A artista brasileira Marina Amaral, 25, vem colorindo retratos anteriores à abolição da escravatura (1888) de pretos e pretas brasileiros. Os registros originais haviam sido feitos pelo alemão Alberto Henschel em meados do século 19, no Rio e no Recife.
Marina, que fez outros trabalhos de colorização, incluindo fotos do campo de extermínio de Auschwitz, disse ao BuzzFeed News que sempre teve o desejo de fazer algo relacionado à história do seu país.
Abaixo, Marina explica como foi feito esse trabalho.
"A escolha das fotos, em geral, é feita não só de acordo com o meu interesse pessoal no tema em questão, mas também é dependente da disponibilidade dessas imagens. Trabalho com fotos que sejam de domínio publico, e elas precisam ter uma certa qualidade para que o resultado final seja satisfatório. Depois de ter o tema e as fotos, começo uma pesquisa histórica para tentar encontrar o maior numero possível de referências visuais que me permitam reproduzir cores próximas das cores originais. Nem sempre isso é possível, como no caso da série da escravidão."
"Precisei fazer escolhas artísticas que foram baseadas na minha experiencia, observação e algumas fotografias modernas, mas, como não há registro de quem são aquelas pessoas nas fotos, não consegui fazer uma pesquisa muito aprofundada. Depois, inicio o processo de restauração e colorização. Posso passar horas, dias ou até semanas trabalhando em uma mesma foto, pois o processo é todo manual. Não existe nada automático."
Marina divulga seu trabalho também pelo Twitter, o que fez com que o conteúdo viralizasse nas redes.
"Eu fico feliz pela repercussão, porque o meu objetivo era fazer com que aqueles rostos fossem conhecidos, e que principalmente a história por trás dessas fotos fosse discutida."
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Vejo o meu trabalho como uma ferramenta que me permite dar cores e voz a temas que julgo serem importantes. Gosto de usar a visibilidade que eu tenho para levantar questões pertinentes, fazer pensar."
"As cores ajudam a criar empatia e uma conexão emocional que nem sempre existe com as fotos monocromáticas, o que faz com que seja mais fácil compreender a nossa história."
"Acredito que ao olhar para aqueles homens e mulheres em cores, compreendemos que a escravidão afetou seres humanos. Eles não são números, estatísticas ou apenas personagens em livros de história. São vidas que foram altamente exploradas, violentadas e muitas vezes destruídas."
A colorista digital disse que as fotos estarão presentes numa coletânea. Esse será o segunda livro da artista, que já lançou "The Colour of The Time: A New History of The World - 1850-1960 (A Cor do Tempo: Uma Nova História do Mundo, em tradução livre) no mesmo formato.
"Vou lançar o meu segundo livro em maio do ano que vem. O primeiro entrou pra lista de bestsellers na Europa e foi muito bem aceito. É um projeto em colaboração com o historiador britânico Dan Jones que me da muito orgulho!"