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João Lucas viu a destruição causada pelo coronavírus no Equador. Agora teme que isso se repita no Brasil.

"Lá é quente e o pessoal tem o costume de ficar nas ruas, como no interior do Brasil. Mesmo com as medidas impostas, demorou para as pessoas ficarem em casa e os casos subiram muito rápido", conta o brasileiro.

A cidade de Guayaquil, na província de Guayas, é o epicentro do coronavírus no Equador. Até o último domingo (5), a província registrou 2.534 casos, 67% dos casos de todo o Equador, e 126 mortes. Os óbitos causaram um colapso no sistema de saúde e funerário, com pessoas morrendo em casa e corpos sendo jogados na rua.

O BuzzFeed News conversou com o engenheiro de pesca brasileiro João Lucas Rocha, 24, que esteve na cidade até o dia 27 de março a trabalho. Ele conta que no Equador a crise gerada pelo coronavírus escalou muito rapidamente.

"Eu cheguei a Guayaquil em janeiro, para uma viagem à trabalho. Já se tinha uma preocupação com coronavírus, mas era algo leve, para lavar as mãos, evitar tanto contato pessoal etc. Eu mesmo não dava muito bola. Mas a coisa foi passando, os primeiros suspeitos foram aparecendo e, no dia 15 de março, tudo mudou. Teve toque de recolher, só se podia sair para ir ao mercado ou na farmácia, todos usando luvas. Foi aí percebi que a situação era séria", disse Rocha.

Com cerca de 2,2 milhões de habitantes, Guayaquil é uma das principais cidades do Equador, com o maior porto do país. O engenheiro faz uma comparação com São Paulo e relata como a situação se degringolou tão rápido na cidade.

"Fazendo um paralelo com o Brasil, Guayaquil é uma São Paulo, o coração econômico do país, uma cidade rica e com muita desigualdade. Por ser uma cidade quente, o pessoal tem o costume de ficar nas ruas, como no interior do Brasil. Mesmo com as medidas impostas, demorou para o pessoal ficar em casa e os casos subiram muito rápido. Quando a transmissão começou pra valer, muita gente que tinha o vírus passou pra família inteira em casa, principalmente na região sul, a mais pobre da cidade. Muita gente foi morrendo em casa, o socorro era chamado, mas não dava conta. Daí foram acontecendo as cenas que todo mundo já viu, de corpos nas ruas, muito urubu na cidade, bem chocante".

Rocha diz também que era comum ver pessoas abraçando caixões ou tendo contado com vítimas infectadas. O brasileiro conta que outro fator que atrapalha a situação na cidade é o grande número de fake news, como vídeos falsos de saques e ruas abarrotadas de corpos.

No dia 27 de março, ele conseguiu retornar ao Brasil num voo de carreira providenciado pelo Ministério das Relações Exteriores, que partiu de Quito para Guarulhos, em São Paulo. O engenheiro conta que tomou um susto ao chegar no país e ver uma situação bem diferente do Equador.

"Eu não tinha muita ideia de como estava no Brasil. Quando cheguei, me senti no país das maravilhas, como se aqui estivesse tudo ótimo. Ninguém de máscara, nem o piloto do avião, o aeroporto funcionando sem muita restrição. Quando cheguei, o máximo que fizeram foram medir minha temperatura. É estranho ver que o pessoal aqui não está se cuidando tanto".

Agora, Rocha está em Florianópolis (SC), onde trabalha de casa prestando consultoria à uma empresa de comércio de pescado. Ele diz que, vendo a situação do Brasil e com a experiência vivida no Equador, seu principal medo é com as classes mais pobres.

"O coronavírus atinge principalmente as classes menos privilegiadas, que não podem ficar isoladas, que são obrigadas a sair de casa para trabalhar, que não têm acesso a hospital, por exemplo. Mesmo com as medidas que os governos tomaram, é difícil você se isolar na favela. Isso é realmente preocupante."

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