Recém-eleito líder da bancada evangélica no Congresso, o deputado Silas Câmara (PRB-AM) abriu seu coração nesta terça-feira (2) e fez uma série de críticas ao presidente Jair Bolsonaro (PSL).
Ele reclamou das “cotoveladas" presidenciais e disse que o Brasil esperava uma outra postura do chefe da nação.
Silas afirmou que as atitudes de Bolsonaro tornam mais difícil a aprovação da reforma da Previdência — uma preocupação que deveria ser mais do governo do que do Congresso.
Avaliando o recente quadro da economia, com dólar em alta, registros de queda na Bolsa e revisão do PIB para baixo, Silas pontuou:
"Isso tudo é fruto das cotoveladas dele, como no caso da briga com o presidente da Câmara”, disse. E completou: "O Brasil e o mundo esperavam outra coisa dele".
Em entrevista ao BuzzFeed News, Silas disse que é perigoso o presidente fechar os canais de diálogo com o Parlamento.
"Diz a Bíblia que a arrogância precede a ruína. Acho perigosa essa história do 'ninguém fala a verdade', 'as pesquisas são mentirosas', do 'só eu sei de tudo'. Essa coisa de a rede social é meu Deus e ninguém mais fora dela. Precisa de um freio de arrumação. Essa queda de popularidade, essas brigas… Não seriam um sinal de que é preciso parar e pensar no Brasil por um minuto?”, questionou o parlamentar.
Sobre a reforma da Previdência, Silas não se mostrou muito entusiasmado com a possibilidade de aprovação caso o governo siga com sua atual estratégia e com insinuações de que todos estariam procurando algum tipo benefício particular em negociações com o Planalto.
"O presidente está exagerando, está extrapolando. O problema não é o toma-lá-dá-cá. O problema é quem é o indicado no toma-lá. Nós mesmo da bancada evangélica não queremos cargos nenhum, mas não se pode colocar todos no mesmo saco. É preciso achar equilíbrio, reunir e ter discernimento. Essas insinuações [de toma-lá-dá-cá] nas redes sociais só desagregam", disse.
O deputado ainda criticou as entrevistas dadas pelo presidente em que ele questiona o que seria a articulação política, deixando implícito que ela se resumiria à distribuição de cargos e liberação de recursos públicos.
“O que é articulação política? É conversar e convencer. Ele não pode, após ser alçado ao Poder, ignorar que a vida segue e que o Brasil tem Três Poderes que precisam viver numa relação harmônica. Está faltando diálogo”.
Silas também afirmou que a bancada evangélica não irá fechar questão sobre a reforma da Previdência. Segundo ele, somente temas relacionados a costumes e família são consenso no grupo; o restante deve ser decidido pelos partidos políticos.
“Na campanha eu fui o primeiro a falar que essa história de negociar com as bancadas temáticas não daria certo. Nós podemos até discutir a reforma da Previdência, mas temos gente de todos os partidos”, disse.
Para o presidente da frente parlamentar evangélica, uma boa medida para a aprovação da reforma passaria pelo empenho pessoal de Bolsonaro.
“Ele era contra os 65 anos, agora aparece, pede perdão… e não faz nada além disso. Não passou a falar e defender isso. As redes sociais dizem que ele é popular? Os institutos dizem outra coisa. Mas tudo bem, vá então às redes sociais para defender a reforma.”
Questionado sobre a recente entrevista em que Bolsonaro falou que já fez sua parte enviando o texto da reforma para o Congresso e que a bola agora estava com os parlamentares, Silas foi taxativo:
"É muito fácil governar assim, não é? Quem precisa da reforma é ele, para o governo ser exitoso, não o Congresso”.
Na conversa com o BuzzFeed News Silas ainda sugeriu que uma pesquisa fosse feita entre os deputados para saber quantos parlamentares pediram audiências com os ministros e foram atendidos.
“Você ficará impressionado com a quantidade dos que pediram e, em 90 dias, não conseguem. O governo dizia que por colocar pessoas que não são da política tudo ia mudar, mas a verdade é que eles não têm respeito nenhum.”
Por fim, o parlamentar fez questão de dizer que as críticas à gestão são pontuais e que não seria possível ter uma avaliação sobre o governo nesse início de gestão. Segundo ele, ainda há tempo para azeitar as relações e dar um rumo para a administração.
"Ele ainda nem conhece a estrutura direito. Ele nunca foi do Executivo e os ministros estão fora do padrão de experiência. Deve-se dar um desconto por causa disso.”
E, por falar em críticas pontuais, revelou que nesta quarta-feira deve ser dia de uma nova.
Após as orações da manhã, a frente parlamentar evangélica irá divulgar uma nota reforçando a necessidade de o governo cumprir uma de suas promessas de campanha: transferir a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém.