Em meio à pandemia do coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro promoveu uma grande mudança nas posições de comando das Forças Armadas. As alterações dos ocupantes dos postos que comandam tropas em todo o país foram publicadas na edição desta quinta-feira (26) no Diário Oficial da União e serão efetivadas em 31 de março.
Está viralizando no WhatsApp uma das páginas do Diário Oficial com as mudanças em meio a elocubrações sobre o momento em que o presidente tem sido enfrentado abertamente por governadores em torno das medidas para combater a epidemia.
Ontem, Bolsonaro e o ex-aliado João Doria (PSDB-SP) chegaram a discutir abertamente na teleconferência para tratar do enfrentamento da doença. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM-GO), aliado de primeira hora de Bolsonaro, anunciou o rompimento com o presidente por divergir de como o Planalto tem atuado na crise do coronavírus.
O Ministério da Defesa ainda não se pronunciou sobre as mudanças. Segundo militares ouvidos pelo BuzzFeed News, as mudanças nos comandos de unidades estratégicas nas regiões estavam previstas desde fevereiro, antes, portanto, da eclosão da crise do coronavírus.
Data que marca o golpe de 1964, o dia 31 de março tem sido a tradicional data de trocas de comandos nas Forças Armadas, quando há transferência de militares para a reserva, promoções, e remanejamento em postos de comando.
Neste ano, contudo, as mudanças foram publicadas depois que houve um distanciamento claro entre o que dizem o presidente e o comandante do Exército, general Edson Leal Pujol, no meio da crise do coronavírus.
Na terça-feira, duas horas antes do pronunciamento em que Bolsonaro tachou o coronavírus como "gripezinha" e "resfriadozinho" e atacou governadores por promoverem o que seria uma política de "terra arrasada", o comandante do Exército apareceu em vídeo nas redes sociais pregando a importância do combate ao coronavírus.
“Talvez seja a missão mais importante de nossa geração”, disse o general.
O vídeo com a mensagem do general já conta, nesta quinta, com quase 1 milhão de visualizações no canal do Exército no Youtube.
QUEM ENTRA E QUEM SAI
Ao todo, o Diário Oficial da União de hoje traz, entre nomeações, transferências para a reserva e promoções, 99 atos do presidente.
Na cúpula do Exército, o posto de chefe do Estado-Maior do Exército, que estava vago desde a ida do general Braga Netto para a chefia da Casa Civil, será assumido pelo general Marcos Antonio Amaro, atual comandante militar do Sudeste. Amaro trabalhou durante cinco anos fazendo a segurança da ex-presidente Dilma Rousseff.
O Estado-Maior do Exército é responsável pela administração de recursos e logística das forças terrestres. É dele que também são emanadas diretrizes e planejamentos estratégicos para o uso das tropas, atuando em conjunto com o comando militar do Exército.
Nos Comandos Militares das Regiões, houve várias substituições. No Sul, entra o general Valério Trindade no lugar do general Antonio Miotto, que foi para a reserva.
No Sudeste entra o general Eduardo Antonio Fernandes no lugar de Marco Antonio Amaro (que agora é o chefe do Estado-Maior do Exército).
Também hou troca no Oeste, o Comando Militar da região fica sob a responsabilidade do general Fernando Soares e Silva, que entra no lugar do general Lourival Carvalho.
Entre os 99 atos, 20 deles são referentes a alterações nos comandos de brigadas pelo país afora. Na estrutura do Exército, o comando das brigadas é, de fato, quem lida com o dia a dia das tropas.