O jornalista Glenn Greenwald, do site The Intercept, disse hoje (22) em entrevista à Rádio Gaúcha que a denúncia de que foi alvo ontem, na qual foi acusado de ter participado da invasão de celulares de autoridades, é parte de uma campanha do governo de Jair Bolsonaro para intimidar a imprensa.
O americano disse que, no início, estranhou a denúncia, pois a própria Polícia Federal – que responde ao ministro da Justiça, Sergio Moro – não havia enxergado crime em sua conduta durante a chamada Vaza Jato, a série de reportagens baseadas nas mensagens trocadas por autoridades que o Intercept obteve.
"Mas, quando ouvi que esse procurador que ofereceu essa denúncia [Wellington Divino de Oliveira] é o mesmo que denunciou Felipe Santa Cruz [presidente da OAB] e tentou criminalizar as críticas que ele fez contra o ministro Sergio Moro, ficou bem claro que isso é parte da campanha que o governo Bolsonaro faz desde o começo da nossa reportagem [a Vaza Jato] para intimidar, criminalizar o nosso jornalismo e atacar a imprensa livre de modo geral", disse Glenn.
Em 2019, o procurador da República Wellington Divino de Oliveira denunciou o presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) por calúnia depois de Santa Cruz ter criticado Moro. A denúncia foi rejeitada pela Justiça Federal este ano.
Na denúncia contra Glenn, o procurador defendeu que o jornalista "auxiliou, incentivou e orientou, de maneira direta, o grupo criminoso [responsável por copiar as mensagens], DURANTE a prática delitiva, agindo como garantidor do grupo, obtendo vantagem financeira com a conduta aqui descrita".
Na entrevista, Glenn foi questionado se é um criminoso. "Obviamente não, sou um jornalista, mas tem várias pessoas dentro do governo Bolsonaro que acreditam que o jornalismo é um crime, e eles disseram isso várias vezes, não só no nosso caso."
Glenn rebateu os argumentos usados pelo procurador. "Eu não dei conselho para a minha fonte, muito pelo contrário, eu disse claramente, 'olha, eu não posso te dar conselhos, não posso te dar sugestões', mas por outro lado é minha obrigação ética como jornalista para proteger a minha fonte, obviamente eu tinha a obrigação de avisar a minha fonte que estava gravando todas as conversas e estava mantendo as conversas em texto também", afirmou Glenn.
"Nunca dei nenhum conselho, nenhuma sugestão para apagar mensagens, mas, mesmo se eu o fizesse, isso não é um crime para proteger sua fonte, muito pelo contrário, é uma obrigação ética", disse.
Glenn também foi questionado se acredita que Sergio Moro esteja por trás da denúncia. "Eu não tenho evidência concreta, mas o que eu posso falar é o seguinte: desde o começo da reportagem [a série da Vaza Jato] Sergio Moro estava usando a linguagem para criminalizar o nosso jornalismo, sempre nos chamando de aliados dos hackers e nunca nos chamando de jornalistas", afirmou.
"E o presidente Jair Bolsonaro ameaçou várias vezes, usando meu nome explicitamente, que eu posso ir para a prisão. E também o mesmo procurador tentou processar criminalmente o presidente da OAB por criticar Sergio Moro", disse.
"Eu não sei se Sergio Moro foi parte dessa denúncia, mas eu sei com certeza que essa denúncia é parte da visão, da mentalidade e da ideologia do Sergio Moro e do Jair Bolsonaro, de abusar de seu poder para punir seus inimigos políticos."