Um dos comediantes mais populares da atual geração, Marcelo Adnet disse no Roda Viva desta segunda que é fácil caricaturar o presidente Jair Bolsonaro porque ele é exagerado nos gestos e tem um vocabulário limitado. "Bolsonaro quer passar uma impressão de poder e autoridade, mas ele é meio estabanado", disse, falando do processo de sua imitação do presidente.
"E usa só quatro expressões: no tocante a isso aí, nessa questão, tá ok, tem que ver isso daí”.
Dizendo-se de esquerda, ele afirmou que a esquerda se comunica mal – por um "discurso muito acadêmico", inalcançável por pessoas comuns – enquanto a nova direita brasileira se beneficiou politicamente do "preconceito ser comunicado com muita eficiência no Brasil" e Bolsonaro ocupou um vácuo ao replicar discursos como "homem é homem e mulher é mulher".
"Acho que o Bolsonaro sempre esteve em alta. Eu falava que ele ia ser eleito, ele já era uma tendência. Quando ele fez o voto do impeachment dedicando ao Ustra, quando ele saiu por cima, brindando pelas cores do Brasil, pensei que estava saindo um negócio poderoso. Sempre foi perigoso falar contra ele, é um pouco estressante, mas eu sirvo à minha convicção, não à conveniência. Faço esse programa por minha saúde mental também, pra botar pra fora o que penso".
Segundo ele, o atual governo tem um projeto de destruição das instituições culturais que lhe são críticas, através do desmonte de órgãos como o Ministério da Cultura. Ao ser indagado se encontraria o presidente caso fosse convidado, o humorista imitando Bolsonaro disse que não estava interessado.
Num dos momentos mais ásperos do programa, Adnet foi questionado por Marcelo Tas se o posicionamento político de um humorista (no caso de Adnet, declaradamente de esquerda) não prejudicaria seu trabalho e mencionou países autoritários como referência, caso da China e Cuba, que teriam um apoio de setores da esquerda.
"Então o humorista tem que ser de direita? Então na Libéria é um bom ambiente para o humor? Não entendi seu ponto", respondeu Adnet.
"Eu acho que quando o humorista tem que ser do contra. Quando ele se coloca partidariamente, ele perde um pouco do fio da navalha", retrucou Tas.
"Acho que ser de esquerda não tem nada a ver com China ou Coreia do Norte, isso é comunismo...".
Tas então interrompe o comediante e diz que Cuba é endeusado pela esquerda.
"Mas daí não é um problema meu", completa Adnet.
"Ao dizer que eu sou de esquerda, você não pode dizer que eu sou lulista. Isso é muito simplista [...] O problema, nessa questão aqui, é o que quer dizer ser de esquerda. Eu me considero progressista, então não sou um cara conservador. Acho que nossa sociedade precisa caminhar e romper algumas tradições, para que a gente tenha uma sociedade mais avançada. Mas eu entendi a sua crítica".
Adnet também foi questionado sobre as acusações de assédio moral contra Marcius Melhem, seu ex-companheiro em programas da Globo e que deixou a emissora no último dia 14, após mais de quatro meses afastado.
"Eu não sabia [dos assédios]. Se alguém me convocar para dar esclarecimentos, eu vou. Não tenho nada a esconder. Isso não tem que ser resolvido por um ator, de tomar uma decisão tão delicada, é uma questão mais séria. Se eu soubesse, certamente teria me envolvido e me engajado. Acho que essa não é um assunto de opinião ou ponto de vista. Se quisermos tratar com seriedade, tem que ser resolvidas institucionalmente, e não através da minha opinião".