Jovem que sai da escola antes de completar o ensino médio deixa de ganhar R$ 372 mil ao longo da vida, diz estudo

    "Se você acha a educação uma coisa cara, experimente a ignorância."

    Abandonar a escola antes de completar o ensino básico pode custar caro para o aluno que deixa os estudos e para a sociedade como um todo. É o que aponta a pesquisa “Consequências da Violação do Direito à Educação”, feita pelo Insper, em parceria com a fundação Roberto Marinho e a Oppen Social.

    Segundo os pesquisadores, cada jovem que sai da escola antes de completar o ensino médio deixa de ganhar R$ 372 mil ao longo da vida. Levando em conta a previsão baseada no PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de que 575 mil jovens ficarão de fora das escola em 2020, a previsão de perda financeira é de R$214 bilhões.

    "Quando falamos que tem uma consequência privada e social, é isso que queremos dizer [o abandono escolar custa caro]. Esse aluno que completa o ensino básico gera um benefício pra ele, mas também gera para o país. Então, a evasão é ruim para todos nós", diz a pesquisadora de educação do Insper e co-autora do estudo, Laura Muller Machado.

    Os valores levam em conta as consequências da evasão escolar em relação a emprego e salário, atividade econômica, saúde e violência. Como parâmetro, foi utilizado o ciclo de vida produtiva do indivíduo, que vai dos 25 aos 69 anos, e que ele terá um aumento de renda de 1% ao ano, consequência do crescimento econômico do país.

    De acordo com pesquisa, o jovem que conclui a educação básica deve acumular um rendimento de R$427,5 mil ao longo da vida. Já quem abandonar a escola antes de concluir o ensino médio, tem esse valor reduzido entre 30 e 35% – uma média de R$268,5 mil. Ou seja, o estudo aponta que a diferença de remuneração ao longo da vida, entre quem tem o estudo básico e quem não tem, está em R$159 mil.

    Outro ponto levantado pela pesquisa é que a evasão escolar afeta diretamente o PIB per capita. A estimativa feita pelos analistas é que "o acréscimo de um ano de escolaridade para toda a população elevaria o PIB per capita em cerca de 10%". Com isso, cada jovem deixa de injetar R$ 54 mil no PIB per capita nacional.

    A expectativa de vida dos jovens também é afetada pelo abandono da escola. Os números apontaram que quem conclui o ensino básico tem uma expectativa de vida, em média, 4,4 anos maior dos outros. Com uma expectativa de menor, os jovens que deixam a escola antes de completar o ensino médio perdem R$ 114 mil.

    A segurança é o quarto pilar da pesquisa. Os números apontaram que a evasão escolar evitaria, por ano, 550 assassinatos e que a violência gera uma perda de renda de R$45 mil para quem abandona a escola.

    Somados, esses pontos resultam nos R$ 372 mil. Segundo Laura, a saúde e o salário fazem parte da consequência privada, que afeta diretamente a vida do indivíduo, e o impacto no PIB e segurança são consequências sociais, que tem relação direta com o país.

    "O Brasil tem um problema sério de abandono do ensino médio. Ele é conhecido por todos e não temos conseguido evoluir. Já foram feitas diversas tentativas e não se teve um resultado. Quando uma pessoa conclui o ensino básico, ela tende a gerar um ambiente mais produtivo. Provavelmente, vai conseguir fazer mais inovações, ter mais oportunidades e servir de exemplo para o ambiente interno que convive", diz a pesquisadora.

    Na última quarta-feira (15), o PNAD divulgou uma pesquisa que apontava os motivos para os quais os jovens deixavam a escola. Dos quase 50 milhões entre 14 e 29 no Brasil, a maioria apontou necessidade de trabalhar, desinteresse e gravidez como motivos para abandonar os estudos. A pesquisadora explica que os dados do Insper refletem a consequência do abandono, já a pesquisa mais recente do PNAD são a causa.

    Laura diz que a pesquisa do Insper foi iniciada em dezembro, com um cenário pré-pandemia do coronavírus. Com o panorama de hoje, tudo tende a ficar ainda pior.

    "Os dados concretos estão na pesquisa, mas não vejo melhora num futuro próximo, essa é a minha opinião. Com a pandemia, a condição piora e muito. Vamos ficar mais pobres e mais desiguais. Não estávamos preparados para aulas on-line, temos vários relatos de alunos e professores com dificuldades, de conexão, concentração, etc. Aquele jovem que estava na linha entre 'abandono ou não abandono a escola', esse foi o ponta-pé".

    A solução apontada pela pesquisadora é a prevenção.

    "Os números apontam que 1 em cada 5 jovens deixam o ensino básico. Precisamos identificar esses jovens, entender os motivos e trabalhar para evitar a evasão. Isso é responsabilidade das secretarias [municipal e estadual] que cuidam do ensino básico. Os números que apontamos não mudam, o que pode mudar é a quantidade de alunos".



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