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Aos 86, Marin, ex-presidente da CBF, é sentenciado a 4 anos de prisão nos EUA

Marin é o primeiro condenado no caso Fifa a receber uma sentença de prisão, e sua punição é um provável indicador de quão duramente a juíza federal Pamela Chen vai lidar com os demais réus.

José Maria Marin, que foi presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) de 2012 a 2015, foi sentenciado hoje (22) a quatro anos em uma prisão federal nos Estados Unidos por sua participação em um escândalo de corrupção envolvendo o esporte mais popular do planeta.

Marin havia sido condenado em dezembro por seis acusações de crimes como corrupção e lavagem de dinheiro. A juíza Pamela Chen também determinou que Marin pague uma multa de US$ 1,2 milhão e tenha US$ 3,3 milhões confiscados.

A Promotoria do Distrito Leste de Nova York tinha pedido que Marin fosse sentenciado a 10 anos de prisão.

A sentença é um marco na longa investigação norte-americana sobre corrupção no futebol internacional, conhecida como caso Fifa, que começou em segredo há oito anos. Embora mais de 20 indivíduos e empresas já tenham sido condenados no caso, apenas dois outros homens haviam sido sentenciados — e ambos eram figuras relativamente menores que se declararam culpados voluntariamente.

Marin é a primeira pessoa condenada no caso a receber uma sentença de prisão, e sua punição foi considerada um provável indicador de quão duramente a juíza federal Pamela Chen deve lidar com os numerosos réus remanescentes.

Outro cartola do futebol sul-americano, o paraguaio Juan Angel Napout, condenado em três acusações criminais pelo mesmo júri, deve ser sentenciado no dia 29.

Marin, um advogado de 86 anos, foi governador de São Paulo de 1982 a 1983. Ele jogou futebol profissional por um curto período e se tornou cartola no início dos anos 80, tornando-se presidente da CBF em 2012. No caminho, acumulou uma fortuna de mais de US$ 14 milhões — e, em um episódio notório, foi flagrado pelas câmeras da Band embolsando uma medalha que seria dada na final da Copa São Paulo de Futebol Junior de 2012.

Citando motivos de saúde, Marin renunciou à presidência da CBF em abril de 2015, e foi preso pouco mais de um mês depois em Zurique, como parte de uma ação da investigação norte-americana. Os promotores acusaram Marin de usar sua posição para indevidamente receber mais de US$ 3,3 milhões em propina e solicitar mais de US$ 7 milhões em troca de direitos comerciais para torneios de futebol, incluindo a Copa América, a Libertadores e a Copa do Brasil.

Contando com gravações secretas, testemunhas, e-mails, extratos bancários e outros registros financeiros, a promotoria apontou ao júri que Marin exigia pagamentos em troca de assinaturas em contratos de direitos, recebia fundos por meio de uma série complicada de transferências eletrônicas — e que, depois disso, gastava parte desse dinheiro em lojas de luxo, incluindo Hermès e Bvlgari.

Ao contrário da grande maioria dos envolvidos levados à Justiça no caso Fifa, Marin se recusou a se declarar culpado, insistindo em um julgamento.

Após seis dias de deliberação, os jurados condenaram Marin em seis das sete acusações, incluindo a de extorsão, indicando que ele conscientemente participou de uma conspiração para corromper o esporte. Os promotores descreveram a corrupção como "endêmica" ao esporte, com representantes de todo o mundo se reunindo para negociar subornos que tiraram do futebol "centenas de milhões de dólares" que poderiam ter sido gastos em ligas femininas e juvenis, por exemplo.

"Marin continuou com a corrupção de uma das organizações de futebol mais importantes do mundo, por ganância, e até agora não expressou remorso por sua conduta", escreveram os promotores na semana passada.

Marin poderia ter enfrentado uma sentença máxima de mais de 24 anos por seus crimes, mas sua idade avançada e problemas de saúde levaram os promotores a pedir menos (10 anos), disseram eles.

Os advogados de defesa de Marin, por sua vez, argumentaram que o tempo que ele já passou em detenção era suficiente. Enquanto lutava contra a extradição, Marin foi detido na Suíça por mais de cinco meses e está trancado no Centro Metropolitano de Detenção do Brooklyn desde sua condenação, totalizando quase 13 meses atrás das grades.

Esse tempo conta para o cumprimento da pena. Como o período de detenção também pode ser reduzido por bom comportamento, seus advogados acreditam que ele conseguirá cumprir apenas mais 28 meses (dois anos e meio) de prisão.

O caso, dirigido por uma equipe de procuradores do Distrito Leste de Nova York em conjunto com agentes da Receita americana e do FBI, é uma das mais ambiciosas investigações internacionais sobre corrupção e lavagem de dinheiro na história dos EUA, e ainda está em andamento.

Sua repercussão foi enorme em todo o mundo do futebol, derrubando de líderes de confederações de futebol em todo o continente americano e levando a renúncia de Joseph Blatter da presidência da Fifa. O caso também levou autoridades policiais de Suíça, Espanha, França, Alemanha e Austrália, entre outros países, a abrir suas próprias investigações, e diversas figuras de destaque no esporte foram acusadas de crimes nessas jurisdições.

A Fifa, por sua vez, anunciou inúmeras mudanças, forneceu informações aos promotores dos EUA e conduziu uma investigação interna para identificar outros possíveis problemas. Em um documento recente, advogados da instituição suíça disseram que gastaram mais de US$ 28 milhões com essa revisão e pediram a indenização desses custos a Marin e aos outros funcionários condenados no caso, acusando-os de orquestrar “uma campanha sem precedentes de corrupção".

Os advogados dos dois órgãos que supervisionam o futebol nas Américas do Norte (Concacaf) e do Sul (Conmebol) também apresentaram pedidos de indenização, dizendo-se “vítimas” dos crimes de seus ex-funcionários. No total, quatro grupos diferentes que reivindicam indenização pediram mais de US$ 120 milhões.

Ontem, a juíza Chen disse que conduziria uma audiência em 4 de outubro para determinar se alguém é vítima dos crimes revelados no caso e, se ela decidir que há alguma vítima, quanto dinheiro é devido e que parte desse total cada réu condenado no caso deveria ter que pagar.

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