Aguardado para a manhã desta terça-feira, o julgamento do processo que poderia levar ao afastamento do chefe da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallognol, foi adiado pelo corregedor do CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público), Orlando Rochadel.
Segundo ele, Deltan precisava de mais tempo para se defender da ação proposta pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL), que o acusou de ter agido politicamente ao fazer campanha em redes sociais contra sua eleição à presidência do Senado.
Para o corregedor, o prazo extra se fez necessário pois na última quinta-feira (8) Renan enviou ao CNMP um pedido de afastamento do procurador.
A ação foi vista como uma manobra por parte dos conselheiros, que em conversas informais, entre elas com o próprio Rochadel, ponderaram que Deltan já havia se defendido dos fatos alegados por Renan e que um requerimento de afastamento, com base no que já estava nos autos, não poderia ser interpretado como uma nova denúncia apta a abrir prazos para a defesa.
A tese desses conselheiros foi ignorada por Rochadel, que anunciou o adiamento do caso durante a sessão, o que gerou reações públicas de dois conselheiros.
Luiz Fernando Bandeira criticou a demora para a análise dos casos relativos a Deltan, disse que o Conselho foi provocado por diversas vezes ao longo dos últimos meses e sempre encontrou caminhos para impedir que o colegiado se pronunciasse sobre o destino do procurador.
“Processos relevantes acabaram sendo subtraídos da pauta do plenário”, disse. “Não podemos nos furtar a apreciar esses casos [sobre Deltan] que fiz referência para que esse Conselho possa se pronunciar, para que não fiquemos alijados. Os órgãos falam pela maioria, não se pode alijar o plenário disso”, completou.
Bandeira ainda cobrou que o corregedor colocasse em votação o processo de Renan contra Deltan na próxima sessão do colegiado, que acontece no dia 27.
Ele foi acompanhado pelo conselheiro Leonardo Accioly, que também cobrou o corregedor para que na próxima sessão o caso entre em pauta.
Além da reclamação de Renan, Deltan ainda responde por ter associado, numa entrevista, os nomes dos ministros do STF Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli como lenientes com a corrupção.
Com Deltan no centro do furacão do CNMP, os conselheiros Erick Venâncio e Accioly ainda pediram o desarquivamento do primeiro processo contra Deltan relativo às mensagens vazadas pelo site The Intercept Brasil.
O caso havia sido arquivado monocraticamente com uma canetada do corregedor Rochadel. À época ele argumentou que não havia como se ter comprovação das mensagens.
Com o desarquivamento, o caso será agora sorteado para um novo conselheiro e, devido aos prazos para a defesa e produção de relatório, pode não haver tempo hábil para que seja julgado ainda este ano.