou perder esses aliados que a muito custo foram juntados por nós e por aqueles que são competentes no PSL.”
Descontrole emocional
“O conceito de desorganização do PSL extrapola tudo, vai para o nível de descontrole emocional. Eles atacam [os deputados] como se fosse levar o PSL a ter resultado positivo, e não vai. Os bons vão sair do PSL.”
Eles só tuítam e não fazem nada
“Qualquer interesse do governo eu não vou atender, vou atender o interesse popular. Se o interesse do governo for o mesmo da população, ok, mas as vezes o governo tem interesses divergente. Se querem pregar para fora, vou pregar para fora igual eles. Mas farei isso sem ser pelo Twitter. Como diz meu amigo Rodrigo Maia: a gente não prega pelo Twitter, a gente age. Nós fazemos o que é importante para a população enquanto eles tuítam e não fazem nada”.