Um professor teve sua foto exposta na internet por um aluno da Etec (Escola Técnica Estadual) Taubaté, no interior de São Paulo, após levar um jornal chamado "Viva Zumbi!" a escolas em que trabalha, na Semana da Consciência Negra, no mês passado.
Desde então, vereadores e o grupo Movimento Conservador de Taubaté estão pedindo que o professor seja afastado da sala de aula.
O jornal "Viva Zumbi!" tem cinco anos e é publicado sempre no mês de novembro, com informações históricas e notícias relacionadas ao povo negro.
Ronaldo Santos, que é professor de biologia, contou ao BuzzFeed News que se sentiu indignado ao ver sua imagem na internet.
"O jornal trata da temática de Zumbi dos Palmares e da história do negro no Brasil. Conforme ia para as salas, comentava sobre a publicação e falava que era alusivo a data e que quem quisesse poderia pegar", disse o professor.
"Só vi a minha foto depois, rodando na internet", disse Santos ao BuzzFeed News.
"Comuniquei imediatamente a escola e o diretor, que me chamou para uma conversa dizendo que um aluno teria procurado ele para dizer que não gostou do conteúdo", afirmou o professor.
"Isso porque eu nem passei na sala desse aluno, esse rapaz divulgou minha foto que foi tirada por outra pessoa, enquanto eu ministrava um seminário", disse.
"A foto foi tirada e exposta de forma totalmente covarde, minha imagem foi exposta, enquanto eu trabalhava e eu nem tive ciência disso."
Entre os textos que constam da última edição do jornal, que se apresenta como um "projeto informativo para combater o preconceito, o racismo e a desigualdade social", há críticas ao governo Bolsonaro e a programação de eventos sobre a Consciência Negra em Taubaté.
"Está um pouco desagradável dar aula, é uma situação muito constrangedora. Eu não quero mais dar aula para esse aluno específico, não tenho condições psicológicas. Quando você menos espera, ele pode tirar uma foto e me expor."
O grêmio estudantil da Etec Taubaté emitiu uma nota de apoio ao professor.
"Outros professores, alguns que inclusive tem discordâncias políticas comigo, demonstraram apoio e se disseram assustados com essa perseguição. Eu entendo, é muito desagradável dar aula com medo de ser exposto desse jeito. Em nenhum momento eu fiz campanha ou dei minha opinião sobre algo", disse Ronaldo.
No Twitter, a deputada federal bolsonarista Carla Zambelli (PSL-SP) divulgou trechos do jornal, criticando seu conteúdo.
A vereadora Vivi da Rádio (PSL) discursou na Câmara de Taubaté atacando o jornal – especialmente o artigo "Bolsonaro, um governo contra os negros"– e o professor e disse que o projeto Escola Sem Partido precisa ser instituído na cidade.
"A gente [os vereadores de Taubaté] vai ter que colocar esse projeto [o Escola Sem Partido] por conta de pessoas sem cérebro, por conta da falta de respeito de alguns professores abusados, esquerdistas, que não se conformam com o respeito que a gente tem que ter às crianças nas escolas", disse a vereadora.
Vivi da Rádio disse que "vários pais se manifestaram" reclamando porque seus filhos chegaram com o jornal em casa.
"A diferença do negro para o branco é que ele demora mais para envelhecer, tem o dente mais branco, o corpo mais bonito, mas a mesma capacidade de inteligência", disse a vereadora.
"Para de desrespeitar os negros, professor. Para, porque isso aqui sim é racismo", disse ela, exibindo o jornal em mãos. "Não existe isso no governo Bolsonaro. Chega de mimimi. Chega de ficar criando fake news", afirmou.
"A época de ficar pregando o comunismo nas escolas acabou", disse a vereadora. O BuzzFeed News tentou entrevistá-la, mas ela não respondeu aos recados deixados com sua assessoria.