Citado por Jair Bolsonaro como exemplo a não ser seguido, o presidente venezuelano Nicolás Maduro publicou na sua conta oficial do Twitter a informação sobre a produção da cloroquina que, segundo Maduro, é um "remédio eficaz no tratamento contra a COVID-19", indo de encontro com as ideias do presidente brasileiro. Estudos científicos discordam deles..
Nesta sexta-feira (15), Bolsonaro perdeu seu segundo ministro da saúde durante a pandemia de coronavírus. 28 dias depois da saída de Luiz Henrique Mandetta, foi a vez de Nelson Teich deixar o governo federal. Ambos divergiam de Bolsonaro sobre a prescrição da cloroquina no combate ao vírus.
No Brasil, já existem protocolos para a prescrição do medicamento em pacientes internados e com a anuência do paciente. O presidente, no entanto, quer que o remédio seja utilizado desde o início do tratamento contra COVID-19.
Nas redes sociais, Teich vinha sendo cobrado por bolsonaristas para "liberar a cloroquina". Na sua conta oficial do Twitter, o ministro explicou que já existem protocolos para o uso e que o remédio apresenta efeitos colaterais perigosos.
Na quinta-feira (14), o presidente da República, em reunião com empresários, passou por cima do seu agora ex-ministro e afirmou que os protocolos iriam mudar. Na conversa, Bolsonaro disse:
"Tô exigindo a questão da cloroquina agora também. Se o Conselho Federal de Medicina decidiu que pode usar cloroquina desde os primeiros sintomas, porque o governo federal, via ministro da Saúde, vai dizer que é só em caso grave? Eu sou presidente da República para decidir!".
No entanto, a recomendação do CFM deixa claro que "não há evidências sólidas de que essas drogas tenham efeito confirmado na prevenção e tratamento dessa doença".
A cloroquina é um medicamento imunomodulador, de uso controlado e prescrito no tratamento de doenças autoimunes, como lúpus, além de malária e artrite reumatoide e juvenil.
Uma das primeiras ligações entre cloroquina e coronavírus teve início na França, com a pesquisa do microbiologista Didier Raoult - que chegou a receber até uma visita do presidente francês Emmanuel Macron.
A pesquisa liderada por Raoult foi duramente critica por médicos e pesquisadores por não atender critérios básicos, como o número de pessoas envolvidas - 42, no total, e seis delas não foram incluídas na análise final pois morreram ou apresentaram problemas de saúde, interrompendo o processo.
Pesquisa recente do Journal of the American Medical Association (JAMA), com pacientes que utilizaram e não utilizaram o medicamento, apontou que não havia diferença significativa na taxa de letalidade. Já British Medical Journal (BMJ) afirmou em editorial que o uso do remédio no combate a COVID-19 é "prematuro".
A revista científica Lancet, que classificou Bolsonaro como "maior ameaça no combate ao coronavírus no Brasil", disse que não existem informações suficientes para atestar a eficácia da cloroquina.
Ainda não se tem detalhes precisos sobre o uso da cloroquina em pacientes com COVID-19. O que se sabe, ao certo, é que seu principal efeito colateral é arritmia cardíaca. A Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas publicou uma nota pedindo cautela com a cloroquina.
A defesa de Bolsonaro ao uso do medicamento fez com que isso se refletisse pelos estados no país. No Pará, um plano de saúde local fez um drive-thru para a entrega do medicamento a conveniados. Em Campina Grande, na Paraíba, o prefeito Romero Rodrigues, recomendou que a secretária de saúde implantasse um novo protocolo para que se utilizasse o medicamento em pacientes no início da fase de tratamento. Também há registro da falta de cloroquina em farmácias, o que é um problema para quem utiliza a medicação no combate a doenças onde o remédio tem sua eficácia comprovada.